1.29.2021

O TESOURO ESCONDIDO DE LLANGANATIS

 

                                                Llanganatis / Equador



Vamos a um passeio que vai começar neste momento, voltando atrás quinhentos anos para tentar surpreender o passado.

Sob uma temperatura polar insuportável, entrando em uma horrível  tempestade que geralmente leva a inundações terríveis, acompanhadas de ruídos estranhos, vamos penetrando em uma misteriosa vegetação onde o musgo é tão grande que pode afundar um ser humano e cobrir a extensão de um abismo.
 
Cerro Hermoso é a cordilheira central de Llanganatis, que não é exatamente uma cordilheira, mas um raro sistema de três montanhas agrupadas, encravadas nesta parte do beco interandino e que vão como ramificações nos Andes equatorianos. Muito poucas pessoas conhecem o local de Llanganatis e daqueles que entraram, apenas alguns saíram vivos. Mas todos concordam que é uma espécie de oásis geológico no mundo andino.
 
Os Andes não estão parados, mas vivem em perpétuo movimento geológico. As estradas,  traçadas por montanhas e vales, movem-se.

As tubulações hidráulicas, feitas de concreto, se retorcem e rompem-se, a neve derrete, de vez em quando, dando origem a novos e imensos riachos aluviais. Todo o sistema andino é um promontório rochoso quebrado, a cicatriz de uma grande ruptura da crosta, de onde emergiram grandes buracos vulcânicos. Um aglomerado em torno dos escombros desse quebrado formou a enorme Cordilheira. Raramente existem rochas sólidas nos Andes, todas estão rachadas, queimadas ou esmagadas.
 
As colinas e picos vulcânicos da Cordilheira dos Andes são formados de cima para baixo. Os Llanganatis, no entanto, são de baixo para cima. Eles são únicos.
Sempre que se fala em Llanganatis ele está envolto  em uma névoa muito densa ou tempestades que parecem catástrofes. Como um grande mistério, um mistério para muitos dos que entraram e não saíram de lá. 
 
Píllaro é o ponto de partida para Llanganatis e não há outra entrada.
 Llanganatis é um lugar ideal para esconder algo e um esconderijo pode ser uma tumba permanente, uma tumba insondável onde o que ali caiu dificilmente pode ser extraído. Um abismo de mistérios e segredos eternos.
 Teria sido ali, enterrado por Rumiñahui, uma parte do resgate em ouro de Atahualpa, bem como seu próprio corpo desaparecido?
 Depois de entrar em Llanganatis, estamos nos lançando no abismo do tempo, para tentar entender a história e a lenda. No caso dos Incas, posso dizer que a lenda é a história.
Como lenda, a tradição oral e escrita fala de um tesouro. O fabuloso tesouro que o exército levava para Cajamarca e que, provavelmente, foi escondido em Llanganatis, algum tempo depois, em lugares que apenas Rumiñahui e alguns de seus homens conheciam.
Decididamente, em Llanganatis, Rumiñahui, que era descendente do Atis de Pillaro, de Pillahuaso deve ter escondido todas as riquezas que se dispôs a entregar para libertar seu soberano, quando este foi assassinado pelo opressor.

Geograficamente, Llanganatis está fixada no triângulo formado por Latacunga, Baños e Puyo, onde a Cordilheira Ocidental ligou-se para produzir uma terceira montanha, limitando com o Amazonas desde a bacia do Napo e Pastaza.
 
Do final do século XVIII até a década de 1970 do século XX, cerca de cinquenta expedições foram feitas a Llanganatis, mais de trinta delas lideradas por estrangeiros.
A mais documentada delas foi realizada pelo pesquisador de Quito Luciano Andrade Marín, em 1933 e 1934, que junto com dois italianos, Humberto Re e Tullio Boschetti, caminharam um mês e meio pela região de Llanganatis.

El Derrotero Del Padre Valverde.

A verdadeira história desse guia (El Derrotero) perde-se nas brumas do tempo e das conquistas coloniais. O original estaria nos Arquivos Indianos e exigiria muita pesquisa para encontrar e determinar a autenticidade.
Aparentemente, há uma cópia impressa ou outra, daí a impossibilidade de determinar a autenticidade desta forma, mas em qualquer caso, trata-se de algo antigo e fascinante.
 
"Situados no povoado de Píllaro, perguntai pela Hacienda (fazenda) de la Moya e dormi a primeira noite a boa distância acima dela e perguntai ali pela montanha de Guapa(Cerro Hermoso?)... de cujo topo, olhando para o leste e tendo Ambato nas costas, podereis ver as três colinas Llanganati em forma de triângulo, em cujas encostas há um lago, feito pela mão do homem, no qual os antigos jogaram o ouro que haviam preparado para o resgate do Inca quando souberam de sua morte. Do mesmo morro Guapa também poderás ver a selva, e nela um aglomerado de sangurimas que se projetam da dita selva, e outro aglomerado que chamam flechas, e esses aglomerados são a principal marca pela qual vos guiareis, deixando-os um pouquinho para a esquerda, segui em frente desde Guapa na direção e de acordo com as indicações, e depois de terdes avançado uma boa distância, e tendo passado por algumas fazendas de gado, encontrareis a beira de um amplo pântano o qual tereis que atravessar e, saindo do outro lado, vereis à esquerda um pequeno caminho fora de um canavial sobre uma encosta, por onde devereis passar. Ao sair do canavial, vereis duas pequenas lagoas chamadas Los Anteojos (Os óculos), porque entre elas há uma ponta de terra como um nariz.

Deste lugar podeis divisar outra vez as colinas de Llanganatis, da mesma forma que as vistes do alto de Guapa, e eu vos aviso que deixeis as ditas lagoas à esquerda, e que na frente da ponta ou nariz há uma planície, que é o lugar para passar a noite. Lá deveis deixar vossos cavalos porque eles não podem ir mais adiante. Continuando agora a pé na mesma direção chegareis a uma grande lagoa negra, a qual deixareis do lado esquerdo e, para além dela, tratareis de descer a encosta, de forma a chegar a um desfiladeiro por onde desce um fio de água; e aqui encontrareis uma ponte de três mastros, ou se ela não existir mais, colocareis outro no lugar mais conveniente e passareis por cima dela. E tendo continuado por um curto trecho dentro da floresta, procurai pela choça que servia para dormir ou os restos dela. Depois de passar a noite ali, continuai vosso caminho no dia seguinte pela floresta na mesma direção, até chegar a outro desfiladeiro profundo e seco, através do qual tereis que fazer uma ponte e passar por ele, devagar e com muita cautela, pois o desfiladeiro é muito profundo; isso se não conseguirdes encontrar o passo que lá existe. Segui adiante e procurai os restos de outro lugar para pernoitar, que, garanto-vos, não deixareis de encontrar pelos fragmentos de potes e outras marcas, porque os índios por ali passam continuamente. 
Segui em frente e vereis uma montanha toda de margacitas (3), que deixareis à vossa esquerda, e eu vos aviso para contorná-la neste formato de G. Neste lado encontrareis um gramado em uma pequena planície, a qual, depois de passar por ela, chegareis a um passo estreito entre duas colinas, que é a Trilha Inca. A partir daí, ao continuar, vereis a entrada para o sumidouro, que tem a forma de um portal de igreja.
Tendo saído do estreito e percorrido uma boa distância, percebereis uma cachoeira que desce de um pequeno braço do Cerro Llanganatis e deságua em um pântano do lado direito; e sem passar pelo riacho, no dito pântano tem muito ouro, de maneira que pondo na mão o que  puderdes empunhar, no fundo tudo são grãos de ouro. Para subir a montanha, saí do pântano e continuai à direita e passai pela cachoeira, contornando o pequeno braço da montanha. E se por acaso a boca do sumidouro for fechada com certas ervas que eles chamam de selvagens, retirai-as e encontrareis a entrada. E no lado esquerdo da montanha podereis ver a guayra (porque era assim que os antigos chamavam a fornalha onde eles fundiam metais), que é cravejada de ouro. E para chegar à terceira montanha, se não conseguirdes passar pela frente do sumidouro, é a primeira coisa passar por detrás, pois a água da lagoa cai dentro dele.
Se vos perderdes na mata, procurai o rio, segui até o canto inferior direito, tomai a praia, e chegareis ao estreito de tal forma que, mesmo que tenteis passar por ele, não encontrareis por onde; subi bem alto, a montanha do lado direito, e assim não perdereis de forma alguma o caminho. "

Esse documento que descreve cuidadosamente a localização do tesouro inca foi escrito por um espanhol chamado Valverde que morou no Equador e supostamente soube da localização do tesouro inca através da família de sua esposa nativa. Valverde, tendo retornado muito rico à Espanha, em seu leito de morte escreveu as instruções para a localização do tesouro,  enviando-a ao rei. Supostamente o rei a teria mandado ao Equador. Uma expedição foi organizada pelo administrador de Latacunga, Antonio Pastor y Marín de Segura e um sacerdote, Padre Longo, com o objetivo de encontrar esse tesouro. Todas as instruções foram seguidas mas, próximo ao local do tesouro, Padre Longo desapareceu, ou morreu, em circunstâncias misteriosas e a expedição foi abandonada. Depois disso, o guia de Valverde teria sido depositado nos arquivos públicos de Latacunga, cidade a noroeste de Baños. Bem...

A expedição quase chegara ao fim do percurso quando uma noite o Padre Longo desapareceu misteriosamente e nenhum vestígio dele pôde ser descoberto, talvez tenha caído em um precipício próximo ao acampamento ou em um dos pântanos que ali proliferam, fato é que nunca mais o encontraram. Depois de procurar em vão pelo sacerdote por alguns dias, a expedição voltou sem obter êxito e com esse rastro de morte em seu caminho."

No entanto, supostamente, Pastor parece ter descoberto muito ouro, mantendo consigo o guia, o Derrotero original, e deixando uma cópia na sede administrativa de Latacunga, com a pista final alterada, para que outros não pudessem encontrar o tesouro. Não são poucos os que acreditam que o tesouro tenha sido localizado e retirado por Antonio Pastor y Marín de Segura no final do século 18.

No ano de 1793, o sacerdote de Píllaro, Mariano Enríquez de Guzmán, fez uma expedição ao Llanganatis, aparentemente sem sucesso, pois utilizara o falso Guia deixado por Pastor, onde podia-se ler na capa as seguintes anotações "Guía o Derrotero que Valverde dejó en España donde la muerte le sorprendió a él, habiendo ido desde las montañas de Llanganati, a las cuales el entró muchas veces y sacó una gran cantidad de oro; y el Rey ordenó a los Corregidores de Tacunga y Ambato que buscasen el tesoro, cuya Orden y Guía se conservan en una de las oficinas de Tacunga"(Guia ou Rota que Valverde deixou na Espanha onde a morte o surpreendeu, tendo ido das montanhas de Llanganati, às quais entrou muitas vezes e retirou uma grande quantidade de ouro; e o Rei ordenou aos Corregidores de Tacunga e Ambato que procurassem o tesouro, cuja Ordem e Guia são mantidos em um dos escritórios em Tacunga). 

Seguindo essa linha do tempo, Pastor deixara sua família em Ambato, viajando para Lima, estabelecendo-se na capital e, havendo falecido sua esposa em 1801, casou-se, no Peru, em segundas núpcias, com Narcisa Martínez de Tejada y Ovalle, havendo desse casamento apenas um filho, José Mariano Pantaleón Pastor y Martínez de Tejada, nascido em 27 de  Julho de 1802.
Em 1803, Pastor teria embarcado um carregamento de valiosas barras de ouro e outros metais em uma fragata inglesa, para ser depositado no Royal Bank of Scotland (Escócia) por Sir Francis Mollison, conforme procuração outorgada em seu favor. As barras deveriam gerar juros e o valor total de tudo seria repartido entre os descendentes do referido casamento, mas apenas na quinta geração.

A lenda ganhou o mundo quando o botânico Richard Spruce descobriu  o Derrotero de Valverde e um mapa desenhado por um equatoriano em nome de Don Atanasio Guzmán, informação essa publicada pela Royal Geographical Society em 1860. 

Entre 1933 e 1934, Luciano Andrade Marín, geógrafo e historiador equatoriano, o italiano Tullio Boschetti, Umberto Ré e vinte e cinco indígenas carregadores fizeram uma expedição ao Llanganatis. Andrade Marín publicou o livro "Viaje a las misteriosas montañas de los Llanganati"(Viagem às misteriosas montanhas do Llanganati), com os registros do estudo que fizera da flora, fauna e geografia da região, narrando a fantástica expedição documentada naquele livro, declarado Patrimônio Cultural do Equador e que pode ser consultado na Biblioteca Nacional de Quito.
Andrade Marin mostra que o Derrotero contém vários dias de viagem, sendo que os primeiros três ou quatro dias denotam uma enorme precisão com  relação à realidade geográfica da região de Pillaro e quanto à entrada para as montanhas dos Llanganatis.


Parece que em 1954 teria sido encontrado um rudimentar mapa do Tesouro, pintado em cores pelo Cura Enríquez que, não satisfeito com o mapa que havia feio, teria levado consigo a cópia do Guia dos escritórios de Latacunga,  que anos mais tarde parece ter pertencido ao Sr. Lorenzo Gortaire Viteri, morador de Quito no final do século passado, que a deixou para seus herdeiros quando morreu, os quais a teriam vendido a um sueco chamado Stellan Moerner, que se passava por conde em Quito no início deste século, mostrando-se muito interessado em localizar o tesouro.


  Descendentes diretos dos que haviam sido chefes na região contaram que o antigo rei de Píllaro de San Miguel, chamado Pillahuaso Ati, filho de Pillahuaso Ati de San Miguel, casara-se com a rainha Choazanguil de Huainacusi e fora pai de uma filha com a qual um dia casou-se o Inca Huayna Capac: deste casamento nasceu, em Píllaro, o General Rumiñahui.
 
Rumiñahui, irmão de Atahualpa, ou não, era seu homem de confiança. Desde novembro de 1532, quando Pizarro capturou Atahualpa, até agosto de 1533, quando foi executado, passaram-se nove meses até o trágico fim do Império Inca. Tempo que Pizarro aproveitou, lucrando com a grande confederação do povo Inca enquanto Rumiñahui apressava-se em coletar ouro para subsidiar a liberdade de Atahualpa.

Rumiñahui organizou a resistência e, ao mesmo tempo, tentou manter a liberdade dos seus domínios entre os quais encontrava-se o reino de Quito. Rumiñahui manteve a reação contra os espanhóis de um lado, enquanto lutava contra o que restava do império inca do outro.
Rumiñahui tinha poder real para fazer isso. Quando Huascar foi morto por outro exército de Atahualpa que, liderado por Quisquis, havia tomado Cusco, Rumiñahui foi o comandante supremo do império inca que, então, estava completamente desmembrado.

 De qualquer forma, quando, na calada da noite, o corpo de Atahualpa tomou a direção do norte, carregado pelo General Rumiñahui e seus soldados, desaparecendo na névoa dos Andes para sempre, levou consigo um rastro de segredos que jamais seriam revelados . Os espanhóis realmente tentaram, sob tortura, puxar pelo menos alguns desses segredos, mas não conseguiram nada. Apenas mais morte, tortura e destruição. Atahualpa conseguiu o que queria, dentro da tragédia que causara para si mesmo e para os outros: preservar seu corpo, para não ser destruído e poder voltar à vida, como sempre acreditaram todos os Incas. Preservando os tesouros porque, o que era apenas metal precioso para os estrangeiros, para os Incas era sua fé no Sol enquanto Deus, do qual o ouro era o suor, a fé em sua cultura de filhos do Sol e a preservação da própria vida, neste mundo e no próximo.



Bibliografia:

Frei Martín de Murúa: Historia general del Perú. Origen y descendencia de los Incas (1611).


 


continua....









1.28.2021

A CORRENTE DE OURO

 



No primeiro ano de seu governo, Huayna Cápac cuidou do funeral de seu pai, Túpac Inca Yupanqui, e depois saiu para visitar seus domínios. Por onde ele passava, os curacas e vassalos saíam para cobrir os caminhos com flores e aromáticos juncos e com arcos triunfais feitos dessas flores, aclamando seu nome "Huayna Cápac, Huayna Cápac!".

«Porque foi o nome que mais o engrandeceu, por tê-lo merecido desde a sua infância, com o qual também o adoraram (como Deus) em vida. Padre José de Acosta, falando deste Príncipe, entre outras grandes coisas que em seu louvor escreve, diz estas palavras, sexto livro, capítulo vinte e dois: "Este Huayna Capac foi adorado pelos seus como Deus em vida, o que os velhos afirmam que não foi feio com nenhum de seus ancestrais", etc. "(Garcilaso)

Nesta visita, no início, recebeu a notícia do nascimento do príncipe herdeiro, posteriormente denominado Huáscar Inca. O nascimento do tão desejado príncipe fez com que seu pai voltasse a Cuzco, com toda a pressa possível, para assistir às festividades de seu nascimento.


“Depois da solenidade da festa, que durou mais de vinte dias, estando Huayna Cápac muito feliz com o novo filho, começou a imaginar coisas grandes e nunca vistas, que seriam inventadas para o dia em que desmamassem e tosassem os primeiros cabelos e colocassem o nome próprio, que, como já dissemos alhures, era  festa das mais solenes que aqueles reis celebravam, e a esse respeito daí para baixo, até os mais pobres, porque consideravam muito os primogênitos. ”(Garcilaso)

Sonhou mandar fazer uma corrente de ouro, famosa até hoje, e ainda não vista por estranhos, ainda que sempre tenham desejado isso.
Garcilaso de la Vega relata em seu livro o que teria feito com que io Inca tivesse imaginado isso. Em seu relato ele diz que todas as províncias do reino tinham uma forma de dançar diferente das outras, pela qual cada nação era conhecida, bem como pelos diferentes toucados que usavam na cabeça. Essas danças eram as mesmas, sempre, nunca eram trocadas por outras. Os Incas faziam uma dança séria, sem pulos nem saltos ou outras mudanças, como os outros faziam. Eram os homens que dançavam, sem mulheres entre eles.


"... de mãos dadas, cada um dando a sua na frente, não para os primeiros ao lado, mas para os segundos, e assim as davam de mão em mão, até os últimos, como acorrentados. Duzentos ou trezentos homens, ou mais, dançavam juntos, de acordo com a solenidade da festa. Eles começavam a dança separados do Príncipe diante do qual era realizada. Todos saíam juntos; davam três passos em compasso, o primeiro para trás e os outros dois para a frente, que eram como os passos que nas danças espanholas chamam de ¨dobles¨ e ¨represas¨; com esses passos, indo e vindo, iam sempre avançando, até chegarem no meio círculo onde estava o inca. Às vezes cantavam, ora uns, ora outros, para não cansarem-se como seria se cantassem todos juntos; cantavam canções ao ritmo da dança, compostas em louvor ao atual Inca e seus ancestrais e outros do mesmo sangue que eram famosos por seus feitos praticados na paz ou na guerra ”. (Garcilaso)
Os presentes ajudavam a cantar, de modo que a festa era de todos e o próprio Inca às vezes dançava em festas solenes, para torná-las mais solenes. Desse dar as mãos em forma de corrente, o Inca Huayna Cápac teve a ideia de mandar fazer a corrente de ouro, para ser mais solene e majestoso, que fossem dançando segurando-se nela, em vez de segurarem as mãos.
 
“Esse fato em particular, sem a fama comum, ouvi do velho Inca, tio da minha mãe, de qual no início desta história fizemos menção de que contava as antiguidades do seu passado. Perguntando-lhe eu qual era o comprimento da corrente, me disse ele que tomava as duas fachadas da Praça Maior do Cuzco, que é a largura e o comprimento dela, onde aconteciam as principais festas, e que (embora não fosse necessário que, para a dança, ela fosse tão longa) o Inca ordenou que fosse feita assim para maior grandeza sua e maior ornato e solenidade da festa do filho, cujo nascimento ele quis solenizar ao extremo. Para quem viu aquela praça, que os índios chamam de Haucaypata, não há necessidade de dizer a grandeza dela; para os que não a viram, parece-me que terá de comprimento, norte sul, duzentos passos comuns, de dois pés, e de largura, leste a oeste, terá cento e cinquenta passos, até o mesmo riacho, com o que tomam as casas que os espanhóis fizeram na extensão do riacho, ano de mil e quinhentos e cinquenta e seis, ...De modo que, por essa conta, a cadeia tinha trezentos e cinquenta passos de comprimento, ou seja, setecentos pés; Quando perguntei ao próprio índio sobre a espessura dela, ele levantou a mão direita e, apontando para o pulso, disse que cada elo era da mesma espessura. "(Garcilaso)
“O Contador Geral Agustín de Zárate, Livro Primeiro, Capítulo Quatorze, já alegado por mim anteriormente quando falamos sobre as incríveis riquezas das casas reais dos Incas, disse coisas muito grandes sobre esses tesouros. Pareceu-me repetir aqui o que ele diz em particular dessa corrente, que é o que segue, levado ao pé da letra: “Na época em que lhe nasceu um filho, Guainacaba mandou fazer uma corda de ouro, tão grossa (segundo muitos índios vivos que o dizem) que atados a ela duzentos índios ¨orejones¨ não a levantavam com muita facilidade e, em memória dessa joia conhecida, deram o nome ao filho de Guasca (Huascar), que em sua língua significa corda, com o sobrenome de Inca, que pertencia a todos os reis, como os imperadores romanos eram chamados de Augusto. ", etc." (Garcilaso)


 É a famosa peça de ouro, desaparecida logo após a entrada dos espanhóis, de tal forma que até agora não há vestígios dela. Além do nome próprio que lhe deram, Inti Cusi Huallpa, acrescentaram Huáscar, por renome, para dar mais importância à joia. Huasca significa corda, e como os incas não diziam ¨corrente¨ em sua língua, chamavam-na corda, acrescentando o nome do metal de que era (feita) a corda, como dizemos corrente de ouro ou prata ou de ferro. Segundo Garcilaso e para que o príncipe não soasse mal o nome Huasca, devido ao seu significado, disfarçaram-no com o -r, acrescentado na última sílaba, porque com ele não significa nada, e queriam que ele mantivesse a denominação de Huasca, mas não o significado de corda.

“... desta forma o nome Huáscar foi imposto a esse príncipe, e de tal forma foi apropriado por ele, que seus próprios vassalos o nomearam pelo nome imposto e não pelo seu próprio, que era Inti Cusi Huallpa; significa: Huallpa Sol da alegria; que já como naquela época os Incas eram tão poderosos, e como o poder, em sua maioria, incita os homens à vaidade e ao orgulho, eles não se orgulhavam de dar ao seu príncipe algum nome daqueles que até então eles tiveram por nomes de grandeza e majestade, mas eles subiram ao céu e tomaram o nome daquele que eles honraram e adoraram como Deus e o deram a  um homem, chamando-o Inti, que em sua língua significa Sol; Cusi significa alegria, prazer, contentamento e regozijo, e isso é o suficiente dos nomes e renomes do Príncipe Huáscar Inca. " (Garcilaso)

Huayna Cápac, tendo deixado a ordem e o esboço da corrente e das demais grandezas que deviam ser feitas para a solenidade de tosar e nomear seu filho, voltou à visita de seus domínios, que começara, e andou nisso mais de dois anos, até que o menino parasse de mamar. Depois voltou a Cozco, onde se realizaram as festas e regozijos imaginados, dando-lhe o nome próprio e o renome de Huáscar.
 
 
O Inca Huayna Capac, teve na filha do Rei de Quitu seu filho Atahuallpa, que era de bom entendimento, engenhoso, astuto, sagaz, habilidoso, cauteloso, belicoso para a guerra, espirituoso, bonito de rosto e corpo, como geralmente todos os incas eram.
Por todos os seus dons, seu pai o amava muito, e  sempre o levava com ele. Não podendo tirar o direito do primogênito e herdeiro legítimo, que era Huáscar Inca, mandou buscá-lo, no Cuzco. Quando ele chegou, fez um grande encontro com os filhos, dos muitos capitães e curacas que obteve, contra a jurisdição e o estatuto de todos os seus antepassados, deixar para ele o reino de Quitu como herança.
Na presença de todos falou ao filho legítimo e disse-lhe que amava muito o seu filho Atahualpa e que lamentava deixá-lo pobre e que seria bom se Huascar considerasse por bem que, de tudo o que ele, Huayna Capac havia conquistado para sua coroa, ficasse em herança e sucessão o reino de Quitu a Atahualpa, que pertencera a seus avós maternos e pertencia a sua mãe. 
Para viver Atahualpa em um estado real, como suas virtudes mereciam, que sendo tão bom irmão quanto era e tendo com o que, pudesse servi-lo melhor em tudo o que mandasse. Que para a recompensa e satisfação deste pouco que pedia, havia muitas outras províncias e reinos muito longos e largos, ao redor do seu, que ele poderia obter, em cuja conquista seu irmão serviria como soldado e capitão, e que ele iria feliz desse mundo, quando descansasse com Seu Pai, o Sol.           
 
"El Príncipe Huáscar Inca respondió con mucha facilidad que holgaba en extremo de obedecer al Inca, su padre, en aquello y en cualquiera otra cosa que fuese servido mandarle, y que si para su mayor gusto era necesario hacer dejación de otras provincias, para que tuviese más que dar a su hijo Atahuallpa, también lo haría, a trueque de darle contento." (Garcilaso)
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Resultados de tradução
“O Príncipe Huáscar Inca respondeu muito facilmente que ficava extremamente feliz em obedecer ao Inca, seu pai, nisso e em tudo o mais que lhe servisse mandar, e que se para seu maior prazer fosse necessário deixar outras províncias, para que tivesse mais para dar a seu filho Atahuallpa, ele também o faria, em troca de fazê-lo feliz. " (Garcilaso)
 "Com esta resposta, Huayna Cápac ficou satisfeito; ordenou que Huáscar voltasse a Cuzco; tratou de empossar seu filho Atahuallpa ao reino; acrescentou outras províncias, além de as de Quitu; deu-lhe capitães experientes e parte de seu exército, para o servir

e acompanhar; em suma, ele fez a seu favor todas as vantagens que pôde, mesmo que fossem em detrimento do príncipe herdeiro; colocou-se em tudo como um pai apaixonado, entregue ao amor de um filho; quis estar presente no reino de Quitu e região os anos que lhe restavam de vida; "(Garcilaso)

Quando Huayna Cápac morreu, seu povo, em cumprimento ao que ele havia ordenado, abriu seu corpo e o embalsamaram e o levaram para Cuzco, deixando o coração enterrado em Quitu.








BIBLIOGRAFIA
 



Garcilaso de la Vega, Comentarios Reales.














1.14.2021

TITU CUSI YUPANQUI - MEMÓRIA DA CAPITULAÇÃO

 







“E então o dito Inca (1) se levantou de frente para onde o Sol então estava; mãos abertas e braços estendidos, disse que jurava pelo Sol, a quem olhava de frente e estava presente em seu juramento, a quem tinha por Deus e adorava como criador que dizia ser de todas as coisas; e pela terra a quem tinha como mãe, ele a adorava e a tinha em segundo lugar do Sol como produtora de todo os mantimentos para o sustento de todas as pessoas e para o mundo, de dizer a verdade a tudo o que lhe fosse perguntado. Aí o dito Inca pôs a mão na terra e beijou-a. ”

Aparentemente, a laceração do Tahuantinsuyo, iniciada entre os dois irmãos, Atahualpa e Huascar e agravada pela entrada dos espanhóis, com suas guerras civis, prosperou quando, poucos anos depois, Paullu (2) e Manco, dois outros filhos de Huayna Capac, protagonizaram o antagonismo da aceitação do domínio espanhol e sua busca pela "paz", defendida por Paullu Inca e o espírito rebelde que não aceitava a derrota e lutaria até a morte, representado por Manco Inca, que empreendeu resistência em Vilcabamba .



Em 8 de julho de 1567, Diego Rodríguez de Figueroa, futuro corregedor de Vilcabamba, disse ao inca Titu Cusi Yupangui que seria necessário que ele jurasse "na forma e do modo que costuma ser feito entre eles, dizer a verdade" para que a "capitulação" de Acobamba foi um sucesso.
E foi o que ele fez.

O cronista Sarmiento de Gamboa tenta justificar a situação dos irmãos, destacando "os benefícios" que o rei da Espanha havia concedido a todos os incas, especialmente seus príncipes, incluindo a possibilidade de uma morte "cristã".
“Porque só dois filhos de Huayna Capac escaparam da crueldade de Atahualpa, que eram Paullo Topa, mais tarde chamado Don Cristóbal Paullo, e Mango Inga, eram bastardos, que é o que é público entre estes. E estes, se alguma honra e propriedade eles ou seus descendentes tiveram, Vossa Majestade deu-lhes muito mais do que tiveram se seus irmãos permanecessem no estado e com força; porque haveriam de ser seus contribuintes e servos. E estes foram os menores de todos porque eram de linhagem do lado materno, que é o que eles estimam, e de nascimento. "

"E a Manco Inca, tendo sido um traidor de Vossa Majestade e estando rebelado nos Andes, onde morreu, ou foi morto, Vossa Majestade tirou da paz seu filho Don Diego Sayre Topa daquelas montanhas de selvagens e o tornou cristão e deu Polícia e principalmente de comer para ele e para seus filhos e descendentes. O qual morreu cristão, e aquele que agora está nos Andes, de nome Tito Cusi Yupanqui, rebelado, não é filho legítimo de Manco Inca, mas bastardo e apóstata. Antes têm como legítimo outro, que está com o mesmo Tito, chamado Amaro Topa, que é incapaz, a quem os índios chamam de uti. Mas nem um nem outro são herdeiros da terra, porque o pai não era. "
  “Don Cristóbal Paullo foi honrado por Vossa Majestade com um título e deu-lhe uma repartição muito boa de índios, com os quais vivia precipuamente . E agora seu filho Don Carlos é o dono. De Paullo houve dois filhos legítimos que agora estão vivos, u chamado Dom Carlos e Dom Felipe; e sem estes teve muitos outros bastardos e filhos naturais, de modo que os conhecidos netos de Guayna Capac, que agora estão vivos e considerados tais e principais, são os ditos, e outros desses dons Alonso Tito Atauche, filho de Tito Atauche, e outro bastardo, que nem um nem outro tem o direito de ser chamados senhores naturais desta terra. ”



Manco Inca, coroado imperador em 1534 por Francisco Pizarro, havia tentado chegar a um acordo com os conquistadores espanhóis. No entanto, sua cooperação foi posta à prova pelos maus-tratos sofridos pelos irmãos de Francisco, Gonzalo, Juan e Hernando, pois Francisco havia temporariamente deixado nas mãos deles o comando em Cusco.
Durante a guerra civil entre Francisco Pizarro e Diego de Almagro, Manco lutou ao lado deste último. Ele sitiou Cuzco por dez meses, mas não conseguiu tomar a cidade. Após a derrota de Almagro, Manco retirou-se para Vilcabamba

Nas palavras de Guaman Poma de Ayala, Manco Inca havia fundado o "novo Cuzco", núcleo para a reconstrução de Tahuantinsuyo. O estado neo-inca de Vilcabamba, apesar dos ataques intermitentes dos espanhóis, permaneceu como um centro rebelde por mais de 30 anos, até o ano de 1572. Manco havia dado proteção a alguns almagristas que o traíram e assassinaram por volta de 1544, na frente de Sayri Topa (3) e seus outros filhos.
  

Manco é, sem dúvida, sucedido por seu filho Sayri Topa. Aparentemente, outro filho seu, Titu Cusi Yupanqui (*), dirigia realmente a política do estado, pois Sayri era apenas um menino.

Sayri Topa tinha cinco anos e se tornou o Inca de Vilcabamba, reinando por dez anos com a ajuda de seu irmão como regente. Esta foi uma época de paz com os espanhóis. O vice-rei Pedro de la Gasca ofereceu a Sayri Topa terras e casas em Cusco se ele deixasse a isolada Vilcabamba. Sayri Topa aceitou, mas durante os preparativos, seu tio Paullu Inca morreu repentinamente. Isso foi visto como um mau presságio (ou um sinal de traição espanhola) e Sayri Tupac permaneceu em Vilcabamba.

  Em 1556, um novo vice-rei espanhol, Andrés Hurtado de Mendoza, chegou à colônia, acreditando que seria mais seguro para os espanhóis se Sayri Topa vivesse na área onde os espanhóis haviam se estabelecido, onde os conquistadores poderiam controlá-lo.


Sayri Topa concordou em deixar Vilcabamba, viajando em uma rica liteira com 300 pessoas e em 5 de janeiro de 1560 foi recebido pelo vice-rei Hurtado, em Lima.
Sayri Topa renunciou a sua reivindicação ao Império Inca, aceitando o batismo como Diego. Em troca, ele recebeu um perdão total, o título de Príncipe de Yucay, um local no nordeste, a um dia de viagem de Cusco, onde se tornou residente, e grandes propriedades.
Significativamente, ele deixou para trás a mascapaycha, a faixa vermelha real, símbolo de sua autoridade.


Sayri se casou com sua irmã Cusi Huarcay depois de receber uma dispensa especial do Papa Júlio III. Eles tiveram uma filha. Sayri Topa nunca mais voltou a Vilcabamba.
Ele morreu repentinamente em 1561. Seu irmão Titu Cusi Yupanqui assumiu o controle de Vilcabamba e da resistência inca aos espanhóis. Titu Cusi "suspeitava" que Sayre Topa havia sido envenenado pelos espanhóis.


No final do cânion do vale, a quarenta e cinco quilômetros de Machu Pichu, o Vilcanota recebe, à direita, as águas do Lucumayo (das geleiras La Verónica), e à esquerda, um quilômetro abaixo, as do Vilcabamba. A poucos metros da foz deste rio, uma enorme rocha, encalhada no centro do leito do rio Vilcanota, permitiu aos Incas instalar ali a ponte pênsil Chuquichaca (Ponte das Lanças), que desempenhou um papel importante na época em que os últimos Incas se refugiaram em Vilcabamba.
Em meados do ano 1565, o então ouvidor Juan de Matienzo, encontrou-se pessoalmente com o inca Titu Cusi Yupanqui na ponte Chuquichaca. O ouvidor de Sua Majestade tinha uma proposta de retomada das negociações interrompidas há anos. Nesta ocasião, o Inca deu ao ouvidor uma memória (4) "dos agravos que ele e seu pai haviam recebido.¨ Segundo Matienzo, o inca "então disse a seu secretário (5) que escrevesse uma carta, que ele mesmo anotara em sua língua, porque entende pouco espanhol".

Essas negociações levaram à assinatura, pelo Inca, em 26 de agosto de 1566, da chamada "capitulação de Acobamba", tratado de paz que previa a "vassalagem" de Titu Cusi Yupanqui e a posse de Diego Rodríguez de Figueroa como corregedor de Vilcabamba. Diego Rodríguez de Figueroa disse ao inca Titu Cusi Yupangui que para a "capitulação" era necessário que ele jurasse, como se fazia entre os incas, falar a verdade. Após o juramento do Inca, Figueroa, na presença do Padre Antonio de Vera, Martín de Pando, Diego de Olivares e Rimachi Yupangui, capitão geral do Inca, e Yamque Mayta, seu governador, e os demais capitães e povo, fez as perguntas que considerou necessárias para o "testemunho".
 
Diego Rodríguez procedeu, em 8 de julho de 1567, a colher dados com os depoimentos do Inca e alguns de seus dignitários e familiares, a fim de avaliar perante o Rei os direitos de sucessão de Titu Cusi Yupanqui e seus descendentes.




Imagino que, sendo mês de julho, o céu devia estar claro, azul, o sol deve ter brilhado o dia todo e a cordilheira de Vilcabamba, uma pequena cordilheira dos Andes que se estende por cerca de duzentos e sessenta quilômetros a noroeste da cidade de Cusco tenha estado, naquele dia, contrastada de verdes de todos os matizes e tons. A cadeia, evidenciando a erosão dos rios, caracterizada por desfiladeiros profundos e alturas de mais de seis mil metros, ocultava a espinha de Pumasillo, ou Garra do Puma, pois ocultava os segredos das almas dos incas naquele instante ( 7).

Os cronistas do século 16 se referiram a essas montanhas cobertas de neve mencionando o cenário da resistência iniciada por Manco Inca. Naquele dia, a encosta oriental da Cordilheira dos Andes e as pastagens de puna em sua parte mais alta, ofereciam seus bosques característicos com cores de profunda tristeza às rajadas de vento que os empurravam pelas encostas até os estreitos rios, esculpidos nas profundas gretas e cânions.




(Vilcabamba)




(*) Segundo Frei Martín de Murúa, "... ele nomeou seu filho como herdeiro, o mais velho, embora pequeno, chamdo Saire Topa, e que enquanto ele não fosse maior de idade para governar e assumir o senhorio, que os governassem Ato Supa, um capitão orejón de Cuzco  que estava lá com eles, que era um homem de valor e grande prudência e coragem para a guerra, e disse-lhes que lhe obedecessem e não abandonassem a terra de Vilcabamba, ...
(1) Titu Cusi Yupanqui.
(2) Paullu Tupac (Topa), irmão de Manco Inca, havia lançado sua sorte com os espanhóis, sendo batizado com o nome de Cristóbal em 1543. Recebeu uma conceção do palácio Colcampata, sobranceiro a Cuzco. Casou-se com Catalina Maria Usica, sua prima, e teve dois filhos, Carlos e Felipe. Paullo morreu em maio de 1549.
(3) Sayri Tupac (1535 - 1561)
(4) O texto Matienzo reproduz, no ano de 1557, em sua obra Gobierno del Perú.

(5) o mestiço Martín Pando, "escrivão e intérprete".
(6) Monte Salcantay.
(7) Com sua ampla faixa superior, o Pumasillo não pode ser avistado das cidades vizinhas. Embora sua existência fosse conhecida, o Pumasillo, em mapas, apareceu em 1956.




BIBLIOGRAFIA 
  
Pedro Sarmiento de Gamboa, Historia de los Incas.
Juan de Matienzo, Gobierno del Peru.











1.05.2021

O AMOR JAZ SANGRANDO NA ETERNIDADE E NA FLORA DE GUAMANGA

 














Dos caules principais lançam suas enormes inflorescências vistosas que irrompem das hastes e folhas e flores de cores roxas, vermelhas e douradas.

Amarantáceas de rápido crescimento, de caules eretos, cilíndricos e folhas bem desenhadas contra a luz do sol, até onde o olhar alcança.

Eretas, semieretas ou soltas, cada panícula com suas atraentes flores, masculinas e femininas, que se autopolinizam, se antes não tiverem sido polinizadas pelo vento, cujos frutos contêm uma única semente com uma gama diversificada de cores, do preto ao vermelho, do marfim, ao branco.

Ramos de forma cilíndrica, que as vezes brotam firmes, seguros, desde a base da planta, onde uma curta raiz principal orienta as secundárias para baixo, chão adentro.

A força do movimento que ninguém vai perceber, implícita no tempo, no crescimento, distinguindo-se, as espécies, pela cor do caule, pela forma da panícula, do fruto, das sementes; maiores, menores, baixas, altas, rústicas, resistentes.

As sementes, tão pequenas, precisam ficar próximas à superfície para germinar, quando uma leve camada de terra deverá cobri-las e a estação úmida lhes dará o impulso para a vida; quando bem desenvolvidas, as raízes profundas das espécies maiores permitem que as plantas atravessem, bravamente, possíveis períodos de seca, tolerando até mesmo alguma salinização do solo, causada pelo  acúmulo excessivo de sais minerais provenientes das águas das chuvas, do mar ou pela irrigação na agricultura.

As panículas, se forem colhidas, deverão ser deixadas ao sol para terminar de secar por dois ou três dias, quando, então, serão batidas para que as sementes se soltem.



O amor jaz sangrando nas manchas da paisagem atraindo borboletas, abelhas e outros polinizadores. O amor jaz sangrando em flores, cuja cor é mais forte quanto mais o solo é pobre, e, se não desejarmos que ele se propague, antes que as sementes espalhem-se, caindo ao chão, em miríades de outros amores jazendo em sangue sobre a terra, devemos cortar as panículas com as sementes, ou teremos de eliminar as pequenas mudas, antes que elas tomem gosto pela vida. Penso que o amor jaz sangrando deveria  ser livre para nascer, crescer e se espalhar para além da própria beleza.



Nome científico: Amaranthus caudatus, da familia Amaranthaceae


Nomes comuns : Kiwicha, amaranto, trigo inca, achis, achita, chaquilla, sangorache, borlas, quihuicha, inca jacato; ataco, ataku, sankurachi, jaguarcha, millmi, coimi. Em Inglês e Português, entre outros nomes, love-lies-bleeding e amaranto cauda-de-raposa.


















1.02.2021

TUPAC AMARU - FUGA E PRISÃO










Tupac Inca Yupanqui e seus capitães haviam entrado na Floresta Amazônica, a mais terrível e assustadora, com muitos rios, onde suportaram muitas coisas, além da mudança de clima nas florestas quentes e úmidas do Antisuyo. Os soldados do Inca adoeceram e muitos morreram. O Tupac Inca perdeu-se nas matas, com um terço dos homens que o acompanharam na conquista, por muito tempo, sem saber que direção tomar, até que Uturuncu Achachi o devolveu à estrada.


Nesta ocasião, Tupac Inca Yupanqui (1) e seus capitães conquistaram quatro grandes tribos, a terceira foi chamada de Mañaris ou Yanasimis, que significa aqueles de boca (língua) negra, e a província dos chunchos. Na descida do rio Tono, eles penetraram longe até Chiponauas. O Inca enviou outro grande capitão, chamado Apu Curi-machi, ao longo da rota agora chamada Camata. Essa rota era na direção do nascer do sol, e ele avançou até chegar ao rio que só conhecia por relatos, chamado Paytiti, onde estabeleceu os pilares da fronteira inca Tupac Yupanqui.


“Topa Inga e seus capitães conquistaram quatro grandes nações desta vez. A primeira foi a dos índios chamados Opatários e a outra chamada Manosuyo e a terceira é dita dos Mañaries ou Yanaximes, que significa os de bocas negras, e a província do rio e da província dos Chunchos. E descendo o rio Tono percorreu muita terra e chegou aos Chiponauas. E ao longo do caminho, que agora chamam de Camata, enviou (sic) outro grande capitão seu chamado Apo Curimache, o qual foi na volta do nascimento do sol e caminhou até o rio, do qual agora (sic) novamente se teve notícia, chamado Paytite, onde ele colocou os marcos do Inga Topa. "(Sarmiento de Gamboa

Esta expedição de Túpac Inca Yupanqui na montanha Paucartambo e ao longo do rio Tono é tão importante que Garcilaso de la Vega a descreve em muitos capítulos. Ele diz que cinco rios se unem para formar o grande rio Amaru-Mayu ou rio serpente; ele estava inclinado a pensar que era um afluente do Río de la Plata e descreve violentas batalhas com os chunchos, que foram reduzidos à obediência.

Como seu ancestral Tupac Inca Yupanqui, que havia penetrado na região dos Antis para conquistar e expandir as fronteiras do Império, Tupac Amaru também o fez, mas devido à necessidade de escapar dos espanhóis que haviam tomado a última rede de resistência Inca, Vilcabamba.


“Mas como a montanha de arvoredo  era muito densa e cheia de vegetação rasteira, eles não conseguiam rompê-la, nem sabiam por onde tinham que andar para encontrar as cidades que estavam escondidas (sic) muitas estavam na montanha. E para descobri-las (sic) os exploradores subiam nas árvores mais altas, e onde viam (sic) fumaça, apontavam naquela direção. E assim iam (sic) abrindo caminho até que perderem aquele sinal e pegarem outro ... ”. (Sarmiento de Gamboa)

Nas bacias dos rios Marañon, Huallaga e Ucayali (2), em abril ou maio, no final da estação chuvosa, surge o período de floração da camada arbustiva que cobre a maior parte do território. Formando comunidades puras ou mistas, as ervas predominam, cobrindo as clareiras com suas gramíneas e poáceas, dando a impressão de dominar.

Na planície amazônica, coberta por uma camada de árvores de até cinquenta metros de altura, que se caracterizam por cúpulas justapostas que impedem a passagem da luz do sol para o sub-bosque, além dos robustos troncos que sustentam muitas espécies trepadeiras como as lianas e os cipós que escalam o tronco em busca de luz para florescer.

Paisagens surpreendentes em encostas verticais por onde caem as cataratas. Caminhos íngremes que descem da floresta nublada, até dois mil metros, cheios de epífitas, bromélias, orquídeas e ervas com folhas pendentes e largas.


Desfiladeiros estreitos cujos pisos de vegetação apresentam várias plantas com flores coloridas, ervas e pequenas árvores de caule médio. Florestas com trepadeiras com flores rosadas de inflorescências que levam os ramos até o próprio rio. Arvorezinhas de tronco baixo, folhas longas com caule estendido atté o chão, sem enraizamento, com sementes duras, esbranquiçadas e arredondadas.
Para as copas das árvores entre vinte e cinco e trinta e cinco metros de altura, onde as copas se entrelaçam, existe uma camada que os especialistas chamam de dossel, um conjunto contínuo de copas de árvores. Se a vemos do ar, essa camada parece uma tapeçaria contínua, cheia de verde. Por ter luz solar abundante, nele crescem muitas plantas epífitas, como bromélias e orquídeas, entre os galhos, complementados por galhos e folhas de trepadeiras. Com a abundância de folhas, flores e frutos que mantêm essa cadeia alimentar, uma grande variedade de animais vive ali, sem nunca descer ao solo.


“Então Topa Inga (Tupac Yupanqui) e os ditos capitães entraram na Cordilheira dos Andes, que são terríveis e assustadoras montanhas de muitos rios, onde teve muito trabalho, e o povo que levava desde Peru (sic), com a mudança das tempéries da terra, porque (sic) Peru é terra fria e seca e as montanhas dos Andes são quentes e úmidas, os guerreiros de Topa Inga adoeceram e muitos morreram. E o mesmo (sic) Topa Inga com um terço das pessoas que ele (sic) tomou para com elas conquistar,  ficaram muito tempo perdidos nas montanhas sem conseguir sair de um extremo ou outro, até que Otorongo Achachi (um dos capitães do Inca) encontrou-se com ele e o encaminhou. " (Sarmiento de Gamboa)


Segundo os especialistas, a floresta amazônica se caracteriza por apresentar uma grande diversidade de espécies da flora e da fauna, mas com baixa concentração de indivíduos por área. É mais fácil encontrar dezenas de espécimes de espécies diferentes em um determinado espaço do que dez indivíduos da mesma espécie na mesma área (3).

A vegetação rasteira e o campo aberto diversificam a vegetação, formando um mosaico de cobertura para seus estratos arbustivos que, com chuvas abundantes, geram plantas herbáceas efêmeras que murcham e desaparecem com o fim das chuvas, deixando apenas os cactos e os arbustos mais resistentes.


As copas das árvores mais altas, projetando-se do dossel contínuo das copas, como a castanheira, formam o dossel das copas emergentes. Pelos caules ou troncos das árvores, amplamente recobertos por plantas epífitas, como bromélias, aráceas, samambaias e também cipós de trepadeiras, existe um mundo em miniatura. Entre os troncos, onde se encontram ovos, o acúmulo de matéria orgânica e um complicado sistema de troncos mortos, desenvolve-se uma vida animal ativa, com mamíferos, pássaros, répteis, anfíbios, insetos. Ao descer um pouco mais, o estrato de sub-bosque, de baixa densidade, composto por arbustos e ervas que sobrevivem à pouca luz que ali consegue penetrar.
Com uma camada mais ou menos profunda de matéria orgânica, onde se desenvolve uma intensa vida animal, entre os restos de folhas e troncos em decomposição, nos quais atuam os organismos que decompõem a matéria orgânica, nós descemos ao solo.


Descemos ao chão ...



Em 1572, os espanhóis, na pessoa do general Martín Hurtado de Arbieto, queriam muito prender Tupac Amaru, acreditando que a guerra não terminaria até que ele fosse capturado e que, enquanto o inca fosse livre, todos permaneceriam em estado de revolta. Então, mesmo com a tomada de Vilcabamba, ordenou ao general Martín García de Loyola que fosse a sua procura e em busca de seu tio Hualpa Yupanqui, general dos incas, que fugira com ele.

“Saíram com ele quarenta soldados pelo rio Masahuay de los Manaris, na província dos Andes, índios chunchos, e foram caminhando quarenta léguas desde Vilcabamba, e neste rio que vai dar ao Marañón, ou é o próprio Marañón, e deságua no mar do norte, encontraram nele seis toras de balsa muito leves, que eram aquelas com as quais os Ynga e seus capitães e gente haviam passado da outra banda, ... ”(Murúa)

“Estando alojados, ao meio-dia, ele e seus soldados na montanha de árvores muito grandes e muitos manguezais altos, viram cinco índios chunchos lavando-se na água nesta outra parte, e um que estava em  atalaia, pescando sáveis com sua flecha, que há uma grande abundância naquele rio, e a flechadas matam os índios  na água. O capitão tratou de obter alguns daqueles índios, para informar-se e saber do Inca, porque ninguém poderia saber melhor, e ordenou que seis soldados se preparassem. "(Murúa)


“Conforme os índios entravam na montanha, metiam-se de dois em dois nas balsas e passando para o outro lado tentavam pegá-los como podiam, pois apareceu fumaça na montanha, e era porque faziam comida numa cabana, que tinha trezentos e cinquenta braças de comprimento, com vinte portas, ... ”(Murúa)

"Postos no outro lado foram então para o local que havia sido marcado, e tiveram tanta sorte que de repente encontraram sete índios chunchos e com singular presteza pegaram logo os cinco, e dois escaparam por haver na cabana tantas portas. Não aconteceu de tomar suas flechas, pois eram feitas de colas de bayas (4). "(Murúa)



“Eles encontraram milho cozido e mais de cinquenta sáveis na cabana. Eles asseguraram aos chunchos, com expressões de muito amor; falando-lhes através de um índio que passara com eles e que conhecia a deles, disseram-lhes que não tivessem nenhum medo, que não lhes fariam mal ou agravos. " (Murúa) "Saíram da cabana com eles e subiram a montanha descobrindo-se na margem do rio, saldando os companheiros que eram da outra banda com arcabuzes. Depois, passando pelas balsas, entraram nelas,o capitão Martín García de Loyola e seus soldados e atravessaram o rio, onde comeram em silêncio e com grande contentamento e alegria da presa que havia feito, pois encontraram na cabana trinta cargas de roupas finíssimas do Inca, e muitos veludos raros e ricas sedas, muitos fardos de Rouen e Holanda, panos e palhas, botas e muitas penas de Castela da terra e, acima de tudo, uma abundância de vasos de ouro e prata, e louças do serviço Ynga. (Murúa)

“Toda a gente se alegrou com tanta e tão rica presa, parecendo-lhes que Tupa Amaro não podia deixar de estar tão perto dali, porque tinha tantas coisas dele na cabana, guardada por aqueles chunchos. Então o capitão Martín García de Loyola tratou, por meio de um intérprete com os índios chunchos tratou, de fazer aparecer seu curaca, e com agrados e presentes que lhes dava, apareceu-lhes Ispaca, seu cacique, e veio até onde estava o capitão, que o recebeu muito bem ”. (Murúa)

“Este era o principal dos índios chunchos manaries, com quem falou, persuadindo-o a dizer onde estava Tupa Amaro. Para o obrigar ainda mais, deu-lhe certas roupas do mesmo Inca, e plumas de Castela, e que se o tratasse com verdade e fidelidade lhe daria muito mais e nenhum dano seria feito à sua terra ou ao seu povo. " (Murúa)


O assustado Ispaca disse que havia cinco dias que ele saíra daquele lugar,  para entrar no mar em canoas e ir para Los Pilcosones, outra província terra adentro.

Que a esposa de Topa Amaro estava com medo e triste por estar em dias de parto, e que ele mesmo, por amá-la tanto, a ajudava a carregar seus pertences, e a esperava, caminhando aos poucos.


Ao dar aqueles presentes e vestes do Inca para Ispaca, ele não quis recebê-los, dizendo que foi uma grande traição que ele fez ao seu senhor. "(Murúa)


Martín García de Loyola prendeu o cacique Ispaca, e naquela mesma tarde saiu em busca de Tupac Amaru, para que não fugisse com seu general Hualpa Yupanqui. Ele deixou cinco soldados na cabana para guardar a presa, roupas e louças e quatro índios para mandar-lhe comida.
Com trinta e sete soldados ele entrou na montanha pelo caminho que seguira o Inca, e depois dele foi logo a comida - dez cargas de milho, cinco de amendoim, três de batata doce e oito de iúca.
Caminharam quinze léguas até onde encontraram Tupac Amaru.


“... que se desviara do caminho, e junto a um braço, de mar, que é como se pode chamar aquele rio grande. Se no dia que teve a nova Martín García de Loyola, e no próximo, não andasse, não lhe poderia alcançar de nenhum jeito, porque naquele dia ele teria feito grandes coisas com sua esposa, perturbando-a {para} que entrasse na canoa para que pudessem andar mar à frente. Mas ela teve muito medo de entrar naquele mar aberto, que tinha mais de cento e cinquenta léguas de mar, e esta foi a causa de sua prisão e morte. Porque se entra na canoa e se faz ao largo, seria impossível pegá-los, pois já lhes haviam trazido comida, provisões para atravessar aquele mar aberto até a outra parte, e com isso ficariam fora de controle. ”(Murúa)


Caminhando às nove horas da noite, dois soldados mestiços, que iam na frente, chamados Francisco de Chávez e Francisco de la Peña, descobriram uma fogueira de longe, e foram chegando aos poucos até chegar onde estava o Inca Tupac Amaru com sua esposa e seu General Hualpa Yupanqui, que estavam se aquecendo.

“Ao chegarem sobre eles, para não os incomodar foram muito corteses, dizendo-lhe para não se aborrecer e que o seu sobrinho Quispi Tito estava em Vilcabamba a salvo e muito bem tratado, sem aborrecimentos ou maus tratos, e que iam para lá por ele seus parentes ... Enquanto nisto, chegou o Capitão Martín García de Loyola, com Gabriel de Loarte e os outros soldados, e apreendeu o Inca, e  tendo estado naquela noite com muito recato e cuidado, pela manhã de volta a Vilcabamba aonde chegaram a salvo, sem que nada acontecesse a eles. ”(Murúa)

Vilcabamba, destruída e queimada, viu entrar, uma vez mais, o Inca, abrigando-o no colo, agora prisioneiro, por mais de um mês antes que o General Arbieto, por ordem do Vice-rei Francisco de Toledo, mandasse todos os presos ao Cuzco.

“Topa Amaro Ynga era muito afável, bem condicionado e discreto e de muito boas palavras e motivos, sério e sincero, que não fez caso de nada, nem mostrou estima ou importância por tudo que ele perdeu lá, e lhe tirou Loyola, e os outros soldados que tinham ido com ele, mais do que uma pena matizada com fios de ouro, cauda de arara.  Por um cobertor vermelho que parecia cetim fino de Granada, lhe pesava dá-la ao chefe Ande em sua pessoa, com uma camisa de veludo preto, e por isso se ressentiu e mostrou-se desgostoso com Martín García de Loyola, pois lhe deu empurrões implorando por mais de um milhão e meio ao que é comumente dito em ouro, prata, roupas de Castela, sedas e muitas barras de prata, fontes e jarros e outras pedras
preciosas, e jóias e vestes. ”(Murúa)

“Assim os mandou prisioneiros para a cidade de Cuzco, e com eles vieram também Curi Paucar Unia e Colla Topa, seus capitães e outros prisioneiros dos mais importantes, que o vice-rei ordenou que  levassem até onde ele estava, para vê-los e executar o que tinha em seu pensamento, ... "

“Vindo assim para Cuzco, Huallpa Yupanqui, tio dos incas, adoeceu, com hemorragia e sangue e, piorando a doença, veio a morrer dela sem chegar a Cuzco, a uma légua dele, para que não visse a dor e a tristeza que nele se destinava a seu sobrinho Tupa Amaro em alguns dias. " (Murúa)



“Este Topa Amaro e sua esposa entregou o capitão Loyola ao General Martín Hurtado de Arbieto,
 ao qual fez o vice-rei dom Francisco de Toledo, com conhecimento de causa, a mercê da governadoria de Vilcabamba, vindo mais tarde intitular-se seu senhorio. ”(Murúa)

O Oriente era para os Incas a terra dos Antis, o Antisuyo, onde tribos  selvagens como Manaríes, Opataríes, Chiponayas, Monobambas, Chunchos, Mojos, Chachapoyas e outros, eram as etnias que constituíam a fronteira oriental do grande Tahuantinsuyu. Além de rios poderosos, pântanos temíveis, clima adverso e terreno incerto, animais selvagens, insetos e canibais.

Nesta paisagem, que adensa verdes profundos na floresta, como em uma pintura antiga, depois de cruzar a extensão de vales e encostas cobertas de arbustos, entrando sem mapas ou bússola, os espanhóis não descansaram até a prisão de Tupac Amaru, o último Inca do Tahuantinsuyo, quando Vilcabamba foi reduzido a ruínas.

Os limites foram empurrados para a floresta amazônica como fortificações e guarnições militares, postos avançados agora camuflados sob trepadeiras, musgos e cipós. Apenas ruínas arqueológicas que perpetuam a presença Inca em recantos escondidos.

Pensando na fuga de Tupac Amaru, acho que ele estava tentando chegar até o mítico Paititi, onde estaria a salvo. Um caminho, descrito de forma vaga pelos cronistas, que conduzia ao "nascer do sol" até o rio Madre de Dios (5).




“O Inca não podia dominar os bárbaros à força, por isso os trouxe para si com lisonjas e presentes, até que teve as suas fortalezas junto ao rio Paititi e gente de guarnição nelas” (Vaca de Castro)
“... embarcaram em suas balsas e seguiram rio abaixo, onde travaram grandes batalhas com os chunchos, que viviam nas margens dos dois lados do rio Amarumayo .... No final de muitos combates e muitos embates, todas as nações de uma e da outra margem daquele grande rio foram reduzidas à obediência e serviço do Inca e eles enviaram em reconhecimento de vassalagem muitos presentes ao Inca Yupanqui ... Reduzidas as nações das margens, ... .. avançaram e conquistaram muitas outras nações, até chegarem à província que chamam de Musu ... que fica a 200 léguas de Cusco. "(Garcilaso de la Vega)

Todos os documentos coloniais que se referem especificamente a Paititi, dizem situá-la a cerca de 200 léguas de Cusco (aproximadamente 1.100 km a leste).

“Depois do rio Paitite ... ... há notícia de uma serra muito rica em metal, e nela há grande força de gente à maneira dos de Peru(sic) e das mesmas cerimônias e mesmo gado e trajes. Os índios dessas províncias são gente de altura, vestidos de algodão e todos com ritos e cerimônias que lembram os Incas do Peru e é terra de minas de ouro ”. (Juan Álvarez Maldonado)

O padre Diego Felipe de Alcaya afirma que, após as campanhas de Túpac Yupanqui, um sobrinho do inca Huayna Cápac exerceu o poder nos territórios ocupados de Antisuyo.
"Assim que o sobrinho do Inca dominou o território, ele despachou seu filho para dar ao Inca um relato do que ele havia conquistado, mas ele confiou a ele o segredo da Terra Rica, para que ele não a deixasse; e que ele apenas lhe dissesse que tinha encontrado chumbo (Titi na língua deles significa chumbo e Pay 'aquele'). E ele ordenou o mesmo aos quinhentos índios que deu para que eles pudessem servi-lo até o Cuzco. E ele ordenou que ele trouxesse suas esposas e filhos, e tias e mães de seus filhos, e que dissessem ao Inca que porque aquela terra era boa para a agricultura, ele a havia povoado e que lhe enviasse carneiros e sementes. ”(Padre Alcaya)

“Quando Guaynaapoc ('Rey Chico') chegou à cidade de Cuzco, encontrou a terra controlada por Francisco Pizarro e seu tio (o inca reinante) preso, e o outro inca retirado em Vilcabamba. Nesta ocasião, convocou (sic) Guaynaapoc os Índios a segui-lo à nova terra que agora chamamos de Mojos. Vinte mil índios seguiram Guaynaapoc (muitos mais daqueles que passaram para Vilcabamba com seu rei), levando consigo uma grande soma de gado da terra e oficiais de prataria. E foi a Paititi, onde foi recebido pelo pai e pelos soldados com muita alegria. ”(Padre Alcaya)



Estou convencida de que quando os espanhóis ocuparam a cidade de Vilcabamba la Vieja e entraram na selva para capturar o inca Túpac Amaru, o inca buscava asilo em Paititi.



“Com o seu regresso (o de Guaynaapoc) perdeu-se notícia destas pessoas, embora sempre tenha ouvido que se trata de gente de Cuzco. E quando Sua Majestade mandou Dom Melchor Inca à Espanha em 1602, muitas pessoas novas foram vistas em Cuzco, e dizia-se que tinham vindo despedir-se dele.
"Con su vuelta (la de Guaynaapoc) se perdió noticia de esta gente, aunque siempre he oído decir que se trata de gente del Cuzco. Y cuando S. M. mandó a Don Melchor Inca a España en 1602, se vio en Cuzco mucha gente nueva, y se dijo que habían venido a despedirse de él."



                                                                   mapa de Paititi

No Museu Eclesiástico de Cusco, Peru, está guardado um antigo mapa feito pelos missionários jesuítas, que teriam chegado a Paititi no século XVII. O mapa é um  desenho com montanhas, rios, figuras humanas e  animais.



Paititi, fortaleza inca ou sonho, fantasia ou realidade?



“Depois do rio Paitite, cujo terreno tem planícies que vão além do dito rio. Essas planícies têm quinze léguas de largura, um pouco mais conforme a conta dos índios até uma cordilheira alta de neves que assemelham aos índios que a víram como as do Peru desnudas.Os habitantes das planícies são chamados de corocoros e os da serra são chamados de pamaynos. Esta serra relatam ser muito rica em metais e gente de grande poder como os do Peru e dos mesmos cerimônias e o mesmo gado e trajes e dizem que os incas do Peru vieram deles. É tanta gente e tão fortes e habilidosos na guerra que com o inca do Peru sendo um grande conquistador, embora tenha enviado a Paitite por muitas vezes muitos capitães não se pôde valer com eles, antes foram rechaçados muitas vezes e visto pelo inca quão pouco poderoso era contra eles, decidiu comunicar-se com o grande senhor de Paitite e por meio de presentes e ordenou ao inca que fizessem próximo ao rio Paitite duas fortalezas de seu nome em memória de que havia chegado ali seu povo. Essa é a notícia de mais quantidade e riqueza de toda a amarica (América?)… na província de Paitite existem minas de ouro e prata e uma grande quantidade de âmbar. Na serra nevada existe uma grande quantidade de gado como o Peru, embora seja menor. Os nativos usam lã e há pedras de menor valor e ricas pedras de cristal. "(Maldonado)

Passado o rio chamado Paitite, terra de planícies, Pedro de Candía, em 1538, entrou na floresta do atual Madre de Dios como o primeiro explorador que conseguiu avançar nas selvas do Antisuyo, navegando no rio Madre de Dios (então chamado Amarumayo ou "rio das cobras"). Juan Álvarez Maldonado, em sua expedição de 1567-1569, adentrou a bacia do rio Madre de Dios, cruzando o vale do rio Tono e chegando ao lugar então denominado Opatari. Quando Maldonado voltou para Cuzco, subiu o rio Tambopata e, voltando ao planalto andino, passou por San Juan de Oro.


No relato que Juan Álvarez Maldonado fez ao chegar a Cuzco, denominado Relação da Viagem e Descoberta do Rio Manu (1572) ( Relación de la Jornada y descubrimiento del Río Manu ) , ele descreve a terra de Paititi em vários momentos.




(0) Faziam o arco tão longo e maior do que a estatura humana, e alguns de oito e dez palmos, de uma certa palmeira negra chamada Chonta, cuja madeira é muito pesada e robusta; a corda de nervos de animais, de Ca-buya ou de outra coisa forte; flechas de material leve, como juncos e outras hastes tão leves como essas ou outra vara arpoada robusta, osso ou dente animal, ponta de sílex ou espinha de peixes. Muitos usavam flechas envenenadas, manchando suas pontas com um forte veneno; mas, das nações deste reino, apenas os Chunchos usavam essa erva venenosa em suas flechas; que não era uma simples erva, mas um preparado feito de várias ervas e vermes venenosos; e era tão eficaz e mortal que qualquer um que ferissem e arrancassem sangue com essas flechas envenenadas, mesmo que não fosse mais do que uma picada de alfinete, morria furioso e fazendo gestos hediondos. Bernabé Cobo. Historia del Nuevo Mundo.

“A leste, vinte e cinco léguas abaixo, entra neste rio de Paucarguambo, pela mão esquerda que desce dos minaries que é para onde está o inca. Desde este rio abaixo chama-se rio magno, e assim  chama-se tudo o que dele se sabe e cinquenta léguas mais abaixo entra o rio de cuchoa, nele pela mão direita que sobe da cordilheira do Peru nos Andes de Cuchoa na qual na sua nascente entram os rios de cayane, rio sangaban, rio de pule pule e quando entra no Magno é um mar. Vinte léguas mais abaixo entra neste rio o rio Guariguaca, pela mão esquerda que nasce na província dos yanagimes das bocas negras, oito léguas mais abaixo à direita entra no magno o rio parabre, que nasce na serra de Carabaya ...



. e doze léguas mais abaixo, o rio Zamo entra pela mão direita, pelas costas dos Toromonas, nasce nos mitimas dos Aravaonas. Trinta léguas mais abaixo pela mão direita entra o rio dos Omapalcas... ... cem léguas deste rio, entra o rio magno entra nos famosos rio e lagoa de Paitite e no mesmo rio ou lagoa de Paitite entra o poderoso e terrível rio de Paucarmayo, que é apurima(c) avancay bilmcas e xauja e muitos outros que nascem entre estes e desta lagoa sai a curva leste quase a nordeste em direção ao mar do Norte. Deve-se notar que o Paucarmayo entra no Paitite pela mão esquerda. Até o Paitite é chamado de rio Magno e desde alí para baixo é chamado de Paitite. Desde onde nasce até onde se acredita que vai sair para o mar do norte, corre mais de mil léguas até as margens deste rio Magno e aqueles que entram nele da cordilheira do peru até paitite, foram descobertas muitas e se tem notícia certa de muitas outras províncias ... "(Maldonado)


O tenente Juan Recio de León, nas primeiras décadas do século XVII, empreendeu várias viagens à zona de Beni (perto da confluência com o Tuychi), na terra dos Anamas, os nativos que Juan Álvarez Maldonado conheceu.


“... Trouxeram-me três ou quatro índios principais, muito vaqueanos (6), e questionando eles responderam que por terra ou por água chegariam em quatro dias a um grande lago (lagoa) e que nele há muitas ilhas, muito povoadas por infinitas pessoas, e que o senhor de todos elas se chama Gran Paytiti. Esses índios também me contaram notícias de um grande número de pessoas ... que eles são muito ricos em prata e gado de carga dos criados no Peru (sic). Também me contaram isso ... todos esses índios usam algodão. Eles usam ritos e cerimônias iguais aos criados no Peru (sic). Contara. Usam ritos e cerimônias iguais aos do Peru por ser indios que procederam dos que o Inca fez entrar aqui como guarnição. Estão retirados no dito descobrimento de Paititi a maior parte dos índios que faltam do Peru. " (Juan Recio de León)



Para finalizar, uma bela história do guia Francisco "Pancho" Cobos Umeres (natural do vale de Vilcabamba e grande conhecedor da região) no ensaio "Expedição a Vilcabamba - Romantismo, Ciência e Aventura - Os Exploradores e o Imaginário", do Professor Fernando Jorge Soto Roland (Professor de História-Diretor da Expedição Vilcabamba '98). Segundo Francisco, para muitos moradores do vale, Paititi é uma cidade perdida subterrânea que está encantada. Segundo ele, as pessoas dizem que...



“Assim que eles vão chegando, o tempo começa a mudar, fica nublado, começa a chover ... E também tem muita cobra na estrada. Mas, com tudo isso, tem gente que entrou, que conseguiu passar pela primeira porta, que é muito bonita, lindo, com pedras muito finas. Dentro dele há um prédio inteiro como um palácio, uma residência inca. E é muito difícil de penetrar porque está cheio de cobras e víboras venenosas. As pessoas que voltaram daquele lugar foram mordidas. Esta é a história que muita gente fala sobre Paititi, a cidade perdida. 

“Coração do coração, terra in dia de Paititi,

cuja gente é chamada de in dios:

todos os reinos fazem fronteira com ele, mas ele não faz fronteira com nenhum.

Estes são os reinos de Paititi, onde se tem o poder de fazer e desejar,

onde o burguês só encontrará comida e o poeta talvez possa abrir a porta

fechada desde os tempos antigos, do mais puríssimo amor. Aqui se pode ver sem atalhos a cor do canto dos pássaros invisíveis.

(mapa de Paititi)

""Corazón del corazón, tierra in dia del Paititi,

a cuyas gentes se llama in dios:

todos los reinos limitan con él, pero él no limita con ninguno. 

Estos son los reinos del Paititi, donde se tiene el poder de hacer y desear, 

donde el burgués solo encontrara comida y el poeta tal vez pueda abrir la puerta 

cerrada desde antiguo, del mas purísimo amor.

Aquí puede verse sin atajos el color del canto de los pájaros invisibles.

(mapa del Paititi)

“Foi assim que entrei na minha paróquia, fazia apenas dois meses quando um habitante do lugar se apresentou e me disse que vinha de Paititi, como eu não conhecia nada da região pensei que fosse uma comunidade que era muito longe e que teria vindo pedir-me uma missa. Este personagem contou-me a história daquela cidade a qual se chegava passando pela Quebrada de Mameria, daía quebrada se estreita e é atravessado por meio de uma ponte que tem um engano, tem que pisar na parede que é dourada e não sobre a ponte porque está preparada para deixar cair qualquer um que pise nas suas tábuas. Depois, há uma com uma lagoa com cerca de 200 metros de comprimento, na qual existem alguns pilares de pedra, ao nível da água por onde se pode atravessar, de lá se encontra um longo túnel de quase um quilômetro de comprimento, em trechos se vêem os restos de algumas jaulas onde se colocavam jaguares para que acabassen com os intrusos ... e de lá se saía para uma praça no meio da cidade de Paititi. " (entrevista do padre salesiano Juan Carlos Polentini Wester a Jesus Egido)

                                 


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(1) “Tupac Inca e seus capitães conquistaram quatro grandes nações desta vez. A primeira foi a dos índios chamados Opataries e a outra chamada Manosuyo e a terceira é dita dos Mañaríes ou Yanaximes, que significa aqueles das bocas pretas. , e a província de Río e a província de Chunchos. E descendo o rio Tono abaixo andou muito e chegou até os Chiponanas. E ao longo da estrada que agora chamam de Camata ele enviou outro grande capitão seu chamado Apu Curimachi, o qual foi a volta do nascer do sol e caminhou até o rio de que agora estamos novamente tendo notícia, chamado de Paytiti, onde colocou os marcos do Inca Tupac. " (Sarmiento de Gamboa)

(2) A região dos Pongos é muito importante porque se o rio Marañón não existisse, não se juntaria ao rio Ucayali para formar o rio Amazonas, que não seria o rio longo e caudaloso que é. O rio Marañon possui um vale localizado na cordilheira ocidental dos Andes.

(3) O Parque Nacional do Manú se estende de 300 metros acima do nível do mar, na confluência do rio Manú com o rio Madre de Dios, a 3.800 metros acima do nível do mar, no cume da montanha Apu Kañajhuay. Alguns pesquisadores acreditam que nas áreas virgens dessa reserva está o Paititi ou cidade perdida dos Incas.

(4) ¨Faziam o arco tão longo e maior do que a estatura humana, e alguns de oito e dez palmos, de uma certa palmeira negra chamada Chonta, cuja madeira é muito pesada e robusta; a corda de nervos de animais, de Ca-buya ou de outra coisa forte; flechas de material leve, como juncos e outras hastes tão leves como essas ou outra vara arpoada robusta, osso ou dente animal, ponta de sílex ou espinha de peixes. Muitos usavam flechas envenenadas, manchando suas pontas com um forte veneno; mas, das nações deste reino, apenas os Chunchos usavam essa erva venenosa em suas flechas; que não era uma simples erva, mas um preparado feito de várias ervas e vermes venenosos; e era tão eficaz e mortal que qualquer um que ferissem e arrancassem sangue com essas flechas envenenadas, mesmo que não fosse mais do que uma picada de alfinete, morria furioso e fazendo gestos hediondos.¨ Bernabé Cobo. Historia del Nuevo Mundo.

(5) O rio Madre de Dios, também conhecido pelo nome de Amaru Mayo (ou Magno), nasce na província de Paucartambo, em Cusco, com o nome de Picopata. Despeja suas águas no Amazonas, em território brasileiro, com o nome de Rio Madeira. Recebe vários afluentes que formam vales importantes de Alta Floresta - Cosñipata, Tono, Piñipini e Pantiacolla. Ao receber as águas do Rio Manú, entra na Floresta Baixa, formando um vale pouco habitado. Na margem esquerda seu afluente é o Tacuatimanú ou de las Piedras. Em sua margem direita, recebe os rios Inambari e Tambopata que formam os importantes vales da Floresta Alta. Um dos afluentes do Inambari é o Marcapata, em Cusco, que hoje forma um vale densamente povoado. (Enc. História e Geografia do Peru)


( 6 ) vaqueano ou baqueano - termo espanhol -

1. que é experiente e hábil em um determinado assunto. Es un baqueano para encontrar salidas seguras. (Ele é um baqueano para encontrar saídas seguras.)

2. conhecedor de caminhos e trilhas inóspitas. Los turistas perdidos fueron encontrados por un joven baqueano.(Os turistas perdidos foram encontrados por um jovem baqueano.)


Referências:

-Fray Martín de Murúa, Historia General del Peru.
-Historia de los Incas, Pedro Sarmiento de Gamboa, (Madrid, España 2001).
-Enciclopedia de Historia y Geografía del Perú, Techmedia 1998. 
-Comunidades Vegetales de la Cuenca Superior de los Ríos: Marañón, Huallaga y Ucayali (pdf)
-Relación de la Jornada y descubrimiento del Río Manu (1572), Juan Alvarez Maldonado.
-Yuri Leveratto, El reino amazónico del Paititi (Copyright 2010).