1.17.2025

FILHOS DO SOL (CAPÍTULO VI)



Eu me afastara dos outros por conta das espécies botânicas que eu, como uma criança que abre presentes, estava descobrindo. Uma após outra, iam me conduzindo para longe do acampamento, espécies que eu só vira no banco de dados do Kew Gardens. O banco de dados do Kew Gardens oferece informações botânicas de uma enorme diversidade de espécies. Era o local que eu costumava frequentar para satisfazer minha necessidade de conhecimentos botânicos, satisfazendo-me com seus dados recheados de nomes científicos e áreas de origem das espécies.


Agora, eu me sentia realmente perdido na paisagem, por dentro e por fora, literalmente engolfado no verde composto dos arbustos e gramíneas que formam os páramos, a uns três mil metros, talvez. Eu já perdera a noção de meu próprio espaço, a altitude começava a moldar meus sentidos e os pensamentos já não eram tão seguros quanto eu achava que fossem.

Eu mal me lembrava de onde havíamos começado nossa jornada, não conseguia lembra-me do número de dias que já havíamos vencido. Mas, lembrava-me perfeitamente de que o Corredor Ecológico Llanganates-Sangay começa nos páramos gelados, entre dois mil e oitocentos e quatro mil metros, antes dos topos nevados de maior altitude, e de que era composto de arbustos e gramíneas, o que me levava a pensar que, talvez, estivéssemos ainda no começo da nossa aventura. No entanto, as vastas montanhas coloridas de cor escura manchada de amarelo pareciam feitas de distante sonho, agora que os meus passos resvalavam na lama escondida sob o tapete de musgo e a gravidade parecia me arrancar dos meus passos e eu continuava descendo por uma paisagem misturada de lagoas, páramos e rios, lembrando-me de que, seguramente, isso só seria possível se estivéssemos a uns mil metros de altitude, onde, desde o começo, tudo é água e estreitos caminhos de pedra e terra nos permitem adentrar essa região de montanhas, pântanos andinos e estonteantes paisagens. 

Eu descia tão depressa que o meu pé resvalou em uma pedra polida e eu cai, dando uma cambalhota, indo parar deitado de costas, minha cabeça escorregando no sentido contrário das alturas e os pés no rumo do topo. Fiquei deitado assim, olhando o céu, estranhamente azul, azul demais, enquanto uma luz intensa moldava os arbustos de um verde profundo, emoldurando minha visão periférica.

Lenbrava-me de ter visto o que parecia ser uma lagoa escondida na neblina, mas quando fora isso? Ontem? Sim, a mil e duzentos metros  de altitude há  lagoas  na paisagem verdejante escondidas na neblina. Lembrei-me de que havíamos esboçado um mapa no qual escrevêramos instruções de que, em algum momento, estáríamos seguindo as águas do rio Ana Tenório, no Parque Llanganates, onde os páramos se convertem em florestas com árvores de até 8 metros.

Comecei a ouvir o vozerio confuso e alto das vozes que se chocavam umas com as outras e reconheci o sotaque dos guias e a fala dos companheiros, ainda que não entendesse nada do que diziam. De repente, o silêncio gritou mais alto e a noite desceu de uma vez, caindo sobre mim como um manto negro e pesado. No entanto, em um clarão repentino, minha dificuldade em ver passou a ser devido à observação direta de uma repentina luz de forte brilho, como a luz direta do Sol, talvez refletida, não sei, nunca soube, nunca saberei.


Sentei-me, como pude, as dores acumuladas de tantos percalços confundindo minhas sensações. Eu vi de relance alguém que eu não conhecia, por um breve momento, breve o bastante para deixar-me em dúvida do que eu vira, como um raio de luz na escuridão. Era um homem alto e atlético, uma figura imponente e terrível, embora de um semblante sereno e, não sei por que, eu me lembrei de Rumiñahui.



Ao saber da morte de Atahualpa, Rumiñahui rumou para o leste, para as Montanhas Llanganates, para a sombria região de pastagens remotas e enevoadas, lá escondendo todo o tesouro em uma caverna impossível de ser encontrada. Rumiñahui foi capturado e torturado pelos espanhóis, sem ter jamais revelado a localização do tesouro de Atahualpa que havia escondido.






                                                              


1.12.2025

A FORTALEZA VERMELHA - PARTE 1


Nos Andes havia umas flores chamadas panti (1) que, resistentes, semeavam a si mesmas, as sementes germinando ao cair na terra. Crescíam bem, mesmo em solos pobres ou quando em áreas mais secas, florescendo a pleno sol, embora tolerassem as sombras. Resistentes a épocas mais áridas, às pragas ou doenças, suas flores atraíam pássaros e borboletas de todas as cores; cobrindo as planícies e as alturas com uma cor vermelho-sangue. 

Dizem que está extinta em seu ambiente natural mas, espero que possa renascer e, até mesmo, por algum milagre da natureza, nos guiar, em meio à destruição de seu habitat, por entre as ruínas de um Império tão antigo e esquecido que eu já não sei mais onde buscar.

A planta herbácea, perene, atingia até sessenta centímetros de altura; suas folhas verdes, longas, compostas de folíolos, marcavam as flores que se produziam em um capítulo de cor vermelho escuro. O anel de flores exteriores, assimétricas, com aspecto de pétalas, formado por um simples círculo de flores, em geral oito, despertava uma fragrância suave, especialmente no período da tarde e no quente verão. A floração era abundante, de junho a outubro, pelos caminhos, encostas e vertentes, mas quando cortaram as flores mortas, as extinguiram, como extinto foi o sangue Inca, ao ser derramado, cobrindo os Andes.

Eu quero falar com você a respeito dos Incas. Os Incas foram uma grande família que, tendo criado e organizado um grande império abrangendo uma imensa extensão de terras, com milhões de pessoas vivendo harmoniosamente sob a égide do Sol e de seus Filhos, de um momento para outro ruiu como um castelo de cartas em chamas. Essa história, de tão grande tristeza, consegue quase apagar ou, pelo menos, esfumar, os anos de ouro de suas origens místicas e míticas.

De acordo com o Testemunho do Inca Titu Cusi Yupanqui, datado do dia 8 de julho de 1567, quando os primeiros conquistadores chegaram à cidade de Cuzco, Juan Pizarro prendera seu pai, Manco Inca, sob o pretexto que ele queria rebelar-se com todos os habitantes do reino e, por resgate, exigira uma sala cheia de ouro e prata. Mesmo sendo mentira, para redimir-se da humilhação, Manco Inca deu-lhe muitas cargas desses minerais.

Então, segundo ele, veio Gonzalo Pizarro, como corregedor, e mandou-o para a prisão, sob o pretexto que ele queria fazer um levante novamente, e pediu outro ambiente cheio de ouro e prata e colocou uma corrente em torno de seu pescoço,  levando-o por toda a cidade de Cuzco, diante de seus súditos, esposas e filhos, com muita ignomínia. E quando  Manco Inca não tinha mais nada para redimir-se da humilhação, chegou à cidade de Cuzco Hernando Pizarro como corregedor e ordenou que ele fosse solto e depois de soltá-lo, continuou a pedir-lhe muito ouro e prata dizendo que seria por tê-lo libertado. Não tendo com que subornar Hernando Pizarro e temendo que o mandassem de novo para a prisão e o torturassem e humilhassem, chamou a todos os capitães e chefes do reino e levantou-se contra o domínio espanhol na fortaleza de Cuzco; cada um dos chefes, em suas terras, rebelaram-se com ele. E, assim, mataram muitos cristãos. 

Em meio ao levante, quando já se encontrava na fortaleza de Pucara, os espanhóis o alcançaram, tomaram-lhe sua irmã e mulher chamada Coya Cura Ocllo, e a levaram a Tambo e, alí, atiraram nela, matando-a. Manco Inca, então, cheio de revolta, lutou com os espanhóis e matou muitos deles.

Pucara (2), cujo significado é "fortaleza vermelha", agora é apenas uma ruína Inca, perto da estrada que vai de Cusco ao Antisuyo, a selva amazônica.
Pucara, que está muito perto de Tambomachay, outra ruína na área, era um posto de controle militar. O complexo complexo dispõe de armazéns, casas, fontes e aquedutos.
A "Fortaleza Vermelha", com seus muros de cor avermelhada, tomou este nome a partir da cor das pedras, especialmente ao entardecer quando, sob as luzes do crepúsculo, a rocha é muito vermelha.

Hoje, as ruínas conservam os restos do que um dia foram torres de vigilância e muralhas, características de um sítio militar com praças, escadarias e aquedutos. A proximidade de Tambomachay também é importante porque,  em tempos ainda mais antigos, o governante Inca costumava visitar, regularmente, os banhos de Tambomachay, toda vez que seu exército e funcionários se alojavam em Pucara.
A nove quilômetros da cidade de Cuzco, facilmente acessível, o trajeto que, de automóvel, dura de quinze a vinte minutos em média, também pode ser feito a pé em umas duas horas. Hoje não é considerado um lugar muito importante, não é encontrado em muitos mapas da região, por isso poucas pessoas chegam a visitá-lo.


Voltando um pouco atrás no tempo...


Como em uma pintura a óleo sobre tela, as ruínas parecem, ainda, brilhar ao sol de um passado distante, quando Manco Inca ansiava por liberdade, tentando, desesperadamente, retomar o caminho da história até as tardes tranquilas de sua infância. Imagino seus olhos cheios de lágrimas represadas, como tempestade que ameaça sem cair, pensando em sua esposa morta, tentando olhar, apenas, para as planícies e encostas vermelhas de "Panti Pampa"(3).

Considerando o que se passava naquela época, segundo as própias palavras de Murúa que chegaram até nós, e que eu tentei ressaltar aqui com as minhas próprias cores, e que são um choque de realidade em nossa mente buscadora da verdade, quando tentamos entender o que, realmente, acontecia naquele instante da história dos Incas... antes e depois da batalha de Salinas, o povo, que os espanhóis chamavam de "índios", e que habitava, ou que estava em Cuzco e em seus arredores, não fazia idéia de onde estava Manco Inca. Desse modo, iriam reconhecer Paulo Topa como filho de Huayna Capac, o que significava colocá-lo como Inca, mesmo que Paulo não fosse filho da esposa principal de Huayna Capac, como seria necessário para ser alçado Inca. "Os espanhóis vizinhos e os "encomenderos"(*) deles, querendo evitar incovenientes que poderiam acontecer caso eles se acostumassem com ele, e para que Paulo Topa não se sentisse cheio de soberba, ordenaram que ninguém deveria ir à sua casa, apenas seus servos. Assim, a partir de então, ninguém mais se dirigia à casa dele, nem o reverenciava, pelo que, finalmente, entenderam os espanhóis que, desta forma, tirariam dele a oportunidade de se rebelar, como seu irmão."

Esta era a situação em Cuzco, enquanto nas montanhas...

"Manco Inca, naquele momento, não descansava, antes andava causando muitos males e roubos, destruindo tudo o que podia, e como as novas chegassem aos espanhóis, querendo acabar de uma vez com o que inquietava a terra, saíram de onde estavam e lutaram bravamente, matando muitos índios, e o desbarataram e feriram até a província de Vitcos, em Vilcabamba, e foram atrás dele até lá. "


"Paulo Topa os seguiu,

e um dia o tiveram tão apertado que lhe tomaram o andor que o levava e a tiana - que é o assento onde se sentava-, e ele escapou nas montanhas, onde se escondeu com muitos índios, e outros, que não puderam segui-lo, não tiveram vontade de andar, já cansados, vieram a Cuzco, e dalí cada um foi para suas terras, e os espanhóis, como viram que Manco Inca tinha escapado de suas mãos, voltaram para Cuzco, e Manco Inca se foi à sua Guamanga com o povo que restara, e lá praticava todos os males que podia. "


Jimenez de la Espada descreve a "Guamanga de Manco Inca" em seu livro, Relaciones Geograficas de Indias, como "terra cheia de curvas e cavernas: nas alturas é terra fria, nua, seca e estéril; embaixo, onde há rios e córregos de água, é terra temperada e fértil; alí, dá qualquer coisa... "

Segundo o autor, os rios e riachos desciam das montanhas nevadas e desertas e íam profundos e resistentes, estreitando vales.


Ele a descreve quando o Inca já não vivia mais. Na época, todos ocupavam as terras desde as alturas ao chão, em terra mais fria do que quente. Nas alturas e encostas, por causa das chuvas, tiravam proveito dos dois extremos: da terra fria, para apascentar o gado doméstico, aqueles que os tinham e, também, caçar; e, da quente, para as lavouras. No tempo dos espanhóis, "todas as casas eram pequenas e humildes e, a maioria, redondas, suprindo com arte a pobreza e necessidade de roupa."

Três ofícios ​​ainda eram usados: oleiros, carpinteiros e ourives. No entanto, como eles não conseguiam sustentar-se com seu trabalho nas cidades, onde ganhavam vendendo para os espanhóis, poucos foram aqueles que ficaram, só os que tinham algum gado remanescente da época dos Incas; estes eram os mais remediados e o principal modo de vida dos montanheses era o trabalho no campo.

"O caminho real que chamam de Guainacaba (3), que parte de Quito, pelas montanhas para ir a Cuzco e Charcas, divide os povoados dessa província, entrando pela praça da cidade. Os índios que vivem do lado esquerdo, que é para o Andes, alcançam boas terras. Têm chácaras de coca, algodão e pimenta, pelos quais pagam tributo, e obtêm seus pagos e benefícios. Aqueles que vivem do lado direito, entre o caminho real e a cordilheira, que é nas planícies, não têm tais terras, mas têm despovoados e algumas cabeças de gado e caça, dos quais se sustentam, vestem e fazem carne seca, chamada charque, e disso obtêm seus pagos e contratos com os outros. 
As chácaras de coca que agora têm os índios, eram todas do Inga e nenhum chefe ou índio as tinha; e da que agora colhem trezentos e quatrocentos cestos, naquele tempo não colhiam dez, daí se conclui que no tempo dos espanhóis se multiplicou, tornando-se tão comum aos índios."(*)

Pois bem, quanto a Manco Inca...  (continue lendo na Parte 2)





(1) Cosmos é um gênero, com o mesmo nome comum de Cosmos, de cerca de 20-26 espécies de plantas anuais e perenes da família Asteraceae.



(2) Puca Pucara.

(3) Campo de Panti (cosmos)

(4) Huayna Capac.

Bibliografia 
(botânica)

(4) No livro El Mundo Vegetal de los Antíguos Peruanos de Eugenio Yacovleff e Fortunato L. Herrera temos:
color encarnada

86. PANTI; ID.  Holguín Cosmos peucedanifolius var tiraquensis (Kunth) Scharff (Fam. Compositae) PANTI Planta herbácea, anual, de folhas muito divididas, flores de cor vermelha. Cresce no desfiladeiro de Apurimac. Cultiváveis como planta ornamental, suas flores são usados ​​como um sudorífico. Nas festas de carnaval, que substituíram as que celebravam entre os incas para incentivar a procriação das llamas, os índios usam as flores de panti em forma de mistura para atrair prosperidade. O povoado de Pantipata, que significa "uns andenes e, neles, flores vermelhas." (GIR 207, II).

“Panti-flor vermelha, símbolo de ternura” (Holguín)

--Outros estudos feitos com Panti: Especímes examinados: Sra. A. F. Bandelier 18, alt. 12,500 feet(pés), Titicaca, Lago Titicaca, Bolivia, 1905 (N. Y.; nomen incolarum; aymaranarum, Panti-Panti); CL Gay, Departmento de Cuzco, Peru, October, 1839-February, 1840 (Par. tipo de Cosmos subpubescens Wedd.) F. L. Herrera, alt. 3,000-3,600 metros, Cuzco, Peru, July, 1923 (U. S.); idem 1025, alt. 3,700 metros, Hacienda Churu, Provincia de Paucartambo, Departmento de Cuzco, Peru, enero (e pittacio lectoris ipsius), 1926 (Field; Gray, 2 sheets; Mo.; N. Y.; U. S.; nom. vulgare, Panti) em lugares não cultivardos, terrenos com matas(arbustos), etc, perto de Sorata, nos terrenos de mato  por toda parte, perto de Sorata, janeiro-marçoo de 1859 (Del.; Gray; N. Y.) A. Mathews, Provincia de Chachapoyas, al norte del Peru (Gray, 2 folhas; material tipo de C. marginatus Klatt); A. Weberbauer 6S81, Peru, 1909-1914 (Field); idem 7597, alt. 3,600 metros, na estepe de gramíneas com arbustos de dispersão, Valle de Yanahuajra, Provincia de Huanta, Departmeno de Ayacucho, Peru,18 de marzo de 1926 (Field).
Weddell’s C. subpubescens se baseou em uma planta de Gay fde a Província de Cuzco, Peru.



Bibliografia


1) (En el testemonio del Inca Titu Cusi Yupanqui, hijo de Manco Inca, 8 de julio de 1567, in Matienzo).

(Carta-Memoria del Inca Titu Cusi Yupanqui al Lic. Matienzo, junio de 1565, in Matienzo).


2) Juan de Matienzo, Gobierno del Peru.


3) Fray Martín de Murúa, Historia General del Peru.--Juan de Matienzo, Gobierno del Peru.

4) Jimenez de la Espada, Relaciones Geograficas de Indias.










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1.10.2025

Casamentos Incas



Casamentos no Império Inca: Uma Celebração de Unidade e Tradição


Conhecidos por sua sociedade avançada e rica herança cultural, os Incas também tinham tradições únicas em torno do casamento e da vida familiar. Os casamentos desempenhavam um papel crucial na sociedade Inca, simbolizando unidade e continuidade dentro de suas comunidades. Enraizados na praticidade e guiados por normas sociais, os casamentos Incas refletiam os valores e costumes de uma das maiores civilizações da América pré-colombiana.


Casamento como uma Instituição Social

Para os Incas, o casamento não era apenas uma união pessoal, mas também uma expectativa social. Esperava-se que a maioria dos homens e mulheres do povo Inca se casasse, pois as unidades familiares eram essenciais para manter o estilo de vida agrícola e comunitário que sustentava o império. Os  homens geralmente se casavam no início dos vinte anos, enquanto as mulheres no final da adolescência.

Quando falamos de Incas, precisamos pontuar que Inca era uma família poderosa que governava um "império". Os Incas dominavam a América do Sul, antes da chegada dos espanhóis. O império se estendia, a partir de Cusco, atual Peru, em todas as direções, alcançando Chile, Argentina, por exemplo. Precisamos lembrar que o "Império Inca" era multiétnico e tinha uma sociedade hierarquizada.  A família do Sapa Inca, o "imperador", era considerada nobre, mas também havia uma nobreza que era nomeada por ele.


O casamento também era um meio importante de estabelecer alianças dentro do ayllu, a unidade social e econômica básica da sociedade Inca. Os ayllu, um grupo de famílias que trabalhavam juntas em terras comunais, dependiam dos casamentos para fortalecer os laços e garantir a sobrevivência do grupo.


O Processo de Casamento

Os casamentos Incas eram frequentemente arranjados, embora houvesse espaço para escolha pessoal dentro de certos limites. Pais ou líderes comunitários normalmente desempenhavam um papel significativo na seleção de parceiros adequados, considerando fatores como status social, habilidades e compatibilidade. No entanto, os indivíduos podiam expressar suas preferências, e o acordo mútuo era um componente essencial da união.


O processo de casamento começava com um acordo formal, geralmente marcado por uma cerimônia simples. Em alguns casos, os casais participavam de um período de teste conhecido como "servinakuy", onde viviam juntos para testar sua compatibilidade. Se o arranjo fosse bem-sucedido, a união era finalizada por meio de uma cerimônia de casamento.


Rituais e costumes de casamento

As cerimônias de casamento variavam dependendo da região e do status social do casal, mas os temas comuns incluíam o envolvimento da comunidade e atos simbólicos. Os rituais enfatizavam os aspectos práticos e espirituais do casamento, alinhando-se com a visão de mundo dos Incas.


Uma tradição fundamental envolvia a troca de presentes, como tecidos, alimentos ou ferramentas, simbolizando o compromisso do casal em compartilhar responsabilidades e recursos. Outra prática comum era o ato simbólico de amarrar as roupas do casal, representando sua unidade e interdependência.


A festa de casamento era uma parte central da celebração. Os membros da comunidade se reuniam para compartilhar comida e bebida, muitas vezes incluindo uma bebida fermentada de milho (chicha) e pratos tradicionais. Música e dança aumentavam a atmosfera festiva, reforçando o espírito comunitário do evento.


Para casamentos nobres ou reais, as cerimônias eram mais elaboradas e frequentemente tinham implicações políticas. Essas uniões podiam solidificar alianças entre diferentes regiões ou ayllus, fortalecendo ainda mais a coesão do império.


Papéis e responsabilidades na vida conjugal

A sociedade Inca via o casamento como uma parceria em que ambos os cônjuges contribuíam para a casa e a comunidade. Os homens eram tipicamente responsáveis ​​pelo trabalho agrícola, pastoreio e construção, enquanto as mulheres administravam as tarefas domésticas, incluindo tecelagem, preparação de alimentos e criação dos filhos. Essa divisão de trabalho garantia o bom funcionamento da casa e do ayllu mais amplo.


Os Incas davam grande importância ao respeito mútuo e à cooperação no casamento. O divórcio era raro, mas permitido em certas circunstâncias, como infertilidade ou conflito persistente. Líderes comunitários ou anciãos frequentemente mediavam disputas, refletindo a abordagem coletiva para a resolução de problemas na sociedade.


Significado espiritual e cultural

Tendo sempre em mente a diferença que havia  entre Incas de sangue, outros menbros das panacas (parentes do Inca), incas de privilégio (pessoas importantes pelos serviços prestados, como sacerdotes e chefes), o povo m geral, como camponeses, os mitimaes (grupos enviados para colonizar novas regióes, ensinando língua e costumes) e mesmo os servos do Inca e do império, tendo em mente tudo isso  e a"administração" dessas diferenças, o casamento entre os Incas  estava profundamente entrelaçado com crenças espirituais. Os Incas acreditavam que a união de dois indivíduos refletia a harmonia da natureza e do cosmos. Os rituais frequentemente incluíam oferendas aos deuses, buscando bênçãos para fertilidade, prosperidade e harmonia.O conceito de dualidade, ou "yanantin", era central para o pensamento inca e se refletia no casamento. Este princípio enfatizava o equilíbrio e a complementaridade, vendo a parceria entre marido e mulher como um reflexo da interconexão do mundo natural.


Conclusão

Os casamentos entre os Incas enquanto povo eram mais do que marcos pessoais; eram eventos cruciais que reforçavam a estrutura social, os valores culturais e as crenças espirituais. Ao enfatizar o envolvimento da comunidade, o respeito mútuo e a harmonia com a natureza, os Incas criaram uma tradição conjugal que era prática e profundamente significativa. Esses costumes oferecem um vislumbre da rica tapeçaria da vida em uma das civilizações mais fascinantes da história.


Conta uma antiga tradição Inca que Huascar Inca, solenemente, com suas próprias mãos, calçou uma sandália no pé direito da eleita de seu coração, ao torná-la sua legitima esposa.


"Casa-te com teu igual." -provérbio Inca. (Varela, 1945).


Você pode ler sobre o casamento do Inca Huascar nesse mesmo blog:

https://princesinhadisol.blogspot.com/2012/02/huascar-e-chuqui-huipa-bodas-de-sonho.html

 




1.08.2025

Machu Picchu: uma maravilha atemporal do mundo antigo


Tantas vezes referida como a “Cidade Perdida dos Incas”, Machu Picchu é muito mais do que uma cidadela do século XV situada no alto da Cordilheira dos Andes, no Peru, pois continua a cativar a imaginação de milhões de visitantes todos os anos. Reconhecida como Patrimônio Mundial da UNESCO em 1983 e declarada uma das Novas Sete Maravilhas do Mundo em 2007, Machu Picchu é ao mesmo tempo um tesouro histórico, uma maravilha da engenharia antiga, mais que uma inspiração, um despertar de alma.


Uma Breve História


Cercada por exuberantes florestas nubladas e íngremes encostas de montanhas, Machu Picchu é uma impressionante fusão de beleza natural e habilidade humana. Um sopro divino na realidade.

A cidadela pode ter sido construída durante o reinado do imperador inca Pachacuti (1438–1471). Alguns historiadores acreditam mesmo nisso e que teria servido como propriedade real e retiro religioso, combinando elementos de vida cerimonial, agrícola e residencial. Pode ser. Eles acreditam também que fora abandonada no século XVI, provavelmente devido à conquista espanhola. Fato é que o local permaneceu escondido do mundo exterior até que o explorador americano Hiram Bingham o redescobriu em 1911. Isso nos faz pensar que a localização remota da cidadela, situada a aproximadamente 2.430 metros acima do nível do mar, verdadeiramente contribuiu para a sua preservação ao longo dos séculos. Será?


Significado Cultural

Machu Picchu parece ter sido mais do que apenas um espaço físico; uma espécie de centro espiritual. Os Incas acreditavam que seu império estava conectado ao cosmos, e o traçado de Machu Picchu reflete essa crença. As principais estruturas se alinham com eventos celestes, como solstícios e equinócios, ressaltando o conhecimento avançado dos Incas em astronomia.


Uma relação harmoniosa entre o homem e a natureza que a cidadela parece simbolizar. Os Incas reverenciavam o seu ambiente e as suas escolhas arquitetónicas demonstram um profundo respeito pela paisagem natural, pois tudo era uma eterna celebração no Império do Sol.


Uma maravilha do mundo moderno


Impressionados com a atmosfera serena de Machu Picchu e suas deslumbrantes vistas, suspensas sobre profundos abismos, os visitantes frequentemente querem retornar, Os picos circundantes, como Huayna Picchu e Putucusi, oferecem vistas panorâmicas que realçam o fascínio místico do local.

Milhões de turistas anualmente visitam Machu Picchu, tornando-a um dos sítios arqueológicos mais visitados do mundo. Para preservar o seu legado, estão em vigor medidas rigorosas de conservação, incluindo limites ao número diário de visitantes e regulamentos em rotas de trekking como a famosa Trilha Inca.


Maravilhas arquitetônicas


A arquitetura de Machu Picchu mostra as habilidades avançadas de engenharia dos Incas e o profundo conhecimento de seu ambiente. O sítio está dividido em duas seções principais: o setor agrícola e o setor urbano.


Setor Agrícola: Os terraços, plataformas cortadas  nas encostas das montanhas, de  espaço em espaço, formando degraus, permitiram aos Incas cultivar culturas como milho e batata de forma eficiente, evitando a erosão do solo. Esses terraços também serviam como sofisticado sistema de drenagem, protegendo a cidadela das fortes chuvas.


Setor Urbano: Esta área contém as estruturas mais emblemáticas da cidadela, incluindo o Templo do Sol, a Pedra Intihuatana e a Sala das Três Janelas. O Templo do Sol, dedicado ao deus Sol Inca, Inti, apresenta intrincados trabalhos em pedra e alinhamentos astronômicos. A Pedra Intihuatana, muitas vezes chamada de “poste de amarração do Sol”, era usada para observações solares e cerimônias religiosas.


Os Incas empregavam uma técnica chamada alvenaria de silhar, encaixando pedras sem argamassa com tanta precisão que nem mesmo uma folha de grama conseguia passar entre elas. Este método não só demonstra a sua capacidade arquitetónica, mas também garante a resiliência das estruturas contra sismos.


Conclusão


Machu Picchu é mais que um sítio arqueológico; é uma porta de entrada para o passado, uma celebração da engenhosidade humana e um lembrete da ligação duradoura entre a humanidade e a natureza. A sua beleza intemporal e o seu significado histórico fazem dela uma maravilha que continua a inspirar admiração e curiosidade em todos os que a visitam. Seja vista como uma obra-prima da engenharia ou um refúgio espiritual, Machu Picchu continua sendo uma joia do mundo antigo, merecendo seu lugar na história e nos corações daqueles que viajam até suas alturas.








                                         

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