Ao assumir o governo de Quito, em 1541, Gonzalo Pizarro tinha em mente explorar as vertentes orientais dos Andes, em busca do lendário país do Eldorado ou, pelo menos, do reino da canela, especiaria de grande valor comercial no século XVI. Juntara-se, à campanha do Governador, o grupo do capitão Francisco de Orellana mas, no final daquele ano, concluíram a penosa travessia dos Andes gelados sem encontrar nem ouro nem canela que pudesse compensar os desastres da empreitada. A fantástica mata fechada não revelava sua riqueza aos exploradores exaustos e famintos. Gonzalo Pizarro determinou que construíssem um barco para navegar pelo rio a procura do que comer. Orellana, e mais cinquenta e sete homens, partiram, então, rio abaixo, no barco e em canoas, com o propósito de retornar tão logo encontrassem alimentos. Entre eles estava Frei Gaspar, que registrou em seu diário uma viagem só de ida rumo à foz do rio mais importante do planeta pelo volume de suas águas. Do Coca ao Napo, do Napo ao Ucayali, no Brasil chamado Solimões, foram descendo, arrastados pela corrente violenta, o que os fez desistir de tentar a volta. Diante da falta de alimentos, chegaram a comer os próprios cintos e as solas dos sapatos, cozidos com algumas ervas. Ao atingir a confluência do rio Madeira, de acordo com o relato do cronista dominicano, foram atacados por Amazonas, no mês de junho do ano de 1542. Desse modo, no coração da selva tropical, no âmago da América recém-descoberta, renascia o mito das mulheres guerreiras.
Encontrando-se com Gonzalo Pizarro, que dirigia-se a Quito (atual Equador), onde tomaria posse do governo, Frei de Carvajal teve sua vida ligada à de Gonzalo para sempre, o que os colocou como personagens principais da história da Amazônia.
Integrado à comitiva do irmão de Francisco Pizarro, o famoso aventureiro espanhol, destruidor do Império Inca, Frei de Carvajal, acabaria tornando-se o cronista oficial da primeira expedição a percorrer o rio Amazonas, desde os Andes até o Oceano Atlântico.
O aventureiro e explorador espanhol Francisco de Orellana ( 1490 - 1550 ) que,
em 1535, também participara, juntamente com Francisco Pizarro, da destruição do Império Inca, entre 1540 e 1541, integrou a expedição de Gonzalo Pizarro que explorou o rio Napo; em seguida, prosseguiu com alguns homens até ao vale do rio Amazonas, tendo sido o primeiro a percorrer, integralmente, seu curso, desde os Andes ao oceano Atlântico.
Afirma-se que esta expedição de Orellana, polêmica, em 1535, penetrou pela foz do rio Orinoco. Subindo-o, descreveu que, numa única viagem, num incrível emaranhado de rios e afluentes amazônicos, teria encontrado o rio Cachequerique - raríssimo e incomum fenômeno fluvial que une o rio Orinoco ao rio Negro e daí ao Amazonas.
Segundo o relato do escrivão do grupo, o padre dominicano Gaspar de Carvajal, eles foram atacados por mulheres guerreiras na foz do rio Jamundá e, lembrando as lendas sobre as amazonas, Orellana nomeou o rio.
Ao regressar a Espanha, relatou ao rei a viagem, e conseguiu dele a concessão das terras que havia descoberto.
Conforme consta da "Relación", de frei Gaspar de Carvajal, a viagem empreendida por Orellana em 1541 e 1542 pelo maior rio do mundo, ajudou a recriar a lenda das mulheres guerreiras, as amazonas da mitologia grega clássica.
As icamiabas eram mulheres que dominavam a região, próxima ao rio Amazonas, riquíssima em ouro. Quando Orellana desceu o rio em busca de ouro, descendo os Andes (1541) o rio ainda era chamado de Rio Grande, Mar Dulce ou Rio da Canela, por causa das grandes árvores de canela que existiam ali. A belicosa vitória das icamiabas contra os invasores espanhóis foi tamanha que o fato foi narrado ao rei Carlos V, o qual, inspirado nas antigas guerreiras hititas, ou amazonas, confirmou o nome do rio de Amazonas. Amazonas é o nome dado pelos gregos às mulheres guerreiras.
Desde antes de Cristo que se falava na existência de mulheres guerreiras, que viviam sós, distante de homens, com os quais se encontrar-se-iam para fins de acasalamento, para depois criar, apenas, as crianças do sexo feminino. Eram as amazonas, ( do grego a (não, sem) e mazós (seios)), ou seja, as mulheres sem seios, pois tais mulheres, quando ainda jovens, deviam queimar ou atrofiar o seio direito, a fim de facilitar o manejo do arco. Nascida tal história com a mitologia grega, espalhou-se durante a Idade Média, chegando aos tempos modernos, cujo o tema tem inspirado muitos escritores e artistas. Tais amazonas reinariam na região da Capadócia, situada na Ásia Menor.
Em 1541, após descer o afluente Napo e chegar ao, então, Mar Dulce, nome que Pinzon dera ao Rio Amazonas, eis que Francisco de Orelhana é atacado por uma tribo de mulheres que, no testemunho de Frei Gaspar de Carvajal, "são muito alvas e altas, com o cabelo muito comprido, entrançado e enrolado na cabeça. São muitos membrudas e andam nuas em pelo, tapadas as suas vergonhas, com os seus arcos e flechas nas mãos, fazendo tanta guerra como dez índios e, em verdade, houve uma delas que encravou um palmo de flecha num dos bergantins, e outras pouco menos, de modo que nossos barcos pareciam porcos-espinhos" – registrou em seu diário o Frei, que na aventura teve um olho vazado por uma flecha. Nesse mesmo escrito, Carvajal informa que eram dez ou doze as Amazonas que por eles foram vistas, sendo que sete ou oito delas foram mortas na batalha. E acrescenta detalhes a respeito de seus costumes, que teriam sido fornecidos por um índio então capturado.
Em seu relato, Carvajal narra que, embora tivessem abatido vários índios comandados pelas mulheres e, mesmo, algumas delas, os espanhóis viram-se obrigados a fugir, capturando um único índio. Este, mais tarde, ao ser interrogado, declarou pertencer a uma tribo cujo chefe, senhor de toda a área ( o ataque tinha se dado na foz do Rio Nhamundá ), era súdito das mulheres que residiam no interior. Na qualidade de súditos, obedeciam e pagavam tributos às mulheres guerreiras, acompanhadas pela rainha Conhori. O prisioneiro, respondendo a várias perguntas do comandante, disse que as mulheres não eram casadas e que sabia da existência de setenta aldeias delas. Descreveu as casas das mulheres como sendo de pedra e com portas, sendo todas as aldeias bastante vigiadas. Disse ainda que elas pariam, mesmo sem ser casadas, porque, quando tinham desejo, levavam os homens das tribos vizinhas à força, ficando com eles até emprenharem, quando então os mandavam embora. Quando tinham a criança, se fosse menino, seria morto ou então o mandavam para que o pai o criasse, se fosse mulher, com elas ficavam e a menina era educada conforme as suas tradições guerreiras. Descreveu ainda seus hábitos e suas riquezas, pois que tais mulheres possuíam muito ouro e prata.
O encontro e as escaramuças à foz do Rio Nhamundá (hoje limite entre os estados do Pará e do Amazonas) com índios (e índias), mais a descrição do prisioneiro, foi bastante para que houvesse associação com as Amazonas da Capadócia. E o rio, até então Mar Dulce, passa a ser chamado Rio de las Amazonas (Rio das Amazonas) e finalmente Rio Amazonas. A narração feita por frei Gaspar de Carvajal teve imensa repercussão na Europa e correu mundo, atemorizando e surpreendendo, sobretudo maravilhando, a quem ouvisse falar da terra das mulheres guerreiras.
A aventura de Orellana, se não serviu para mais nada, pelo menos deu o nome ao rio Amazonas.
Em seu relato, Carvajal narra que, embora tivessem abatido vários índios comandados pelas mulheres e, mesmo, algumas delas, os espanhóis viram-se obrigados a fugir, capturando um único índio. Este, mais tarde, ao ser interrogado, declarou pertencer a uma tribo cujo chefe, senhor de toda a área ( o ataque tinha se dado na foz do Rio Nhamundá ), era súdito das mulheres que residiam no interior. Na qualidade de súditos, obedeciam e pagavam tributos às mulheres guerreiras, acompanhadas pela rainha Conhori. O prisioneiro, respondendo a várias perguntas do comandante, disse que as mulheres não eram casadas e que sabia da existência de setenta aldeias delas. Descreveu as casas das mulheres como sendo de pedra e com portas, sendo todas as aldeias bastante vigiadas. Disse ainda que elas pariam, mesmo sem ser casadas, porque, quando tinham desejo, levavam os homens das tribos vizinhas à força, ficando com eles até emprenharem, quando então os mandavam embora. Quando tinham a criança, se fosse menino, seria morto ou então o mandavam para que o pai o criasse, se fosse mulher, com elas ficavam e a menina era educada conforme as suas tradições guerreiras. Descreveu ainda seus hábitos e suas riquezas, pois que tais mulheres possuíam muito ouro e prata.
O encontro e as escaramuças à foz do Rio Nhamundá (hoje limite entre os estados do Pará e do Amazonas) com índios (e índias), mais a descrição do prisioneiro, foi bastante para que houvesse associação com as Amazonas da Capadócia. E o rio, até então Mar Dulce, passa a ser chamado Rio de las Amazonas (Rio das Amazonas) e finalmente Rio Amazonas. A narração feita por frei Gaspar de Carvajal teve imensa repercussão na Europa e correu mundo, atemorizando e surpreendendo, sobretudo maravilhando, a quem ouvisse falar da terra das mulheres guerreiras.
A aventura de Orellana, se não serviu para mais nada, pelo menos deu o nome ao rio Amazonas.
E o que dizer do relato de Carvajal com as declarações do prisioneiro que afirma que as amazonas viviam em casas de pedra, em cidades cercadas por muralhas e que, em seu território, existiriam cinco templos dedicados ao Sol... Existiria, mesmo, esse lugar?
Ainda que, muitas vezes, as narrações do padre sejam repudiadas como delírios ou fantasias, expedições posteriores reforçaram as histórias sobre as amazonas, como a do padre Cristobal de Acuña, em 1639. Além disso, vários historiadores e pesquisadores afirmam que as amazonas realmente existiram, como comprovam símbolos encontrados em pedras na região e os chamados muiraquitãs, que são pedras verdes, nefritas, trabalhadas na forma de animais. Ao que se sabe, elas foram encontradas por europeus pela primeira vez em 1743, quando o explorador francês La Condamine percorreu a região do Rio Negro e ouviu muitas histórias sobre as mulheres guerreiras.
Os indígenas mostraram as pedras que teriam recebido de seus pais, que por sua vez as teriam recebido das cougnantainsecouima, as “mulheres sem marido”. Segundo o estudioso Barbosa Rodrigues, que pesquisou os muiraquitãs, a lenda conta que as amazonas reuniam-se no lago Yacynaruá, onde realizavam uma festa à Lua e à mãe do Muiraquitã, que habitava no fundo do lago. Ao final do ritual, elas mergulhavam no lago e recebiam as pedras com várias formas.
Na Antiguidade Clássica, as Amazonas eram mulheres que governavam a si mesmas, excluindo os homens de seu convívio. Encontravam-se ao norte da Grécia, nas vizinhanças do Ponto Euxino, como era chamado o atual Mar Negro. De vez em quando, uniam-se a homens apenas para garantir a preservação da própria raça, educando as meninas em seu meio e renegando os meninos. Exímias caçadoras, adoravam a deusa Ártemis (Diana). Sempre belicosas, descendentes do deus da guerra, Ares (Marte), também eram vistas como oriundas da ninfa Harmonia. Costumavam combater montadas a cavalo, mas não raro combatiam a pé. Vestiam peles de animais que lhes caía até o joelho, presas ao ombro esquerdo, deixando nua a parte direita de seus corpos. Usavam escudos em forma de meia lua, símbolo universal da feminilidade. E conta-se que, para melhor manejar o arco e a flecha, bem como a lança e o machado, armas nas quais eram destras, cortavam um dos seios, fato que explicaria o nome que as caracterizava – do grego, a-mazon, “sem seio”.
Mesmo na época houve quem considerasse pura loucura o que disse Frei Gaspar sobre a existência de Amazonas naquele rio. E, hoje, os mais céticos acreditam que a expedição foi atacada por índios de cabelos compridos, cuja aparência fez supor aos forasteiros que se tratava de uma tribo de mulheres guerreiras. No entanto, o então chamado “Mar Doce” transformou-se no Rio das Amazonas, derivando não só o nome da floresta como o de toda a região.
Em 26 de agosto de 1542, um mês, mais ou menos, depois do incidente fabuloso que marcou a travessia do Amazonas, Orellana e mais quarenta e oito sobreviventes atingiam a foz do imenso rio, chegando ao Atlântico pelo Pará. Fica na imaginação das pessoas a crença que Orellana, embora sem ouro e sem canela, haveria de ter levado consigo um Muiraquitã, a verde pedra da felicidade que, segundo a lenda, as Amazonas entregavam àquele que, a cada ano, com elas tinham parte, ficando assim protegido de todo malefício...
Conta a lenda...
FIM
Ainda que, muitas vezes, as narrações do padre sejam repudiadas como delírios ou fantasias, expedições posteriores reforçaram as histórias sobre as amazonas, como a do padre Cristobal de Acuña, em 1639. Além disso, vários historiadores e pesquisadores afirmam que as amazonas realmente existiram, como comprovam símbolos encontrados em pedras na região e os chamados muiraquitãs, que são pedras verdes, nefritas, trabalhadas na forma de animais. Ao que se sabe, elas foram encontradas por europeus pela primeira vez em 1743, quando o explorador francês La Condamine percorreu a região do Rio Negro e ouviu muitas histórias sobre as mulheres guerreiras.
Os indígenas mostraram as pedras que teriam recebido de seus pais, que por sua vez as teriam recebido das cougnantainsecouima, as “mulheres sem marido”. Segundo o estudioso Barbosa Rodrigues, que pesquisou os muiraquitãs, a lenda conta que as amazonas reuniam-se no lago Yacynaruá, onde realizavam uma festa à Lua e à mãe do Muiraquitã, que habitava no fundo do lago. Ao final do ritual, elas mergulhavam no lago e recebiam as pedras com várias formas.
Na Antiguidade Clássica, as Amazonas eram mulheres que governavam a si mesmas, excluindo os homens de seu convívio. Encontravam-se ao norte da Grécia, nas vizinhanças do Ponto Euxino, como era chamado o atual Mar Negro. De vez em quando, uniam-se a homens apenas para garantir a preservação da própria raça, educando as meninas em seu meio e renegando os meninos. Exímias caçadoras, adoravam a deusa Ártemis (Diana). Sempre belicosas, descendentes do deus da guerra, Ares (Marte), também eram vistas como oriundas da ninfa Harmonia. Costumavam combater montadas a cavalo, mas não raro combatiam a pé. Vestiam peles de animais que lhes caía até o joelho, presas ao ombro esquerdo, deixando nua a parte direita de seus corpos. Usavam escudos em forma de meia lua, símbolo universal da feminilidade. E conta-se que, para melhor manejar o arco e a flecha, bem como a lança e o machado, armas nas quais eram destras, cortavam um dos seios, fato que explicaria o nome que as caracterizava – do grego, a-mazon, “sem seio”.
Mesmo na época houve quem considerasse pura loucura o que disse Frei Gaspar sobre a existência de Amazonas naquele rio. E, hoje, os mais céticos acreditam que a expedição foi atacada por índios de cabelos compridos, cuja aparência fez supor aos forasteiros que se tratava de uma tribo de mulheres guerreiras. No entanto, o então chamado “Mar Doce” transformou-se no Rio das Amazonas, derivando não só o nome da floresta como o de toda a região.
Em 26 de agosto de 1542, um mês, mais ou menos, depois do incidente fabuloso que marcou a travessia do Amazonas, Orellana e mais quarenta e oito sobreviventes atingiam a foz do imenso rio, chegando ao Atlântico pelo Pará. Fica na imaginação das pessoas a crença que Orellana, embora sem ouro e sem canela, haveria de ter levado consigo um Muiraquitã, a verde pedra da felicidade que, segundo a lenda, as Amazonas entregavam àquele que, a cada ano, com elas tinham parte, ficando assim protegido de todo malefício...
Conta a lenda...
FIM
O cronista Guaman Poma de Ayala, em seu livro Nueva Crónica y buen Gobierno, conta sobre as mulheres do Antisuyo. Ele descreve, em dois momentos, as mulheres "da Amazônia". Na festa do Antisuyo, que era a parte da floresta do Tahuantinsuyo (Império Inca), cantavam e dançavam warmi auca, anca uallo (danças), dizendo "Caya caya, cayaya caya, caya caya, cayaya caya, cayaya caya". A este som cantavam e dançavam e falavam em sua língua. As mulheres respondiam "Cayaya caya, cayraya caya", tocando uma flauta chamada pipo. Assim faziam a festa do Antisuyo: andando em roda e dando-se as mãos uns com os outros, alegremente festejando e dançando warmi auca, todos os homens, com suas flechas, vestidos de mulher. O que batia no tambor dizia "Uarmi auca chiuan uaylla uruchapa panas catana anti auca chiuan uaylla".
Guaman Poma fala, também, de uma líder do Antisuyo que tinha uma certa altura e era muito bonita, mais branca do que uma espanhola, e que andava de tanga. Algumas "tribos" de gente totalmente nua, tanto homens quanto mulheres, e comiam carne humana.
1)
(Dibujo 126. Fiesta de los Andesuyos de la mujer enemiga, qaya qaya, warmi awqa)
FIESTAS DE LOS ANDI SVIOS, CAIA CAIA, VARMI AVCA [El qaya qaya, mujer enemiga]
/ Curi Pata, Anti / fiesta /
"A festa dos Ande Suyos desde o Cusco até a montanha e a outra parte até lamar (sic) do Norte é serra. Cantam e dançam uarmi auca, anca uallo (danças). São muita gente infiel. Cantam e dançam os Antis e Chunchos, dizendo assim: ¨Caya caya, cayaya caya, caya caya, cayaya caya, cayaya caya¨. Ao som, cantam e dançam e falam o que quiserem em sua língua. E respondem as mulheres a esse som: Cayaya caya, cayraya caya¨,e vão tocando uma flauta que chamam de pipo. E a esse som fazem festa; caminham ao redor do círculo, de mãos dadas. Se atacam e fazem festa e dançam uarmi auca, todos os homens vestidos como mulheres com suas flechas.
Quem toca o tambor fala assim: Üarmi auca chiuan uaylla uruchapa panas catana anti auca chiuan uaylla¨. E outros cantam cada um em seu ayllo (parcialidad) (1) seu natural.; desde Tambo Pata eles têm seus taquies (danças cerimoniais) e hayllis (cantos de triunfo) e arauis (cantos de feitos de outrem) das moças e dos moços, pingollos (flauta).
E os Antis e Chunchos são índios nús e assim são chamados Anti runa micoc (os do Anti, comedores de homens). Estes índios da montanha e da outra parte da serra, os índios Anca Uallos têm roupas como os índios deste reino, mas não são confiáveis. Fazem guerra entre eles e não podem passar por aqui, apenas ficar lá. E os Andes também são infiéis.¨ (Guaman Poma)
(1) 1) ayllo - O ayllu pré-hispânico é a extensa família que forma um grupo local, independente de haver, ou não, um território utilizado de modo comunitário para a subsistência de seus integrantes. Desse modo, o ayllu não é o território, a aldeia, mas o grupo familiar ligado por laços de parentesco e reciprocidade.
Alguns cronistas, ao escreverem sobre o ayllu, igualaram-no à parcialidad, ou seja, ao suyu, que possui essa conotação territorial.
O próprio nome do Império Inca possui a noção territorial de suyu: “Tahuantin suyu, que significa¨os quatro suyos¨, ou seja, ¨todas as quatro províncias¨.
A palavra parcialidad correspondia a uma metade sociopolítica de um senhorio, que, por sua vez, compreendia vários ayllus.
Dessa forma, o ayllu era uma unidade de parentesco que tinha a mesma origem mítica e o suyu (ou parcialidad) indicava as divisões sociopolíticas dos vários ayllus agrupados, elementos da organização incaica.
O suyu servia para nomear as metades e as grandes divisões geográficas do mundo andino; possuía um sentido mais amplo do que a palavra parcialidad, estava vinculado a grandes áreas territoriais, conservando sua ideia principal de ser uma porção de um todo.