CAPÍTULO I
Parei, mais uma vez, para olhar o mapa. Obviamente, as coisas mudaram, pode ser que a paisagem tenha sido alterada de forma significativa porque a vegetação está em contínuo crescimento transformando a flora local. Não se descarta a possibilidade de que raios, nas tempestades, talvez possam causar incêndios, mudando o bioma das florestas, ou dos páramos, mesmo que, depois de algum tempo, tudo pareça natural e preservado. O local do tesouro de Atahualpa pode ter sido perdido para sempre como resultado dos terremotos que ocorrem regularmente nas montanhas densamente arborizadas.
Encontrar o ouro do resgate de Atahualpa seria a menor de minhas preocupações; na verdade, eu não quero encontrá-lo. A prioridade sempre foi descobrir novas espécies botânicas e a fantástica oportunidade de ter em mãos uma variedade de plantas que eu jamais sonharia encontrar no permanente habitat de concreto da minha cidade. Com o mapa diante de mim e um suspiro, olho para os companheiros de exploração e o cansaço nos olhos deles me faz despertar para o verdadeiro propósito da missão. Minhas prioridades não são relevantes pois, depois de tê-los arrastado para isso com o objetivo de encontrar o tal tesouro, o objeto de nossa concentração deve ser a localização do ponto exato de onde se tem a última, ou única, notícia do ouro; a todo custo, a toda pressa, porque parece que, aqui, o tempo passa mais rápido, as distâncias se alargam e vamos nos tornando mais fracos, nossos itens de sobrevivência diminuem consideravelmente, e ainda teremos de voltar, sãos e salvos, pelo mesmo caminho.
O guia, o Derrotero de Valverde, começa assim...
¨Situados en el pueblo de Píllaro, preguntad por la hacienda de la Moya y dormir la primera noche a buena distancia sobre ella y preguntad allí por la montaña de Guapa... ¨
Pillaro é uma cidade um pouco menor que Ambato e fica em terreno mais alto, no lado oposto do rio Patate, apenas um poucos quilômetros de distância, embora a jornada até lá seja muito prolongada por ser necessário passar a quebrada profunda do Patate, o que ocupa uma hora inteira. A fazenda de Moya ainda existe; e o Cerro de Guapa é claramente visível a leste-nordeste de onde estou escrevendo.
"...desde cuya cima, mirando al Este y teniendo Ambato a la espalda, podréis divisar los tres Cerros Llanganati en la forma de un triángulo, en cuyos declives hay un lago, hecho por la mano del hombre, dentro del cual los antiguos arrojaron el oro que ellos habían preparado para el rescate del Inca cuando ellos supieron de su muerte. "
Eu ia dizer alguma coisa quando olhei e vi Henri aproximando-se de nós com seu chapéu de explorador que o faz parecer mais alto ainda, sorrindo meio sem graça, balançando ligeiramente a cabeça como quem pede desculpas, abrindo os braços para um cumprimento amistoso e sincero.
Deveríamos ter nos encontrado em Pillaro mas, como sempre Henri se atrasou. Sem perda de tempo, tirou o guia da minha mão e começou a murmurar enquanto olhava para as montanhas.
-- Os três Llanganatis vistos do topo do Guapa são supostamente os picos Margasitas, Zunchu e o Volcan del Topo.
Então, voltou-se para cumprimentar, um por um, todos homens, exploradores, ou carregadores, tratando a todos com o mesmo entusiasmo de sempre, o que o faz amado por onde quer que vá. Olhei o rosto dos homens e o cansaço pareceu haver desaparecido. Sorri, incrédulo, me sentindo, eu mesmo, um pouco cheio de energia. Com um sotaque inglês um pouco carregado, Henri leu uma parte do que estava escrito:
"Desde el mismo cerro Guapa también podrás ver la selva, y en ella un manchón de sangurimas que sobresalen de la dicha selva, y otro manchón que llaman flechas, y esos manchones son la marca principal por la cual te guiará, dejándolos un poquito a mano izquierda."
--Não vamos cometer o mesmo erro de Spruce. Já sabemos com certeza que as sangurimas não são Cecropia ou algo relacionado. Vamos em busca de um aglomerado de Espeletia, da família das Asteraceae.
Eu argumento que não podemos ter certeza disso, já que ninguém tem feito progressos nas tentativas de encontrar o lugar do tesouro.
Vejo-o caminhar até mim, retirando o chapéu e entrelaçando os finos cabelos loiros entre os dedos, onde uma discreta tatuagem se firma como parte de seus mistérios.
--Meu amigo, para encontrar algo que procuramos fora, precisamos antes encontrá-lo dentro de nós. Está lá em algum lugar e estamos bem perto. Eu sei porque está dentro de mim. Você é meu amigo, mas eu não viria aqui porque você é meu amigo. Estou aqui porque sou parte de tudo isso. Está tatuado dentro de mim, dentro do meu coração, da minha alma.
Abriu um pouco os braços e girou ao redor de si mesmo.
--Eu sei que está aqui. É como se eu mesmo o tivesse colocado lá.
*****
Estou escrevendo em forma de livro. Espero que gostem e voltem para acompanhar o desenrolar da história.
Esta é uma história de ficção baseada em fatos reais e os personagens foram criados por mim, podendo, ou não, ter qualquer semelhança com personagens reais ou históricos. Meu intuito é dar minha humilde contribuição para manter viva a memória do Império Inca. Obrigada e volte para ler o Capítulo II.