1.23.2011

QUINARA - O TESOURO DO INCA.








Quinara. Os moradores relatam a caminhada de sete mil incas que carregavam o tesouro dos Templos do Sol, do reino de Quito, indo por essas trilhas, habilmente construídas, com destino a Cajamarca: ouro para o resgate de Atahualpa. 
Quando um grito de dor ecoou pelas terras do Tahuantinsuyo: "Chaupi punchapi rutayaca!”, “Anoiteceu ao meio dia! - grito que, desde a cidade de Cajamarca se estendeu pela terra. Com a notícia da morte de Atahualpa, Quinara, capitão de seu exército, enterrou, no próprio vale que estavam atravessando, o ouro que levava, daí surgindo o nome do lugar.

O Vale de Quinara está situado a uns cinquenta quilômetros da cidade de  Loja, a sudoeste, no Equador. O lindo lugar é explorado, turisticamente, misturando a beleza das flores exóticas a construções coloniais transformadas em hospedarias. Chega-se a Quinara através dos vales de Malacatos e Vilcabamba. 


De Loja podemos pegar um ônibus no terminal rodoviário ou um táxi-ruta, que transportam turistas até a cidade. De carro, os turistas têm duas opções: 1) estrada Loja - Vilcabamba - Masanamaca - Quinara, uma hora de distância. 2) A estrada Loja -Vilcabamba - Linderos - Tumianuma - Quinara, que leva uma hora e meia. O Pilar do Inca, as Pilastras do Inca e a Caverna do Inca, são lugares para se visitar. 


Quinara está a 1.300 metros acima do nível do mar e tem uma temperatura média de 21  graus centígrados. O  vale é  um lugar  ideal para  se  viver: clima  temperado,  ar fresco, alimentos orgânicos que permitem aos moradores uma vida longa e tranquila; um deles  tem mais  de cento  e  doze  anos,  tendo  passado sua  vida rachando lenha e 
plantando; comendo, apenas os alimentos que produzia...........

Esse clima bucólico embala uma das lendas mais tradicionais do lugar, muito contada pelos moradores das velhas casas das fazendas do povoado. Ainda restam as pedras removidas em escavações realizadas pelos caçadores de tesouro. A lenda do tesouro perdido começa em Quinara, onde empresários nacionais e estrangeiros tentaram desenterrar o ouro de Atahualpa que, segundo relatos, está em algum lugar do Vale banhado pelo rio Piscobamba. Até ali chegaram muitos historiadores que afirmam que "el mascarón", uma rocha de três faces, marca o lugar onde o tesouro está enterrado. A rocha está como base de uma antiga casa de fazenda, cujo proprietário tinha a fama de possuir uma parte do cobiçado tesouro que, no entanto não teria sido encontrado na totalidade.
O primeiro dono do imóvel foi Amador Eguiguren e depois de sua morte, seu filho Manuel Enrique. Anos mais tarde, com a reforma agrária, a fazenda foi dividida, sendo que, logo depois, Manuel também faleceu.
Os vestígios das escavações realizadas, ainda, permanecem no local, de onde Huasaque é um dos setores mais revirados: no conglomerado existem várias esculturas esculpidas pela ação do tempo.
É só falar com um dos habitantes para descobrir a história dos "siete huangos"( sete peças de ouro), ou carregamentos de ouro, enterrados em Quinara; percorrendo a velha Trilha Inca que passava pela Tuna, o Pico Azul e o Charalapo, todos lugares assim chamados em homenagem aos Incas. 
Quinara, estava bem perto de Cajamarca, já passara Cuxibamba e agora estava superando Vilcabamba (Wilcopamba), quando surge a notícia do assassinato de seu imperador. Ele descarrega a enorme carga de ouro que ele transportava, define um ponto concêntrico equidistante a um comprimento de som de apito a partir das três faces da rocha em três montanhas que cercam o vale sob as dobras da serra. Nesse ponto específico, ele enterra o tesouro, juntamente com as llamas. Antes devolver o ouro a Pacha Mama, do que aos traiçoeiros espanhóis.




                                                                            

1.22.2011

A CORRENTE DE HUASCAR E O TESOURO DE ATAHUALPA

 





Conta a História, com o aval de dezenas de registros de cronistas espanhóis e mestiços dos  primeiros  anos  da  Conquista,  que  o  Inca   Huayna  Capac,  no  apogeu  de  seu governo,   quando  o   império   havia  expandido  ao máximo  seus  domínios,  mandou fabricar   uma "waska" ( corda ou corrente,  da  qual  deriva  o  nome  Huascar )  -  de uns  200 metros  de  comprimento (1) com a grossura de um punho de homem, coberta de  placas  de  ouro  articuladas,  simulando  as   escamas  de  uma  pele de  cobra,  que cintilava  ao  sol. Nessa  época, Cusco  brilhava  com  seus  telhados  de  ouro  e com  as placas,  do   mesmo   metal,   que   revestiam   as   paredes   de  seus  edifícios.            (2)
A corrente de ouro foi mostrada em uma festa, na qual foi nomeado o primogênito, na Capital do Império, circundando toda a Praça Aucaypata, erguida pelas mãos dos nobres. Em meio a cânticos e hinos ao Sol, o futuro herdeiro do trono foi apresentado, em uma espécie de cerimônia de batismo ou "sutichay" para, futuramente, ser coroado como Huascar Inca, no momento da morte de Huayna Capac. 
Huascar Inca chegou a ocupar, no curto tempo de seu governo, o Palácio de Amaru Cancha, em Cusco (atual Universidade de Cusco, Capela de Lourdes e o Templo da Companhía de Jesus); nesse palácio, em uma sala sagrada, era guardada a corrente: a dos amarus ou serpentes. 
É possível que, com a guerra dos dois irmãos, Huascar e Atahualpa, a corrente tenha sido levada para Quito (3), ou como parte do resgate de Atahualpa ou, ainda, levada pela família do Inca ao fugir da cidade (rumo a Paititi).


Mas, onde, afinal, estaria escondida a corrente? 


Há relatos de que, ao saber-se da invasão espanhola e sua cobiça por ouro (tão desmedida era essa sede de ouro que, entre os andinos, criou-se a lenda de que os espanhóis alimentavam-se de ouro e prata em lugar de comida) (4), uma ordem foi dada para que se escondesse a corrente e que isso pode ter sido feito em uma lagoa, Canincunca (Q'oyllururmana), também chamada lagoa de Urcos. Desde então, tanto durante a época colonial quanto agora, todos a têm procurado; dezenas de empresas particulares já tentaram drenar a lagoa, sem sucesso, em busca da mítica corrente de ouro; alguns arqueólogos tentaram, pela última vez, há poucos anos. 
Como se sabe, os conquistadores não cumpriram a promessa de libertar Atahualpa, caso o resgate em ouro fosse pago, assassinando o prisioneiro soberano Inca. As noticias transitavam,  com rapidez, através do Império. Como resultado, o incessante envio de ouro e prata parou e, nesse ponto da história a lenda do tesouro de Atahualpa começa a nascer... Em Cajamarca, Pizarro e em Pachacamac, seu irmão Hernando, reuniam o cobiçado ouro mas, a maior parte das riquezas não chegou. Apesar de todo o ouro que usurparam, havia muito mais...


                                                           
                       General Rumiñahui




Um dos principais comandantes do exército de Atahualpa era Rumiñahui, que havia nascido em Quito, no ano de 1486, e que muitos historiadores asseguram ter sido meio-irmão de Atahualpa, ou seja, filho do Inca Huayna Capac. Nesse momento da história, Rumiñahui lutava contra Sebastián de Benalcázar, que fora encarregado de marchar contra ele. Sebastián havia enviado um mensageiro com uma cruz e uma oferta de paz - o cadáver fora devolvido, como resposta. Rumiñahui havia visto, em Cajamarca, um símbolo igual, nas mãos de um monge sinistro que acompanhava Pizarro. 
Rumiñahui reune, então, seus soldados e incita-os a lutar. Pode-se imaginar sua voz forte alertando-os contra esse inimigo, astucioso, que mentia e enganava por ouro, que estuprava mulheres e confiscava terras. Fortalecidos pela necessidade de combater por suas vidas e pelas vidas de suas mulheres e filhos, saem ao encontro dos usurpadores nas planícies de Tiocajas.
Apesar do lugar favorecer o inimigo - os espanhóis podiam movimentar-se, com facilidade, com seus cavalos, nessas planícies - e de ter, este mesmo inimigo, feito uma aliança com o povo Cañari, o que reforçava seu efetivo estrangeiro, os homens de Rumiñahui conseguem anular seu poder de força e, cada vez que matam um cavalo, cortam-lhe a cabeça para mostrar que, por sua vez, estes são mortais. 
Uma terrível batalha, que parava ao anoitecer, ao cair do sol, e continuava no dia seguinte, era travada e as planícies começavam a tornarem-se cheias de armadilhas para os espanhóis com seus cavalos, cobrindo-se de sangue e morte.
Ao que parece, alguém ensina a Benalcázar um caminho seguro para fugir até Riobamba. Rumiñahui decide, então, atacar a cidade. Na hora do ataque, o vulcão Tungurahua entra em erupção. Em meio ao caos, enquanto as pessoas fugiam, aterradas, sob a chuva incandescente, indefesas, os espanhóis matavam-nas, sem piedade.
Rumiñahui retira-se, então, com seus soldados, até Ambato. Dalí, segue para Quito, onde tratará de abrigar os feridos e, no caminho, esconde o tesouro de Atahualpa na região sul de Sigsig, no sopé da cordilheira oriental dos Llanganates.







A VOLTA DO FANTASMA DE RUMIÑAHUI
NOTÍCIA RECENTE!!


(Serviço Informativo Iberoamericano - outubro de 1999)
O acidente de um helicóptero, no qual viajavam quatro arqueólogos, no sul do Equador, revelou que buscavam o ouro do imperador Inca Atahualpa, que foi escondido, há vários séculos, em um local nunca revelado. 
Os cientistas pertencem a um grupo de quatorze pesquisadores da Associação dos Pesquisadores da Marinha das Índias e do Instituto de Arqueologia Náutica da Universidade do Texas e da Fundação Widam; desde novembro de 1998 realizam pesquisas sobre o famoso tesouro.
Os pesquisadores, desde essa época, vivem na área mais ao sul de Sigsig, no sopé da Cordilheira Oriental ou Llanganates, onde presume-se que o guerreiro Inca Rumiñahui tenha escondido o ouro no Reino de Quito, o que seria o pagamento de resgate de seu irmão, o imperador Atahualpa, assassinado pelos espanhóis em Cajamarca.


Os arqueólogos acreditam que, embora exista um pouco de lenda, de fato, há elementos verossímeis e uma boa possibilidade de que o ouro esteja na área de Sigsig, onde também estão estudando vestígios antropológicos e arqueológicos.
O chefe da missão, Michael Paret, disse que, após investigação no Archivo das Indias, em Sevilha, descobriu a história de Ayllón (Sigsig) e da "lagoa encantada", na qual, aparentemente, poderiam estar escondidos os objetos de ouro que iriam servir como resgate de Atahualpa.
Paret afirma que, de acordo com o estudo realizado no Museu da Índia e com base em comparações de escritos sobre o tesouro, ele existe. ''Pode ter-se criado uma lenda em torno dele, como sempre acontece com fatos históricos como esses, mas o fato ocorreu e o ouro deve estar em algum lugar. Está provado que os escritos que se referem ao resgate de Atahualpa são noventa por cento verdadeiros.''
O primeiro passo da pesquisa foi encontrar evidências de restos humanos, da época, no fundo do lago Sigsig mas, enquanto realizavam as investigações, foram surpreendidos por um grupo de mineiros que extraem ouro no lugar, de forma artesanal, que quiseram expulsá-los por pensarem tratar-se de mineiros estrangeiros. Isso obrigou-os a solicitar proteção às autoridades locais e a contratar um helicóptero, para que, concluída a primeira fase, pudessem deixar o local sem ter de passar pela área de mineração. No entanto, apenas quatro conseguiram sair porque, na segunda viagem, enquanto viajava de Sigsig para Gualaceo, o helicóptero acidentou-se, devido a uma rajada de vento que o desestabilizou, atirando-o nas águas da chamada "lagoa encantada". Os quatro arqueólogos americanos, feridos, conseguiram salvar-se.
Para alguns moradores locais, o acidente foi causado pelo espírito de Rumiñahui, que não permitirá que o segredo seja descoberto. Rafaela Curuchumpi, uma das moradoras da área, acredita que não se deva brincar com os fantasmas dos antepassados, o que pode trazer má sorte. "Por que procurar um tesouro que, seguramente, foi levado pela lagoa e é protegido pelos bravos guerreiros de Rumiñahui. Essa ambição pode ser muito negativa", disse ela.


Outro expedicionário famoso foi Ralf Blomberg , nascido na Suecia, em 11 de novembro de 1912. Foi explorador, escritor, fotógrafo e cineasta. Faleceu no Equador em 1996. Realizou 6 perigosas expedições em busca do tesouro escondido por Rumiñahui. Sua obra mais importante foi Guld att hämta ( Oro enterrado y anacondas) , Gebers, Estocolmo, 1956. Também produziu  dois documentários sobre o mesmo tema: Jakt på Inkaguld ( En busca del Oro Inca) Rolf Blomberg & Torgny Anderberg Formato: 16mm Ano: 1969.
(por Kintto Lucas, Correspondente do Serviço Informativo Iberoamericano da OEI, Quito, Equador)




(1) Alguns autores chegam a afirmar 700 pés. 


(2) talvez através do túnel que saía desde o Qoricancha (Templo do Sol), em Cusco e que levava até Quito (Equador), a existência desse túnel ainda está sendo pesquisada por arqueólogos.

(3) “Temos absoluta certeza - diz o cronista Cieza - de que nem em Jerusalém, nem em Roma, nem na Pérsia, nem em qualquer parte do mundo, por qualquer república ou rei do mundo, havia tanta riqueza de metais de ouro e prata e pedras preciosas reunida em um só lugar como nesta praça de Cuzco ". (cronista Pedro Cieza de Leon, La Cronica del Peru).

(4)  Poma de Ayala , Nueva Crónica, l6l5, pág. 369,370


 BIBLIOGRAFIA


1) Eliade, Mircea, "El mito del eterno retorno", Ed Alianza, 2000 
2) Pease, Franklin, "Los últimos Incas del Cuzco", Alianza, l99l


ver também: Rivero y Tschudi, Antigüedades peruanas p. 213). (Citado por Memorias sobre las antigüedades neogranadinas : Uricoechea Ezequiel) 


OBSERVAÇÃO: Esta foi uma de minhas primeiras pesquisas e eu, ainda, acreditava que o povo remanescente que ocupa toda a região andina fosse, de alguma forma, Inca. Não é verdade. Os Incas estão, infelizmente, extintos. Afinal, precisamos fazer uma diferença entre os Incas e os povos que eram 'incas' por agregação, vivendo com o povo inca, obedecendo suas leis e participando como se lhe pertencesse, porém, sem ser, verdadeiramente, inca. Os Incas casavam-se uns com os outros, sem misturar-se, pois isso era necessário por serem Intipchurin, Filhos do Sol. Como em todas as postagens que eu escrevo este assunto é retomado e explicado, não vou me estender aqui. Portanto, todos os povos andinos, que falam Quechua e Aymara não são Incas, embora continuem, guardando, como podem, o que restou de memória, cultura e, principalmente, segredos. Valorosos guardiães do tesouro Inca que precisa ser preservado para a volta dos Filhos do Sol, como  acredita-se que ocorrerá proximamente. Essa volta só pode ser entendida quando nós compreendemos o que significa ser Inca e acreditamos que eles sejam mesmo os Filhos do Sol e analisamos o milagre de sua presença na Terra. Assim, como um dia, do nada, eles chegaram como duas crianças divinas para iniciar uma Nação, deverão voltar para retomar sua tarefa, depois dos últimos quinhentos anos de 'inversão dos mundo'. Mas, essa é uma outra história...









1.21.2011

A LENDA DO HUINGAN (HUINGAN CÓ)





LENDA DO HUINGAN




Nos tempos antigos, um dos primeiros Incas empreendeu uma viagem aos confins do sul imperial que ia até o Norte do Neuquén. Depois de desfrutar das águas termais de Domuyo, ao continuar mais para o sul, tentando atravessar o caudaloso Neuquén, o Inca foi arrastado por um repentino vendaval e seu corpo desapareceu. Todos o procuraram, cheios de dor e desespero, por todos os recantos e remansos do rio, sem poder encontrá-lo, sofrendo fome, sede e os rigores do sol sem sequer achar nenhuma árvore, em seu caminho, para protegê-los.


Ao chegar a uma grande curva do Neuquén, onde ele, repentinamente, muda, para o oeste, encontraram um belo vale com muitos arbustos tão verdes como nunca haviam visto. Puderam, então, à sua sombra, aliviar o cansaço e saciar a fome com os frutos negros e picantes desse desconhecido arbusto.
Ao cortar galhos para lenha, descobriram que sua madeira branca mostrava, no centro, uma cor avermelhada, de sangue, que desbotava em contato com o ar. De suas feridas escorria uma espessa seiva leitosa que, quando misturada aos frutos negros produzia uma forte "chicha" (bebida) que lhes dava prazer e euforia, levantando o ânimo dos soldados imperiais. Compreenderam, então, que esta planta rara era um presente de seu Inca e um sinal de que não o procurassem mais, pois ele iria viver para sempre no vale e nessa planta. Deram o nome de "Inca Am" (Am= alma, espírito) ao arbusto, do qual deriva Huingán ou Huincán, que significa "Espírito ou Presente do Inca".








O RESGATE DE ATAHUALPA




                                                           o quarto do resgate






Quando Inca Atahualpa foi feito prisioneiro em Cajamarca, os espanhóis exigiram um resgate para libertá-lo; para isso deveriam encher com ouro, até a altura de seus dedos estendidos para o alto, o quarto onde estava prisioneiro - ele era bem alto.
A ordem de trazer todo o ouro que se pudesse para libertar o Filho do Sol correu por todo o Império.


Desde a região do Milla Michi Có ("Oro bajo el agua") partiu uma grande caravana de llamas carregadas de ouro, mas a notícia de que os espanhóis haviam matado Atahualpa os pegou no caminho; a ordem, então, foi esconder o ouro. O líder da expedição sabia que, no alto da Cordilheira do Vento havia uma pequena lagoa de onde nascia o arroio Huingan Có (arroio do espírito ou alma do Inca) e no fundo das colinas que a rodeavam, meio escondida pela neve, havia uma grande caverna. Ordenou que o ouro fosse levado para lá e mandou emparedar a caverna com grandes pedras, perfeitamente esculpidas. Antes de colocar a última, todos, se trancaram nela, para converterem-se em eternos guardiães do tesouro de seu sagrado Inca. Apenas um, encarregado de pôr a última pedra e selar a entrada, cobrindo-a com pedras, lama e neve, ficou do lado de fora, para, depois, regressar ao Cusco levando a notícia.




                                           Arroyo Huingan Có, que forma a lagoa homônima




Aqueles que sabem dizem que, no fundo da "Lagunita de Huingan Có", depois de invernos com pouca neve e verões quentes, ao retirar-se a neve, pode-se ver, ao pé dos morros, a misteriosa imagem de uma porta. Os poucos que a viram dizem que é feita de blocos de pedra tão bem esculpidos e polidos que seria impossível fazer penetrar entre eles uma lâmina de faca.
Ali continua o tesouro de Atahualpa, guardado por seus incas-guardiães...








                            Vista da entrada de Huingan-có rodeada de plantações de pinheiro.

                    ARGENTINA: (JARDIM DE NEUQUEN) LAGUNITA DE HUIGAN CÓ 


*








A LENDA DOS SOLDADOS PURURAUCAS (YAWARPAMPA).









No ano de 1438, um inevitável confronto colocou Incas e Hanan Chancas em um mesmo campo de batalha. Os sanguinários Hanan Chancas eram temidos porque, se vencessem, certamente, submeteriam os vencidos a um ritual macabro de tortura, no qual seriam, lentamente, escalpelados vivos. Depois, seus crânios serviriam como taças de onde seus algozes beberiam seu sangue. Sua fama fazia tremer qualquer povo, não seria de admirar que fossem respeitados ao extremo. Pela primeira vez, o Cusco estava em absoluto perigo; um deslize e o povo Inca seria exterminado. Quarenta mil homens de guerra, liderados por Anco Huayllu, avançaram até cercar a cidade. 

Nesse momento o pânico tomou conta e o Inca Wiracocha foi obrigado a refugiar-se, com a familia e alguns nobres, no Collasuyo. Tudo parecia, irremediavelmente, perdido. No entanto, o príncipe Cusi Yupanqui ficou para defender a cidade, liderando uma resistência inspirada tanto na ousadia de uma  estratégia diplomática de conduzir o inimigo a um improvável armistício quanto na audácia do enfrentamento no campo de guerra. Primeiro ele tentou oferecer a paz aos sitiadores, tentando ganhar tempo para reunir aliados; enquanto isso, tentava pôr em prática uma desesperada estratégia.
Conta a lenda que, Cusi Yupanqui postou seu exército em Yawarpampa (Campo de Sangue) e enquanto esperava pelo exército inimigo, ordenou que se fizessem montículos de pedra para parecer, à distância, que fossem soldados e que o exército fosse muito mais numeroso do que, realmente, era. Então, em plena batalha, os montículos de pedra  tornaram-se reais, pela vontade dos deuses, dando, aos Incas, a vitória, tanto na batalha quanto na guerra. Nesse dia morreram vinte e dois mil chancas e oito mil cusquenhos.
Talvez, a História possa explicar a lenda, sugerindo que "os montículos que se tornavam soldados de verdade" fossem, apenas, a tão sonhada ajuda solicitada pelo príncipe Cusi Yupanqui, aos povos vizinhos, que teriam resolvido juntarem-se aos cusquenhos em plena batalha, fazendo parecer que a pedra ganhava vida.
Naquele dia, foram recebidos como heróis na Praça de Armas do Cusco e o príncipe assumiu o poder com o nome de Pachacutec.








1.20.2011

DESPERTA, INKA ATAHUALLPA!!! HATARIY, SAPA INKA ATAWALLPA!!



Los Funerales de Atahualpa (Museu de Arte de Lima/Peru)
Os Funerais de Atahualpa (Museu de Lima/Peru)







Quando a luz do sol se apagou, no dia 29 de agosto de 1533 (1), foi para sempre. O filho do Sol, Atahualpa, estava morto e, com ele, morto estava, também, o grande Tahuantinsuyo. Os Andes tremeram como se um terremoto de gigantescas proporções abalasse sua estrutura e a instabilidade que se seguiu não começou fora, nas encostas e vales, mas, dentro de cada pessoa que vivia sob a luz do Sol (Inti) da qual o Inca era o Filho. Todos acorreram, queriam vê-lo, pela última vez, estar com Atahualpa, ainda que fosse só um pouquinho, quando ele parecia, apenas, adormecido e a noite se alongava, cheia de lágrimas e gritos de desespero, perpetuando a escuridão em seus corações. Não haveria mais arco-íris, não haveria mais a ponte entre sol e chuva para lembrá-los da aliança que havia entre o deus Sol e seu povo. A Bandeira do Tahuantinsuyo, a Bandeira do Arco-íris, fora rasgada em milhares de pedaços e seu colorido se diluíra na cor de lama e sangue das botas do inimigo.


"Deixaram os executores fenecer o dia, como se temessem a luz, para consumação de seu crime e, duas horas depois do anoitecer o levaram para o suplício"*; este fiel relato basta para descrever a insanidade e o ódio daqueles que "em nome de Jesus Cristo", levaram a tortura e a morte por onde passaram, usando o nome de Deus para a resolução de seus atos de cobiça, ao longo da História. Na verdade, nada disso pode ser explicado, apenas registrado, com a tristeza de um luto que nunca terminou. Como a madrugada espera o amanhecer, o Tahantinsuyo espera pela volta do Sol, para despertar em um dia radiante que o fará esquecer a tempestade de raios e trovões que se abateu sobre os telhados de ouro de Cusco, desmoronando suas construções em ruínas.


Conta a lenda que Atahualpa despertará de seu sono para ordenar o caos estabelecido nos domínios do Sol. Por isso o povo Inca espera; preservando, através de sua Cultura, a fé no Deus Sol e em seu Filho, entoando, em uníssono, com voz rouca, de lamento, o canto, que jamais pôde ser contido, o grito aflito que o som das flautas sucede para acordar o Príncipe... Hatariy, Sapa Inka Atawallpa!!! Hatariy!!!!






(1) Algum autores datam 26 de julho de 1533.


* César Cantú, Historia Universal, Biblioteca Ilustrada de Gaspar y Roig, Madrid, 1866. (traducida directamente del italiano con arreglo- la setima edición de Turin, anotada por D. Nemesio Fernandez Cuesta)(Tomo X - documentos, biografias e índices / Francisco Pizarro)









                                                                     


1.19.2011

ANDES- O GRITO DO SILÊNCIO.



Hoje a minha voz não terá som, minhas palavras serão como penas arrancadas de um condor que se arrebenta contra paredões de pedras incaicas... Ergo-me, chorando, cega de lágrimas e de chuva, quebrando-me ao vento que assobia tempestades... Deixo-me escorrer pela encosta, despencando minha fé desde as alturas, para um desfiladeiro que não tem fim, um abismo que os séculos escavaram, sem piedade, na revolta da "alma" andina - esfacelada em pedacinhos de arco-íris contra malévolas nuvens escuras e invasoras.


Quando estou assim, tão lúcida, fica difícil acreditar em qualquer coisa; fica impossível raciocinar com pensamentos "ocidentais" de verdade e justiça.
Tento expressar, com palavras estrangeiras, a dor que só poderia ser contada em quéchua... Que minhas palavras sejam armas dilacerando distâncias, alcançando o invasor em seus domínios, ferindo-o com dardos de consciência para que se arrependa...
Ao buscar entender a História, permaneço de joelhos diante do Conquistador e de seu "Deus de Salvação", a refletir - a dor foi transformando a si mesma; as feridas, cicatrizadas superficialmente, muitas vezes misturando-se ao sangue do estrangeiro. Recuso-me a falar, neste monólogo do silêncio, sobre como o Sol foi toldado em um eclipse eterno, espalhando sobre os Andes a desolação dos andenes vazios de cultivo...
Agora, meu grito esbarra em um paredão de tempo suspenso no espaço de lugar algum - quero voltar e não posso, quero morrer e a morte seria o alívio que o opressor proíbe. Então, deixo, por um único momento, o palco sangrento da minha "América" aviltada e subo, só um pouquinho, o degrau gélido da inconsciência, os pés descalços pisando, com delicadeza, aqui e ali, o lajedo da antiga trilha inca que cortava oTahuantinsuyo como veias vivas. Respiro o frescor de uma época feliz e organizada em que as flores adornavam os caminhos e as colheitas não deixavam esvaziarem-se os celeiros; um tempo em que, entre o sol e a chuva, imperava a Bandeira do Arco-Íris, desfraldada ao sopro das flautas que ainda nos chamam...




tanya marah
18/01/2011
de algum lugar do Antisuyo.








*Não posso deixar de registrar um trecho que li, atribuído ao último sobrevivente dos conquistadores originais do Império Inca, Don Mancio Serra de Leguisamo, que escreveu no preâmbulo de seu testamento, em Cuzco, no dia 18 de setembro de 1589:


"Encontramos os tais reinos em tão boa ordem e os ditos Incas os governavam com tal sabedoria que, através deles não havia nenhum ladrão, nenhum viciado, nenhuma adúltera, nem uma mulher má era admitida entre eles, nem havia pessoas imorais. Os homens tinham ocupações úteis e honestas. As terras, florestas, minas, pastagens, casas e toda sorte de produtos eram regulados e distribuídos de tal maneira que cada um conhecia sua propriedade sem que nenhuma outra pessoa se aproveitasse dela ou a ocupasse, nem que houvesse processos judiciais com relação a isso..."




...O motivo que me obriga a fazer esta afirmação é o desencargo da minha consciência, porque eu me acho culpado, pois destruímos, pelo nosso mau exemplo, as pessoas que tinham um governo que era apreciado por esses nativos. Eles estavam tão livres de cometer crimes ou excessos, tanto homens como mulheres, que o índio que tinha 100 mil pesos em ouro ou prata em sua casa, deixava-a aberta, apenas colocando um pequeno bastão contra a porta, como sinal de que o dono estava fora. Com isso, segundo seu costume, ninguém podia entrar ou tirar qualquer coisa que estivesse lá. Quando viram que nós colocamos fechaduras e chaves em nossas portas, pensaram que era por medo deles, para que não pudessem nos matar, mas não porque acreditavam que alguém iria roubar a propriedade de outro. Assim, quando eles descobriram que tínhamos ladrões entre nós, e homens que procuraram fazer suas filhas cometerem pecado, eles nos desprezaram ". (Markham 300) 






Markham, Sir Clements, The Incas of Peru, Second Edition, John Murray, London, 1912.




texto em inglês: 




In Cuzco on Sept. 18, 1589, the last survivor of the original conquerors of Peru, Don Mancio Serra de Leguisamo, wrote in the preamble of his will the following in parts: 




"[W]e found these kingdoms in such good order, and the said Incas governed them in such wise that throughout them there was not a thief, nor a vicious man, nor an adulteress, nor was a bad woman admitted among them, nor were there immoral people. The men had honest and useful occupations. The lands, forests, mines, pastures, houses and all kinds of products were regulated and distributed in such sort that each one knew his property without any other person seizing it or occupying it, nor were there law suits respecting it... 


"...the motive which obliges me to make this statement is the discharge of my conscience, as I find myself guilty. For we have destroyed by our evil example, the people who had such a government as was enjoyed by these natives. They were so free from the committal of crimes or excesses, as well men as women, that the Indian who had 100,000 pesos worth of gold or silver in his house, left it open merely placing a small stick against the door, as a sign that its master was out. With that, according to their custom, no one could enter or take anything that was there. When they saw that we put locks and keys on our doors, they supposed that it was from fear of them, that they might not kill us, but not because they believed that anyone would steal the property of another. So that when they found that we had thieves among us, and men who sought to make their daughters commit sin, they despised us." (Markham 300)