1.29.2011

A PONTE DO INCA




"O aventureiro olhou para o alto, ansioso por fincar bandeira nas alturas do Aconcágua. Estava a dez passos do "Cementerio de los Andinistas" (1) e podia sentir o desalento que perpetua a história dos que tombam sem hastear a bandeira de seus países; enterrados ali como atestado do despreparo, da irresponsabilidade ou da falta de sorte. Procurou não pensar, evitou sentir. Seu pé fincava-se, no chão, com força, em uma desesperada tentativa de enxergar-se maior do que a empreitada. O guia aproximou-se, calmamente, com um sorriso e uma desculpa. Hoje, não iriam a lugar nenhum. Outra vez o clima mudara, rapidamente, seria impossível alcançar o topo nos próximos dias. Ele tentou retrucar, calando-se, imediatamente, ao lembrar-se do cemitério. O guia consolou-o: ainda não afrontaria o vento gelado da montanha mas... mostrar-lhe-ia os segredos e mistérios da Ponte do Inca..."


No caminho para Las Cuevas, na fronteira com o Chile, encontramos um dos balneários mais famosos da Argentina. Os banhos nessas águas são recomendados para diversas doenças e as características naturais da região rivalizam com o mistério de suas lendas... para encantar-nos.


Em 1965, uma devastadora avalanche destruiu o lindo Hotel Puente del Inca que havia, anteriormente, sobrevivido a inúmeras catástrofes. Era uma construção sólida, suntuosa, com acesso subterrâneo aos banhos termais - nessa área emergem fontes de água quente, mineral, que borbulham sem parar. 
As provas do deslizamento ainda estão lá, revelando a cascata de rochas que rolou, abruptamente, para o fundo do vale.
Felizmente, hóspedes e funcionários foram salvos "milagrosamente" ao abrigarem-se na igrejinha que permaneceu intacta e pode ser vista ainda hoje.


Localizada na Cordilheira dos Andes, a dois mil setecentos e vinte metros acima do nível do mar, a Puente del Inca (Ponte do Inca), é famosa por ser uma ponte natural, única no mundo, declarada Monumento Natural. Ao que parece, teria sido formada pela ação das águas excessivamente minerais e pela ação das águas termais nos sedimentos depositados no fundo de uma cavidade. Devido a elas, a coloração laranja, amarela, ocre tinge toda a área e, qualquer objeto que se coloque sob elas fica de tal forma impregnado de sais minerais que adquire uma aparência de pedra.

Na margem direita, as famosas termas com cinco fontes do mesmo tipo, mas de diferentes temperaturas e componentes. A paisagem, cercada de montes, estica-se dezenas de metros sob a Ponte, nas águas do rio Las Cuevas.





Quarenta e sete metros de comprimento por vinte e oito de largura sobre o Rio Las Cuevas. Chama-se Ponte do Inca porque a nobreza Inca servia-se de suas medicinais águas termais que fluem das piscinas sob ela. 


A história da Ponte começa com o Caminho do Inca e suas lendas...


Supõe-se que os Incas  tenham aproveitado de suas águas com propriedades curativas. Sua fama vem, justamente, de seus banhos termais. Construções existentes, ao lado e sob a ponte, como pequenas piscinas por onde as águas correm termais, originárias de fontes naturais com temperaturas variando entre trinta e quatro e trinta e oito graus. Os banhos são recomendados para perturbações do sistema nervoso, doenças reumáticas, tratamento ginecológico, crianças anêmicas, raquitismo e artrite.


A área é ideal para o turismo de aventura, escalada de montanha, equitação e esportes na neve.









Nas proximidades, encontra-se o "Cerro Los Penientes", chamado assim porque seus paredões de pedra, quando olhados da distância, parecem enormes monjes em procissão.


Desde a ponte, quando o sol faz brilhar o amanhecer em tons absolutamente dourados, revelando estalactites de rocha, há um mundo mágico que nos transporta, desenhando fluidos arco-íris na água e no gelo, insinuando conotações fantásticas na natureza que sempre fez do lugar algo sagrado para os Incas.


O nome do lugar vem de uma lenda...



Há muito, muito tempo... muito antes da chegada dos espanhóis...




A LENDA DA PONTE DO INCA



O sucessor do Império Inca encontrava-se gravemente enfermo. Ele era um príncipe sábio e justo, como o pai, e todos o amavam muito. Em todo o Tahuantinsuyo todos oravam aos deuses fazendo sacrifícios e oferendas por sua saúde. Porém o príncipe só piorava e todos temiam que sua morte colocasse em risco o futuro do Império. Ao consultarem os Amautas (2), estes disseram que o príncipe recuperaria a saúde se pudesse banhar-se nas águas de um certo lugar, muito distante, na direção do sul, entre as rochas e montes da Cordilheira. Lá, segundo eles, brotava uma água capaz de curar todas as doenças.
 
No entanto, para se chegar lá, deveriam atravessar distâncias, desertos e escalar montanhas. Sem perder tempo, o Inca ordenou que se preparasse uma comitiva para acompanhar o príncipe e pela manhã partiram de Cusco em busca das poderosas águas. Ao amanhecer, seguiram pela estrada - com muitas lhamas, carregadas de alimentos e de todo o necessário para uma viagem tão longa. Apesar da preocupação com o príncipe, a viagem lhes proporcionou conhecer uma parte do Tahuantinsuyo que os deixou maravilhados.

A longa travessia os conduziu por montanhas abruptas, vales tranquilos, campos desertos e prados verdejantes, rios, riachos, noites enluaradas e dias de ouro e luz. Por dias e dias estiveram a caminho, compartilhando com a natureza e seus deuses uma experiência única.

De dia o sol lhes proporcionava todas as nuanças de verde e o colorido de muitas flores exóticas; a grandeza e o esplendor da natureza os arrebatava. À noite, os espectros gigantescos das montanhas os colocava, diante do desconhecido, com assombro - sons e ruídos como se a terra falasse com eles com voz que só eles pudessem compreender, repetindo o eco nos precipícios, na imensidão dos vales.

Até que, como um anúncio de que estavam próximos do objetivo, estacaram, paralisados pela visão do monte mais bonito e misterioso que haviam visto. Estavam diante do Aconcágua, o pico mais alto da Cordilheira dos Andes e seu poderoso Apu (3).
Vencendo a surpresa e o entusiasmo, seguiram em frente e, depois de uma curta caminhada, na qual muitas lebres atravessaram seu caminho como que para saudá-los, chegaram, quase no final da tarde, a uma ravina. Lá embaixo, encaixado na ravina, corria um rio caudaloso, que avançava, invencível, sobre as pedras. 

O som da trombeta, a quepa, (4) quebrou o silêncio para anunciar que haviam chegado. Porém, não havia nada a fazer: as fontes termais estavam do outro lado da ravina, inacessíveis.

Um desânimo total abateu-se sobre eles diante da impossibilidade que se apresentava. Passaram ali a noite, cansados e esperando que o Sol, Pai de todos os Incas, trouxesse uma solução para o problema. 

Pela manhã, como que liderados pelo poder e amor do Sol, do qual todos Incas são filhos, os soldados da comitiva, guerreiros do Inti (5), começaram a abraçar, uns aos outros, formando uma ponte humana para que o Filho do Sol pudesse alcançar o outro lado. O Inca caminhou sobre suas costas, com o filho nos braços e, assim, pode chegar até as fontes termais, encontrando a cura para o menino. 

Quando olhou para trás, para agradecer aos seus guerreiros, estes se haviam petrificado, tornando-se o que hoje conhecemos como "Puente del Inca".

Talvez seja essa a minha lenda favorita pelo que ela representa. Assim é o grande Tahuantinsuyo. O poder do Sol aliado à força dos homens e mulheres de um reino, eternamente, em busca da perfeição. Essa lenda representa muitas coisas. Há o divino, presente em todas as etapas do caminho e em todas as descobertas e há o lado humano, buscando superar suas dificuldades com união e fé, nunca desistindo de seus objetivos e cumprindo seu dever até o fim. 

Essa lenda, certamente, expressa o Tahuantinsuyo em sua forma mais simples e, ao mesmo tempo, mais grandiosa: terra de deuses, pátria do Sol, nação de guerreiros.

Contam alguns que, quando a noite se aproxima, quando os montes estão esfumados, envoltos em véus de surpreendentes formas, pode-se ver passar uma caravana de estranhas figuras, como que saída do tempo, do silêncio, atravessando de um monte a outro, eternamente buscando pelas águas que curam. 



(1) localizado no lado sul da rota que une Mendoza a Santiago do Chile, a uma distância de 1.500 metros da "Puente del Inca", a seis quilômetros de Los Penitentes. 

(2) pessoa de grande sabedoria, professor, mestre.

(3) espírito da montanha

(4) (quepa ou pututu) - grande trombeta feita de um grande caracol marinho, com o canal interno espiral.

(5) em quéchua, Sol.












              (ARGENTINA - ÚLTIMO RAIO DE SOL DO GRANDE TAHUANTINSUYO)
















1.28.2011

PRINCESINHA DE PEDRA - A LENDA




                                                 


Nos tempos do Império Inca, as gigantescas escadas que pendiam sobre o Vale Sagrado deixaram florir o maior e melhor milho do Tahuantinsuyo, as frutas mais doces, as flores mais belas e plantas medicinais para suprir os mercados. O mítico monte Linle foi esculpido para isso e os habitantes de Pisaq podiam orgulhar-se de viver ali.
Naquele lugar, Pachacutec mandara construir uma cidade-fortaleza para abrigar sua Panaka.

O lugar foi chamado Pisaq, pela enorme quantidade de perdizes (ou pisaqas) que lá existiam; hoje é chamada Linle, sem que haja uma explicação para o nome, talvez por ser o nome do monte. Para alguns autores, Pisaq vem da palavra quéchua pisaq, que seria o nome de um pássaro extinto; outros, dizem que era o nome do governador da região. O caso é que a palavra existe, em quéchua, e é utilizada para designar uma ave parecida com a perdiz europeia e que vive, especialmente, a três mil e oitocentos metros do nível do mar.
Às portas do Vale Sagrado dos Incas - um lugar cortado pelo sagrado rio Willkamayu que irriga suas entranhas e que por muitos séculos, ou mesmo milhares de anos, tem exalado magia e mistério.

Quando os visitantes vêm para a praça de Pisaq ainda podem encontrar um tipo de comércio que, se ao longo dos anos está desaparecendo, ainda persiste, apesar da força, inexorável, dos tempos modernos: é o sistema de trocas - este sistema comercial foi usado pelos antigos povos da Cordilheira dos Andes, muito antes dos Incas - é a troca de produtos sem dinheiro. Troca-se artesanato, produtos agrícolas, produtos animais como lã. É um sistema eficaz e simples, que permite a pessoas, de diferentes áreas geográficas, o acesso a outros produtos.

Para além das fachadas de pedra que ostentam detalhes de linhas perfeitas - muralhas... Aquedutos que conduziam a água pelas artérias da montanha sagrada... Ninhos de condor ao longo das vertentes, para além de torres e bastiões... Duas cidades de pedra, um observatório astronômico, templos magníficos, o Intiwatana, a necrópole nas cavidades da rocha, onde colocavam  os mortos...

Mais um dia amanhece e, diante da cidade, na encosta ocidental do Willkamayu, no alto de uma colina, o monólito, que tem a figura de uma mulher com phullu (uma espécie de manta) dobrado sobre os ombros, desafia o tempo, a distância e o amor - como o próprio Tahuantinsuyo, que ainda espera... como ela...


  
Há muitos e muitos anos... em Pisaq...


Seu povo, de boa índole, sofria com o assédio do povo da floresta, os antis, que, no tempo das chuvas, aproveitavam para invadir o lugar. Os Incas, seus aliados, não podiam ajudar, pois não conseguiam passar para o outro lado quando o rio ficava caudaloso. A linda princesa Inkill Chumpi  nascera nessa situação e, embora tivesse muitos pretendentes no próprio Vale Sagrado, quando menina ouvira o oráculo do arco-íris, Wankar Kuichi, que estivera prisioneiro em um dos morros diante de Pisaq, profetizar que muitos príncipes viriam de diferentes regiões e que casar-se-ia com ela aquele que pudesse construir a ponte sobre o rio em uma só noite.
Ela, então, afastava todos os pretendentes de Pisaq, esperando pelo prometido salvador, até que, certo dia, Asto Rimaq, filho do kuraka dos wallas, reino do misterioso Antisuyo, chegou. O jovem lhe trouxe muitos presentes maravilhosos porém, nenhum como o Qoriqenqe, belíssimo pássaro de dourada plumagem, com listras azuis, amarelas e vermelhas, e que revelava o futuro com seu doce canto. 

Ao tomar conhecimento da profecia de Wankar Kuichi, o Qoriqenqe declarou que a ponte seria construída em uma única noite e que as pedras se desprenderiam sozinhas das pedreiras. Os dois jovens, Inkill e Asto, deveriam cruzar o rio sagrado. Asto Rimaq ficaria na margem do rio e a linda Inkill subiria pela encosta levando a melhor Coca, como sagrada oferenda, deixando as folhas caírem ao chão, depois de beijá-las, constantemente, até chegar ao topo. Ele foi enfático ao afirmar que, se ela se voltasse para olhar, os dois jamais se veriam, outra vez, e morta estaria a esperança do seu povo.

Ela prometeu seguir as instruções do pássaro e, depois de atravessar o Willkamayu, começou a subir pela encosta. Mal caiu o primeiro punhado de Coca sentiu-se um tremor que foi crescendo até converter-se em um estrondoso movimento. As pedras se desprendiam sozinhas e os blocos voavam sobre as águas. Seu andar movia o ambiente como se tivesse vida. Algumas roçavam-se e o contacto produzia raios e relâmpagos. De repente, tudo parou, de uma vez. Foi então que, a linda Inkill não pode aguentar a curiosidade e, virando-se para olhar, foi transformada em pedra, enquanto o desditoso prometido era arrastado pelas turbulentas águas do Willkamayu - a gigantesca ponte não pôde ser construída.

Consumida pela tristeza, a ave de Asto Rimaq disse que seu fim estava próximo e que, assim que morresse, entregassem sua plumagem ao Inca. O amarelo, segundo indicou, era o símbolo da riqueza, o azul, sinônimo da sabedoria e o vermelho, do poder. 
Disse ainda que o Inca deveria mantê-las juntas. Se as separasse, determinaria a queda do Tahuantinsuyo. Huayna Qhapaq, que não sabia disso, pois os sacerdotes guardaram o segredo só para eles, dividiu as penas que estavam em sua testa, cingidas pela maskapaycha, entre seus dois filhos, Huascar e Atahualpa, o que teria  precipitado o final do Império.

Essa lenda é muito linda e também muito triste; também muito mágica.
Pode ser lida em:
Maximiliano Rendon, "Leyendas del Valle Sagrado de los Incas y otros Estudios”, Cusco, 1960



 
                                                               

1.26.2011

RUMIÑAHUI - O GENERAL DO OLHO DE PEDRA




"No ano de 1985 o Congresso Equatoriano determinou que o dia primeiro de dezembro de cada ano fosse um dia de lembrar Rumiñahui como herói e defensor do Reino de Quito."

Rumiñahui, em quéchua, significa " olho de pedra ". Certamente, além das referências históricas, que exaltam sua atitude firme contra os espanhóis, na Batalha de Monte Chimborazo, fora sempre um dos melhores guerreiros, senão o melhor, do exército de Atahualpa. 


Nascido em Pillaro, na atual província de Tungurahua, no Equador, com o nome de Pillahuaso, morreu no dia 25 de junho de 1535, após haver liderado a resistência contra os espanhóis, no norte do Império Inca ( atual Equador), em 1533. Assumiu a resistência, com mão de ferro, depois do assassinato de Atahualpa, pelos espanhóis, em Cajamarca. Os historiadores tendem a crer que tenha sido meio-irmão de Atahualpa, filho de alguma nobre, de Quito, com o Inca Huayna Capac.


Quando Francisco Pizarro prendeu Atahualpa, exigindo o resgate, Rumiñahui, prontamente, marchou para Cajamarca, levando uma grande quantidade de ouro mas, como se sabe, os espanhóis quebraram a palavra e Atahualpa foi morto antes que ele chegasse lá, o que fez com que voltasse a Quito, escondendo o tesouro, como já foi dito, anteriormente, na região de Llanganates.


Tomando conhecimento da resistência de Rumiñahui, Francisco Pizarro enviou seu lugar-tenente, Sebastián de Benalcázar, para tomar Quito e trazer todo o ouro que pudesse ser conseguido. As forças de Rumiñahui e Benalcázar se encontraram na Batalha de Monte Chimborazo, onde Rumiñahui foi derrotado. No entanto, antes que as forças espanholas invadissem Quito, Rumiñahui ordenou que fosse queimada até o chão, e que, as ñustas (virgens do templo) fossem mortas para preservar sua honra. Rumiñahui foi, finalmente, capturado, torturado e morto pelos espanhóis, mas nunca revelou a localização do tesouro.


Como general dos exércitos de Cuzco, Rumiñahui é lembrado por ter participado, em várias campanhas, nas quais ele pode secundar o próprio Atahuallpa e, constantemente, o acompanhava. Com a morte de Huayna Capac a aproximação entre os dois foi, naturalmente, ainda maior, seja pela experiência vivida, seja pela precipitação dos acontecimentos futuros. 

Rumiñahui teve intensa participação na guerra civil, movida por Atahualpa ao seu irmão, legítimo Inca de Cusco, Huascar Inca, mantendo estreito contato com seu líder. No início das hostilidades, esteve presente nos confrontos mais importantes, ao lado de Quizquiz e Chalcochima mas, quando a área de operações foi transferida para a capital Inca, ele foi designado para proteger a retaguarda. Desse modo, encontrava-se em Cajamarca no terrível momento da captura de Atahualpa. 
Ao que parece, o experiente general quis atacar os espanhóis no momento de sua chegada; Atahualpa, no entanto, preferiu não fazê-lo. Rumiñahui permaneceu, então, acampado fora da cidade com um exército armado de cinco mil soldados.
Historiadores e leigos (e eu) deparam-se com uma única questão que, ao que parece, jamais será respondida. 










Por que, então, Rumiñahui não moveu o seu exército e destruiu os espanhóis, naquele momento? (minha pergunta de quinhentos anos)



Podemos inferir que a férrea disciplina militar incaica não permitiria que ele tomasse uma tal decisão sozinho, o que o fez esperar pela decisão de Atahualpa, mesmo em poder dos espanhóis. Em segundo lugar, por causa da rapidez da ação e da confusão causada, uma interferência sua poderia atentar contra a integridade física do Inca que, naquele momento, encontrava-se preso bem no meio dos inimigos e da matança.
Quando a derrota Inca foi, claramente, exposta, Rumiñahui ordenou a retirada do exército para Quito, sem sofrer nenhuma perda.


Durante o cativeiro de Atahualpa, limitou-se a controlar a presença espanhola, enquanto a coleta do tesouro para o resgate era supervisionada, pessoalmente, por Quilliscache, irmão do Inca. Com a morte de Atahualpa, Rumiñahui percebeu que os espanhóis chegariam até os territórios e preparou-se para agir. Encontrou a oposição de Quilliscache que preferia usar de diplomacia com os estrangeiros que já haviam dado provas de invencibilidade.


Revoltado com a fraqueza do herdeiro legítimo de Atahualpa, decidiu agir. Com o pretexto de um banquete em homenagem póstuma ao Inca, reuniu todos os parentes de Atahualpa e seus fiéis e, no meio da reunião, prendeu todo mundo. Antes de nomear-se Senhor de Quito, matou a Quilliscache, considerando-o um traidor da terra de seus antepassados. Os cronistas espanhóis fazem um relato macabro dessa morte, o que prefiro não compactuar, pois também haviam dito que ele matara todos os filhos de Atahualpa nessa ocasião, o que não procede, visto que, depois, apareceram vivos.


Inicialmente, as forças espanholas só podiam contar com as tropas de Banalcazar que, por conta própria, aventurara-se na conquista do território do norte, cego pela possibilidade de encontrar ouro, pois era dito que haveria, ali, em grande quantidade.
O lugar-tenente de Pizarro, acompanhado de Almagro, veio, logo, juntar-se a ele, com poucos homens, no sentido de fazê-lo voltar à razão. Paulatinamente, esse contingente foi reforçado com a chegada de Don Pedro de Alvarado, conquistador do México, que havia alcançado os Andes, a partir de Puerto Viejo, deixando, atrás de si, um número impressionante de vítimas. Mesmo Rumiñahui não estava sozinho. O exército de Zope-Zopahua e o de Quizquiz, vindo da região de Cusco, vieram juntar-se a ele. Os três exércitos operavam, separadamente, o que teria facilitado aos espanhóis combatê-los, um a um, com vantagens estratégicas.


No entanto, o que teria definido o conflito, fora a presença dos Cañari, que se aliaram aos invasores. Antigos inimigos do povo de Quito, acreditaram poder aproveitar-se da ocasião para derrotar seus "opressores" e obter liberdade. Abasteciam os espanhóis com os suprimentos necessários, encarregavam-se do transporte de bagagens e, na hora da batalha, eram os primeiros a entrar em combate, deixando que os espanhóis interviessem no meio da luta para resolver a situação.


As primeiras batalhas, no entanto, foram acirradas: Teocajas, Ambato, Pancallo e Latacunga foram favoráveis aos exércitos de Quito, que não perdiam terreno. Quizquiz, sozinho, matou quatorze inimigos em uma única luta, obrigando o exército espanhol a recuar. No entanto, um estranho fato fez com que fosse morto por seus próprios homens que queriam um estado de guerrilha.
Rumiñahui organizou táticas para lidar com os cavalos: buracos no chão cobertos por galhos e folhas, para impedir o avanço deles, mas, os Cañari seguiam na frente, desmantelando as armadilhas.


Quando os espanhóis, finalmente, entraram em Quito, encontraram-na incendiada e abandonada. Perseguidos pela cavalaria, os guerreiros de Quito fizeram verdadeiros malabarismos, no entanto, estavam acostumados a batalhas rápidas, enquanto os estrangeiros a longas campanhas. As deserções cresceram, dia após dia, e Rumiñahui foi forçado a deixar a área, perseguido pelos inimigos. Restava-lhe um punhado de homens; o líder invencível tentou, ainda uma vez, a fuga mas, depois de uma terrível luta, foi feito prisioneiro. Pouco depois, Zope-Zopahua, também, caiu prisioneiro, aparentemente abandonado pelos seus e forçado a entregar-se. Rumiñahui e os outros foram submetidos a tortura, mas não revelaram nada. Vendo que seus esforços eram inúteis, os espanhóis decidiram pela sua morte e, em 25 de junho de 1535, Rumiñahui, Zopa-Zopahua, Quingalumba, Razorazo e Sina foram executados, de forma bárbara.




Rumiñahui, no Equador, é considerado "defensor de Quito", herói nacional e, sobre ele, muitas obras foram escritas. 




1) Llescas, segundo cronistas espanhóis.









 

QHAPAQ ÑAN - O CAMINHO DO GRANDE SENHOR.






"O jovem estacou, arfando algum cansaço, enquanto tentava suspirar e respirar, ao mesmo tempo. A visão dos Andes assolou seus sentidos, com mais força ainda, sufocando-o completamente. Experimentado em muitos caminhos, soltou a bicicleta, olhando seus companheiros, lá em baixo, e arfou de novo. 'Não, definitivamente, não existe nada parecido com isso.' Subira um pouco mais que os outros, conduzindo a bike com cuidado, arriscando-se, às vezes, para espiar. 

Haviam rodado uma centena de metros e chegado ao sopé de uma montanha e, depois de alguns minutos, depois de alguns arbustos, o monte de rochas cinzentas, desordenadamente arranjadas pela mão do tempo, anunciava, uns metros mais acima, o Qhapac Ñan, o Caminho Real (1), como uma fina linha cinzenta, subindo pelos penhascos, como todos tinham visto, perplexos, desde a quietude da estrada. 

Lembrou-se de tudo o que lera sobre o Caminho e constatou que palavras jamais poderiam descrevê-lo. Nenhum ser humano poderia descrever a emoção da descoberta. Foi como voltar quinhentos anos no tempo; foi como ver o ir e vir da Civilização da América. Sentiu um pouco de inveja de não pertencer a tudo isso e, então, pensou, 'estou aqui!'. Gritou para os companheiros que acenaram, sorrindo, de volta, cheios de entusiasmo e alegria. 

Então, galgou, com força e segurança, os metros que o separavam do Qhapac Ñan. Pisou nele com a reverência de quem começa a voltar para casa. Gritou, 'ah!' com toda a força de seus pulmões, quase com raiva, misturando todos os sentimentos em um mesmo pacote. Não pensou nos rapazes, lá embaixo, esqueceu-se de tudo o que vivera até ali. Seus pés estavam, finalmente, sobre o Caminho do Grande Senhor."






A partir da praça de Wakaypata, que delimitava a dualidade da cidade de Cusco em Hanan e Hurin (Alto e Baixo Cusco), confluíam os quatro caminhos incas, pois a cidade era o centro de convergência da Rede Viária do Qhapac Ñan. Este, com suas confluências, foi a chave de toda a organização social e espacial da vida Inca, além de agregar funções administrativas, econômicas, políticas, religiosas e, também, bélicas. A partir do Qhapac Ñan, toda uma rede de caminhos secundários, igualmente importantes, ligava, completamente, o Tahuantinsuyo.


Pavimentadas com pedras, apesar da concepção das estradas não ter um padrão único e, sim, adaptado à geografia de cada região, elas foram feitas para durar. A largura das estradas também varia: em algumas áreas chega a ter 15 metros, em outras, atinge um metro e meio, para poder flanquear algumas ravinas ou barrancos. Ao longo de toda a rede viária, a cada vinte quilômetros, ou segundo a necessidade, havia construções chamadas tambos (2). 
Esses tambos podiam acomodar os transeuntes e viajantes, além de armazenar alimentos, grãos e roupas. O exército imperial Inca, quando em campanha, também, servia-se desses tambos. O Qhapaq Ñan foi a base para o desenvolvimento do Tahuantinsuyo e sua consolidação como Império -  se estendia até o norte da Argentina, norte do Chile, Bolívia, todo o Peru e Equador, chegando ao sul da Colômbia. Unindo selva, serra e litoral, o caminho andino, que se desdobrava em todo um sistema de estradas e pontes, com um intenso tráfego de pessoas, animais e mercadorias, deixou de cumprir seu papel original assumindo seu lugar na História, como parte integrante da Cultura do Planeta.


O Caminho Principal possuía cinco mil e duzentos quilômetros e ia de Quito (Equador) até Cusco (Peru), e terminava no que é hoje Tucumán, na Argentina, cruzando montanhas e colinas, com alturas de mais de cinco mil metros. 


O Caminho da Costa, paralelo ao mar, possuía quatro mil quilômetros e ligava-se ao Qhapac Ñan através de várias conexões. Tanto este quanto a Via Costeira possuíam uma largura máxima de quatro metros.
São quatro as principais estradas. A primeira ia de Cusco (Peru) até Quito (Equador) e Pasto (Colômbia). A segunda estrada ia de Cusco para Nazca (centro do Perú) e Tumbes ( fronteira entre Perú e Equador). Uma terceira estrada principal ia de Cusco a Chuquiabo (Bolívia). E a quarta via levava de Cusco para Arica (Chile), com ramificações até o rio Maule (Chile) e San Miguel de Tucumán (Argentina).


O Qhapac Ñan tornou-se um caminho mítico e o símbolo de toda a grande Civilização da Antiga América do Sul, passando a representar, no coração dos que o buscam nos dias atuais, um sentido mais espiritual, mais fluido, mais imaginário, do que representava para o povo Inca em sua realidade cotidiana. O que era material assume, hoje, um caráter espiritual e aventureiro - unindo o passado ao presente, através de seu pavimento de pedras cinzentas; transportando-nos, de volta, às origens de uma América tão pouco compreendida.

Construído durante o auge do Império, no século XV, era seu traço de união e vetor de intercâmbio e circulação, irrigando-o com vida, conduzindo, diariamente, pessoas de todas as "classes", como militares, comerciantes, artesãos e... os chasquis. Estes, eram mensageiros que, revezando-se a cada cinco quilômetros, corriam pelas estradas, para levar toda espécie de mensagens, o que permitia que elas chegassem o mais rápido possível ao seu destino.


A cada sete quilômetros havia um Pukara (3) que controlava o movimento das estradas, a cada vinte quilômetros, um tambo, e a cada cinquenta quilômetros, chegava-se a uma cidade importante. Até hoje, mesmo através de caminhos menos preservados, pode-se chegar a todos os grandes lugares de cerimonial pré-colombianos, tais como Chavin de Huantar, Tihuanaku, Machu Picchu, Vale Sagrado do Urubamba, às grandes cidades do Império como Tumebamba e Cusco, numerosas ruínas de edifícios militares, comunidades rurais e centros urbanos, cidades coloniais históricas, como Ingarpica, Cuenca, Cajamarca y Tarma. Concomitantemente, pode-se, até mesmo, chegar a sítios arqueológicos de outras culturas pré-colombianas como a dos Cañaris, Mochica, Chimu.


Especificamente em Cajamarca, palco triste do que representou o "fim" do Tahuantinsuyo, com a prisão e morte de Atahualpa, o Qhapaq Ñan do Chinchaysuyo percorre a região, longitudinalmente, com caminhos secundários, transversais, o que faz com que Cajamarca esteja entrecortada de antigas estradas. 

De norte a sul o Qhapac Ñan, vindo de Huamachuco até Cajabamba, passando por Cauday, baixando ao río Crisnejas, subindo até Chancay pela subida do Inca, dali passando Ichocán, San Marcos, Namora, contornando a lagoa de Sulluscocha até chegar aos Banhos do Inca (Pultumarca, local favorito de Atahualpa), atravessando la zona de Shaullo. 

Dos Banhos do Inca, o caminho conduz a Cajamarca e, dalí, até Rumichaca, depois Incatambo (San Pablo), subindo, outra vez, até o noroeste, até Chancay Baños (Santa Cruz) passando pela área de Pucará antes de cruzar, várias vezes, la ravina de Huancabamba para alcançar, depois, Caxas e Ayabaca, em Piura. Completando, ainda existem vestígios desses caminhos de Cajamarca a Hualgayoc, a Bambamarca e a Celendín, na estrada para Chachapoyas. Há, ainda, um caminho transversal partindo de Huancabamba, em Piura, que passa por San Ignacio e Jaén, em Cajamarca, indo em direção a Kuelap em Chachapoyas. Outros, ainda, ligando Cajamarca à costa pelo vale de Chicama em La Libertad ou pelo vale de Jequetepeque até Lambayeque.




Ainda que os especialistas no assunto comparem o Qhapac Ñan à rede de estrada do antigo Império Romano, particularmente, creio eu que não possa haver comparação possível, visto que foi construído nas alturas dos Andes, chegando a cinco mil metros acima do nível do mar, com todas as dificuldades que a obra de engenharia teve de enfrentar para sua realização. É, definitivamente, uma das grandes maravilhas do mundo, atravessando quinze ecorregiões diferentes, quatro delas ameaçadas de extinção ( Yungas Peruanas, os Cerrados Secos do Marañón, o Matagal Chileno e a Selva de Inverno do Chile.





O "Qhapaq Ñan", O Grande Caminho Inca, que estendia suas veias através de suas estradas e trilhas, ao longo de quarenta mil quilômetros, unindo os Andes - montanhas, litoral e selva foi declarado pela Unesco, em 21 de junho de 2014, Patrimônio Mundial da Humanidade.
O reconhecimento permitirá financiamento de organizações internacionais para a conservação e a restauração dos caminhos e santuários erguidos em torno da via.

Na Bolívia,  há dois trechos desse caminho: o caminho "Takesi" e a rota do "El Choro". O primeiro se estende por setenta quilômetros e o segundo, por noventa quilômetros, ambos ao norte de La Paz.
Infelizmente, há  trechos descobertos em mal estado de conservação e muitos foram destruídos; alguns chegaram a ser usados por caminhões da atividade de mineração.

No Peru, o caminho teve vários setores afetados por agricultores e autoridades. Em Chachapoyas, na selva central peruana, foi destruído para que fosse construída uma trilha com espaço para veículos usados na mineração.



(1) Caminho Principal (ou Real).


(2) em Quéchua, significa descanso.


(3) Posto Fortificado, Aduaneira.









                                                                     

1.24.2011

A ESTÓRIA E O VERDADEIRO INCA.



Detalhe central do mural da "historia del Qosqo"( por Juan Bravo), para o município de Cusco: a figura central é Pachacutec, como reconhecimento ao iniciador da expansão inca, a organização do Tahuantinsuyo e o legado que dura até hoje.


A Lenda do Amor Rebelde.


Essa estória de um autor anônimo deve ter servido para embalar muito sono de criança mas, como todas as lendas, servem para lições e para manter a memória viva. Não é diferente do que acreditar no Mapinguay, por exemplo, um enorme e corpulento animal, de um só olho e com as patas traseiras de boi terminadas em garras; a única maneira de destruí-lo seria cortando-lhe o olho. Para exemplificar o que digo, basta pensar na lenda do Chullachaqui, demônio da selva, criado pelos padres espanhóis para obrigar os Incas e os povos andinos a batizarem-se na igreja católica; ele aparece a todas as pessoas que não crêem em Deus e que não estão batizadas.


Bem, desse modo, leiam com bondade o conto de fadas que usei para ilustrar, de forma inversa, o que foi uma Civilização que pautava pelo cumprimento do dever de cada um para que os direitos de todos pudessem existir.



Ollantay:  Rebelião por Amor. 
  
Conta-se que o capitão Ollanta (ou Ollantay) apaixonara-se por Cusi-Coyllur, filha do Inca Pachacutec. Ao pedir a mão da princesa e ter seu pedido negado, revoltou-se, trancando-se em uma fortaleza. No entando, desse amor, a princesa Cusi-Coyllur dá à luz uma filha e o Inca Pachacutec morre de indignação e vergonha. 

O príncipe herdeiro, então, vinga-se, sitiando Ollanta e encerrando sua irmã em uma prisão. Depois de muitos anos, quando o Inca, finalmente, consegue a rendição da fortaleza, Hima-Sumac, filha do capitão e da princesa, intercede pelos dois, obtendo  perdão para ele e a libertação da mãe. 

Não que um Inca não pudesse apaixonar-se ou que não estivesse, enquanto ser humano, sujeito a isso. Mas, como disse, anteriormente, a estrutura do Tahuantinsuyo era uma verdadeira "máquina", com perfeitos encaixes, que não davam margem a atos  ¨desvairados¨. Em primeiro lugar, havia um respeito muito grande pela sociedade como um todo - ainda que ela fosse uma princesa, ninguém colocaria o Império em perigo por amor; a menos que ele não fosse Inca, o que não é o caso. 

Todos no Tahuantinsuyo sabiam qual era o seu lugar e o ocupavam com propriedade, era isso que garantia, sem ser preciso a força das armas, o funcionamento perfeito da "máquina"; era o que proporcionava vida em abundância, prosperidade e fartura para todos. 

Também, nenhum Inca, muito menos Pachacutec, iria morrer de indignação ou vergonha. Antes, uma outra solução prática qualquer teria sido aplicada com referência ao tal capitão. 
Não  teriam perdido tantos anos, nem investido tanto, para sitiar uma fortaleza inútil, que não traria benefícios ao Império, nem acrescentaria nada a ele. Um Inca tinha suas responsabilidades, tinha também regras a seguir, não tomava decisões que não levassem a um bem comum - para isso contava com as Panacas, famílias nobres tradicionais que o circundavam, mesmo a sua prória Panaca; e todas elas ainda teriam de ouvir as múmias de seus ancestrais para tomar decisões. Isso era uma prática diária no Tahuantinsuyo. 

E, depois de tudo isso, dizer que a filha dos dois teria conseguido obter o perdão, seria ultrapassar a loucura em si mesma. Viver no Tahuantinsuyo era uma dádiva; muitos povos, quando conquistados, por vezes sem a força de armas,  aceitavam fazer parte do Império, pois sabiam que isso era garantia de fartas colheitas e uma vida cheia de benefícios; benefícios esses que eram iguais para todos. As crianças, ao nascer, recebiam um "topo" de terra, o que lhes garantiria o sustento através da vida; os jovens, ao casar, recebiam ajuda para construir sua casa - ninguém ficava ao relento. Quando alguém morria, o "topo" voltava para o Estado para ser doado a outro recém-nascido. 

Para finalizar, trata-se de Pachacutec (Pachakutiq). Nada mais, nada menos do que o iniciador do Tahuantinsuyo. Sua figura representa o início de toda uma época de transição e reestruturação da sociedade Inca, uma etapa de mudanças que continuaria, depois de sua morte, em 1471, com seu filho,  Tupac Yupanqui e seu neto, Huayna Capac. Foi ele quem, realmente, transformou o Tahuantinsuyo em um Império. 

Sua visão de Estadista e guerreiro conquistou muitas etnias e estados, expandindo seus domínios, sendo considerado um líder excepcional. Muitos hinos e épicos seriam cantados e contados sobre ele, como tributos a seus feitos.

Pachacutec, "aquele que muda o rumo da terra".

"... e os tais senhores caciques saíram de lá bem onde estava Wiracocha Inca e contaram a ele como o Inca Yupanqui os mandou ali para ver em que eram servidos, que eles o serviriam; e como Virachoca Inca os viu na sua frente e tão grande multidão de senhores e de tanto poder, regozijou-se muito daquilo (...) Depois de distribuir copos de chicha e porções de coca para eles, Viracocha Inca pôs-se de pé e considerando que, desde que seu filho mandara aqueles senhores e eles tanto o amavam e o queriam como senhor, era justo que ele também os encorajasse nisto. Fez-lhes uma certa oração, pela qual lhes agradeceu o que fizeram por ele e por seu filho, e que já sabiam (.. .) que até então tinha sido senhor de Cusco, e que saiu de lá por motivos que o moveram para isso; e que a partir de então Inca Yupanqui, seu filho,  seria  senhor da cidade de Cusco ”. Retirado de "Suma y Narración de los Incas", cronista Juan de Betanzos.


Ainda quando não havia sido designado como sucessor por seu pai, Wiracocha Inca, no momento em que este e seu filho Inca Urco, saíram da Capital, diante da iminência de um ataque mortal e sob terrível ameaça dos Chancas, tomou a si a tarefa de proteger a cidade e a vitória sobre eles fez com que Wiracocha o reconhecesse como sucessor em 1438. 


Implantou o sistema de mitmakuna, ou mitimaes -traslados- em todo o Tahuantinsuyo: eram grupos de pessoas enviadas pelo Estado a qualquer ponto conquistado pelo Inca, a fim de realizar tarefas específicas de coesão. Colonizavam, ensinavam as técnicas e modos de produção cusquenhos, ou seja, da capital Cusco, ensinavam leis e costumes, divulgavam a religião dos Incas. Também controlavam as populações recém-incorporadas ao Tahuantinsuyo, produzindo os elementos básicos para cobrir suas necessidades, reproduzindo traços culturais para incorporá-los ao todo.

Com o aumento do Império, cresceu a demanda de alimentos, moradias e necessidades básicas, pelo que Pachacutec investiu em uma série de obras de construção, como a formação de novos bairros , novas praças, etc. Além  disso fez transformações na área agrícola, intensificando a produção, graças à criação de canais para melhor distribuição de água, bem como todo um novo sistema de armazenamento e a construção de plataformas - andenes - que eram terraços para plantio. Remanejou áreas, ao redor de Cusco, para que fossem utilizadas como sementeiras, relocando seus moradores, transferindo-os para outros lugares igualmente férteis.

Reedificou o Templo do Sol, tranformando-o, de um humilde lugar de culto ao Sol a um suntuoso templo que passou a ser conhecido como Qoricancha (Templo de Ouro).
Foi quem organizou o Império em quatro regiôes, ou suyos (Tawantinsuyo - as quatro regiões), tendo como centro a cidade de Cusco, o umbigo, ou centro do mundo: a leste, Antisuyo, a oeste Contisuyo, ao norte o Chinchaysuyo e, ao sul, o Collasuyo. 


Diversas crônicas afirman que foi tambén um grande administrador, planificador, filósofo, observador da psicología humana e carismático general. Juan Díez de Betanzos em sua "Suma y Narración de los Incas" (1551) diz que Pachacutec foi um jovem íntegro, "muito virtuoso, gostava muito de ajudar os pobres¨.



                                    Monumento a Pachacutec em Aguas Calientes, 
                                              perto de Machu Picchu, no Perú.






1.23.2011

PIRERAYEN - LENDA DA FLOR DE GELO !!!







Na noite alta aparece Pirerayen, a flor do gelo, que perde suas pétalas com os primeiros raios do sol. No gelo, surgem as pequenas flores vermelhas, com a forma de um coração no centro mas, se alguém chegar, nesse exato momento, pensará que uma pessoa ferida teria caminhado, sangrando, desde a ponte de gelo até o paredão norte da lagoa que cai sobre as águas geladas. 

Por detrás do morro "La Corona"(a Coroa), o mais alto da "Cordilheira do Vento", encontra-se uma pequena lagoa, encaixada entre os morros, que dá origem ao arroio Huingan Có. Devido à sua altura e encaixe, possui trechos de geleiras eternas que, nem mesmo em anos muito secos derretem e durante a maior parte do ano a lagoa permanece congelada. Quando ocorre o degelo, no final da primavera, na nascente do arroio, uma ponte de gelo vai se formando que se estende em um túnel de mais de uma centena de metros morro abaixo.

Certa vez, a bela Millameulén (vento de ouro) disse ao seu amado Huilliman (condor do sul), que só casaria com ele se ele conseguisse a flor mais bela e rara encontrada no alto da Cordilheira. Como seu amado não voltava, Millameulén seguiu suas pegadas disformes na neve até chegar à ponte de gelo na nascente do arroio Huingan Có. 

Alí, notou que as pegadas se transformavam em uma linha vermelha, como sangue e, inclinando-se para olhar, pode observar que eram umas pequenas flores vermelhas que, apenas, se destacavam do gelo. Cortou uma flor e a aproximou dos lábios, chorando por seu amado perdido Huilliman. Com seu beijo apaixonado, um coração totalmente branco como a neve formou-se no centro da flor. Compreendeu, então, que, seu amado, ao não encontrar uma flor digna de seu amor, convertera-se, ele mesmo, na flor mais rara, espetacular e bela da Cordilheira.

Para mostrar, ainda mais, seu amor, quando a menina começou a regressar, todas as flores murcharam, exceto a que levava presa em seu cabelo escuro. Pirerayen, a flor do gelo, é muito procurada pelos apaixonados, pois conta-se que devolve o amor perdido e fortalece o amor enfraquecido. 


Para os mais aventureiros e exploradores, Huingan-Có oferece visitas guiadas a pontos turísticos do lugar que exigem mais esforço, e o caminho não é tão simples quanto os outros.
Entre os lugares para conhecer-se, com um guia, destaca-se La Corona, que tem uma subida de cerca de 2.992 metros acima do nível do mar, cinco horas de caminhada em ritmo acelerado para chegar ao cume.

Para chegar ao local onde o passeio começa, deve-se tomar a estrada que leva para o bosque. Dessa maneira, chega-se ao setor de embarque para a trilha que conduz ao cume.
Durante o passeio pode-se apreciar a incrível paisagem que rodeia a Cordilheira do Vento e, a poucos metros do topo, a pequena lagoa, citada na lenda; rodeada por neves eternas, de onde nasce o Huingan Có. De lá de cima, uma vista panorâmica do local, com suas lagoas, rios e a majestosa Cordilheira dos Andes.
Outra visita guiada é o Monumento Cañada Molina, acessado pela Rota Provincial 39, a uns sete quilômetros da localidade de Huingan-Có, a mil e seiscentos metros do nível do mar.
A área possui uma superfície de cinquenta hectares e é um local destinado a proteger as relíquias de ciprestes de cerca de mil e duzentos anos de idade.

Por fim, os petróglifos de Colo Michi Có, lugar único em toda a Patagônia e América do Sul, considerado um dos locais mais importantes de arte rupestre.
Encontra-se o lugar viajando pela Rota Provincial 39, que se conecta à cidade de Varvarco. Os petroglifos estão a mil oitocentos e noventa metros acima do nível do mar e o local é composto por seiscentos blocos gravados; segundo estudos foram realizados por volta do ano 500 dC e têm um caráter religioso. Em todos os passeios recomenda-se um guia.











QUINARA - O TESOURO DO INCA.








Quinara. Os moradores relatam a caminhada de sete mil Incas que carregavam o tesouro dos Templos do Sol, do reino de Quito, indo por essas trilhas, habilmente construídas, com destino a Cajamarca: ouro para o resgate de Atahualpa. 
Quando um grito de dor ecoou pelas terras do Tahuantinsuyo: "Chaupi punchapi rutayaca!”, “Anoiteceu ao meio dia! - grito que, desde a cidade de Cajamarca se estendeu pela terra. Com a notícia da morte de Atahualpa, Quinara, capitão de seu exército, enterrou, no próprio vale que estavam atravessando, o ouro que levava, daí surgindo o nome do lugar.

O Vale de Quinara está situado a uns cinquenta quilômetros a sudoeste da cidade de Loja, no Equador. O lindo lugar é explorado, turisticamente, misturando a beleza das flores exóticas a construções coloniais transformadas em hospedarias. Chega-se a Quinara através dos vales de Malacatos e Vilcabamba. 


De Loja podemos pegar um ônibus no terminal rodoviário ou um táxi-ruta, que transportam turistas até a cidade. De carro, os turistas têm duas opções: ou a estrada Loja - Vilcabamba - Masanamaca - Quinara, a uma hora de distância; ou a estrada Loja - Vilcabamba - Linderos - Tumianuma - Quinara, que leva uma hora e meia. O Pilar do Inca, as Pilastras do Inca e a Caverna do Inca, são lugares para se visitar. 


Quinara está a 1.300 metros acima do nível do mar e tem uma temperatura média de 21  graus centígrados. O  vale é  um lugar  ideal para  se  viver: clima  temperado,  ar fresco, alimentos orgânicos que permitem aos moradores uma vida longa e tranquila; um deles  tem mais  de cento  e  doze  anos (no momento em que escrevi essas informações) tendo  passado sua  vida rachando lenha e plantando; comendo, apenas os alimentos que produzia...

Esse clima bucólico embala uma das lendas mais tradicionais do lugar, muito contada pelos moradores das velhas casas de fazenda do povoado. Ainda restam as pedras removidas em escavações realizadas pelos caçadores de tesouro. A lenda do tesouro perdido começa em Quinara, onde empresários nacionais e estrangeiros tentaram desenterrar o ouro de Atahualpa que, segundo relatos, está em algum lugar do Vale banhado pelo rio Piscobamba. 

Até ali chegaram muitos historiadores que afirmam que "el mascarón", uma rocha de três faces, marca o lugar onde o tesouro está enterrado. A rocha está como base de uma antiga casa de fazenda, cujo proprietário tinha a fama de possuir uma parte do cobiçado tesouro que, no entanto, não teria sido encontrado na totalidade.

O primeiro dono do imóvel foi Amador Eguiguren e depois de sua morte, seu filho Manuel Enrique. Anos mais tarde, com a reforma agrária, a fazenda foi dividida, sendo que, logo depois, Manuel também faleceu.
Os vestígios das escavações realizadas ainda permanecem no local, de onde Huasaque é um dos setores mais revirados: no conglomerado existem várias esculturas forjadas pela ação do tempo. 

É só falar com um dos habitantes para descobrir a história dos "siete huangos"( sete peças de ouro) ou carregamentos de ouro enterrados em Quinara, percorrendo a velha Trilha Inca que passava pela Tuna, o Pico Azul e o Charalapo, todos lugares assim chamados em homenagem aos Incas. 

Quinara, estava bem perto de Cajamarca, já passara Cuxibamba e agora estava superando Vilcabamba (Wilcopamba), quando surge a notícia do assassinato de seu Imperador. Ele descarrega a enorme carga de ouro que transportava, definindo um ponto concêntrico equidistante a um comprimento de som de apito a partir das três faces da rocha em três montanhas que cercam o vale sob as dobras da serra. 
Nesse ponto específico, ele enterra o tesouro, juntamente com as llamas. Antes devolver o ouro a Pacha Mama, do que aos traiçoeiros espanhóis.




                                                                            

1.22.2011

A CORRENTE DE HUASCAR E O TESOURO DE ATAHUALPA

 





Conta a História, com o aval de dezenas de registros de cronistas espanhóis e mestiços dos  primeiros  anos  da  Conquista,  que  o  Inca   Huayna  Capac,  no  apogeu  de  seu governo,   quando  o   império   havia  expandido  ao máximo  seus  domínios,  mandou fabricar   uma "waska" ( corda ou corrente,  da  qual  deriva  o  nome  Huascar )  -  de uns  200 metros  de  comprimento (1) com a grossura de um punho de homem, coberta de  placas  de  ouro  articuladas  simulando  as   escamas  de  uma  pele de  cobra cintilando  ao  sol. Nessa  época, Cusco  brilhava  com  seus  telhados  de  ouro  e com  placas  do   mesmo   metal   que   revestiam   as   paredes   de  seus  edifícios. (2)


A corrente de ouro foi mostrada, pela primeira vez, em uma festa na qual o primogênito recebeu seu nome, na Capital do Império, circundando toda a Praça Aucaypata, erguida pelas mãos dos nobres. Em meio a cânticos e hinos ao Sol, o futuro herdeiro do trono foi apresentado, em uma espécie de cerimônia de batismo ou "sutichay" para, futuramente, ser coroado como Huascar Inca, no momento da morte de Huayna Capac. 


Huascar Inca chegou a ocupar, no curto tempo de seu governo, o Palácio de Amaru Cancha, em Cusco (atual Universidade de Cusco, Capela de Lourdes e o Templo da Companhía de Jesus); nesse palácio, em uma sala sagrada, era guardada a corrente: a dos amarus ou serpentes. 
É possível que, com a guerra dos dois irmãos, Huascar e Atahualpa, a corrente tenha sido levada para Quito (3), ou como parte do resgate de Atahualpa ou, ainda, levada pela família do Inca ao fugir da cidade (rumo a Paititi).


Mas, onde, afinal, estaria escondida a corrente? 


Há relatos de que, ao saber-se da invasão espanhola e sua cobiça por ouro (tão desmedida era essa sede de ouro que, entre os andinos, criou-se a lenda de que os espanhóis alimentavam-se de ouro e prata em lugar de comida) (4), uma ordem foi dada para que se escondesse a corrente e que isso pode ter sido feito em uma lagoa, Canincunca (Q'oyllururmana), também chamada lagoa de Urcos. Desde então, tanto durante a época colonial quanto agora, todos a têm procurado; dezenas de empresas particulares já tentaram drenar a lagoa, sem sucesso, em busca da mítica corrente de ouro; alguns arqueólogos tentaram, pela última vez, há poucos anos. 

Como se sabe, os conquistadores não cumpriram a promessa de libertar Atahualpa, caso o resgate em ouro fosse pago, assassinando o prisioneiro soberano Inca antes mesmo que o resgate em ouro fosse pago. As noticias transitavam, com rapidez, através do Império. Como resultado, o incessante envio de ouro e prata parou e, nesse ponto da história a lenda do tesouro de Atahualpa começa a nascer... Em Cajamarca, Pizarro e em Pachacamac, seu irmão Hernando, reuniam o cobiçado ouro mas, a maior parte das riquezas nunca chegou. Apesar de todo o ouro que usurparam, havia muito mais...


                                            
 General Rumiñahui




Um dos principais comandantes do exército de Atahualpa era Rumiñahui, que havia nascido em Quito, no ano de 1486, e que muitos historiadores asseguram ter sido meio-irmão de Atahualpa, ou seja, filho do Inca Huayna Capac. Nesse momento da história, Rumiñahui lutava contra Sebastián de Benalcázar, que fora encarregado de marchar contra ele. Sebastián havia enviado um mensageiro com uma cruz e uma oferta de paz - o cadáver fora devolvido, como resposta. Rumiñahui havia visto, em Cajamarca, um símbolo igual, nas mãos de um monge sinistro que acompanhava Pizarro. 

Rumiñahui reune, então, seus soldados e incita-os a lutar. Pode-se imaginar sua voz forte alertando-os contra esse inimigo, astucioso, que mentia e enganava por ouro, que estuprava mulheres e confiscava terras. Fortalecidos pela necessidade de combater por suas vidas e pelas vidas de suas mulheres e filhos, saem ao encontro dos usurpadores nas planícies de Tiocajas.

Apesar do lugar favorecer o inimigo - os espanhóis podiam movimentar-se, com facilidade, com seus cavalos, nessas planícies - e de ter, este mesmo inimigo, feito uma aliança com o povo Cañari, o que reforçava seu efetivo estrangeiro, os homens de Rumiñahui conseguem anular seu poder de força e, cada vez que matam um cavalo, cortam-lhe a cabeça para mostrar que, por sua vez, estes são mortais. 

Uma terrível batalha, que parava ao anoitecer, ao cair do sol, e continuava no dia seguinte, era travada e as planícies começavam a tornarem-se cheias de armadilhas para os espanhóis com seus cavalos, cobrindo-se de sangue e morte.
Ao que parece, alguém ensina a Benalcázar um caminho seguro para fugir até Riobamba. Rumiñahui decide, então, atacar a cidade. Na hora do ataque, o vulcão Tungurahua entra em erupção. Em meio ao caos, enquanto as pessoas fugiam, aterradas, indefesas sob a chuva incandescente, os espanhóis matavam-nas, sem piedade.

Rumiñahui retira-se, então, com seus soldados, até Ambato. Dalí, segue para Quito, onde tratará de abrigar os feridos e, no caminho, esconde o tesouro de Atahualpa na região sul de Sigsig, no sopé da cordilheira oriental dos Llanganates.







A VOLTA DO FANTASMA DE RUMIÑAHUI
NOTÍCIA RECENTE!!


(Serviço Informativo Iberoamericano - outubro de 1999)
O acidente de um helicóptero, no qual viajavam quatro arqueólogos, no sul do Equador, revelou que buscavam o ouro do imperador Inca Atahualpa, que foi escondido, há vários séculos, em um local nunca revelado. 

Os cientistas pertencem a um grupo de quatorze pesquisadores da Associação dos Pesquisadores da Marinha das Índias e do Instituto de Arqueologia Náutica da Universidade do Texas e da Fundação Widam que, desde novembro de 1998 realizam pesquisas sobre o famoso tesouro.

Os pesquisadores, desde essa época, vivem na área mais ao sul de Sigsig, no sopé da Cordilheira Oriental ou Llanganates, onde presume-se que o guerreiro Inca Rumiñahui tenha escondido o ouro no Reino de Quito, o que seria o pagamento de resgate de seu irmão, o imperador Atahualpa, assassinado pelos espanhóis em Cajamarca.


Os arqueólogos acreditam que, embora exista um pouco de lenda, de fato, há elementos verossímeis e uma boa possibilidade de que o ouro esteja na área de Sigsig, onde também estão estudando vestígios antropológicos e arqueológicos.
O chefe da missão, Michael Paret, disse que, após investigação no Archivo das Indias, em Sevilha, descobriu a história de Ayllón (Sigsig) e da "lagoa encantada", na qual, aparentemente, poderiam estar escondidos os objetos de ouro que iriam servir como resgate de Atahualpa.

Paret afirma que, de acordo com o estudo realizado no Museu da Índia e com base em comparações de escritos sobre o tesouro, ele existe. ''Pode ter-se criado uma lenda em torno dele, como sempre acontece com fatos históricos como esses mas, o fato ocorreu e o ouro deve estar em algum lugar. Está provado que os escritos que se referem ao resgate de Atahualpa são noventa por cento verdadeiros.''

O primeiro passo da pesquisa foi encontrar evidências de restos humanos, da época, no fundo do lago Sigsig mas, enquanto realizavam as investigações, foram surpreendidos por um grupo de mineiros que extraem ouro no lugar, de forma artesanal, que quiseram expulsá-los por pensarem tratar-se de mineiros estrangeiros. Isso obrigou-os a solicitar proteção às autoridades locais e a contratar um helicóptero, para que, concluída a primeira fase, pudessem deixar o local sem ter de passar pela área de mineração. No entanto, apenas quatro conseguiram sair porque, na segunda viagem, enquanto viajava de Sigsig para Gualaceo, o helicóptero acidentou-se devido a uma rajada de vento que o desestabilizou, atirando-o nas águas da chamada "lagoa encantada". Os quatro arqueólogos americanos, feridos, conseguiram salvar-se.

Para alguns moradores locais, o acidente foi causado pelo espírito de Rumiñahui, que não permitirá que o segredo seja descoberto. Rafaela Curuchumpi, uma das moradoras da área, acredita que não se deva brincar com os fantasmas dos antepassados, o que pode trazer má sorte. "Por que procurar um tesouro que, seguramente, foi levado pela lagoa e é protegido pelos bravos guerreiros de Rumiñahui. Essa ambição pode ser muito negativa", disse ela.


Outro expedicionário famoso foi Ralf Blomberg , nascido na Suecia, em 11 de novembro de 1912. Foi explorador, escritor, fotógrafo e cineasta. Faleceu no Equador em 1996. Realizou 6 perigosas expedições em busca do tesouro escondido por Rumiñahui. Sua obra mais importante foi Guld att hämta ( Oro enterrado y anacondas) , Gebers, Estocolmo, 1956. Também produziu  dois documentários sobre o mesmo tema: Jakt på Inkaguld ( En busca del Oro Inca) Rolf Blomberg & Torgny Anderberg Formato: 16mm Ano: 1969.
(por Kintto Lucas, Correspondente do Serviço Informativo Iberoamericano da OEI, Quito, Equador)




(1) Alguns autores chegam a afirmar 700 pés. 


(2) talvez através do túnel que saía desde o Qoricancha (Templo do Sol), em Cusco e que levava até Quito (Equador), a existência desse túnel ainda está sendo pesquisada por arqueólogos.

(3) “Temos absoluta certeza - diz o cronista Cieza - de que nem em Jerusalém, nem em Roma, nem na Pérsia, nem em qualquer parte do mundo, por qualquer república ou rei do mundo, havia tanta riqueza de metais de ouro e prata e pedras preciosas reunida em um só lugar como nesta praça de Cuzco ". (cronista Pedro Cieza de Leon, La Cronica del Peru).

(4)  Poma de Ayala , Nueva Crónica, l6l5, pág. 369,370


 BIBLIOGRAFIA


1) Eliade, Mircea, "El mito del eterno retorno", Ed Alianza, 2000 
2) Pease, Franklin, "Los últimos Incas del Cuzco", Alianza, l99l


ver também: Rivero y Tschudi, Antigüedades peruanas p. 213). (Citado por Memorias sobre las antigüedades neogranadinas : Uricoechea Ezequiel) 


OBSERVAÇÃO: Esta foi uma de minhas primeiras pesquisas e eu, ainda, acreditava que o povo remanescente que ocupa toda a região andina fosse, de alguma forma, Inca. Não é verdade. Os Incas estão, infelizmente, extintos. Afinal, precisamos fazer uma diferenciação entre os Incas e os povos que eram 'incas' por agregação, vivendo com o povo Inca, obedecendo suas leis e participando como se lhe pertencesse, porém, sem ser, verdadeiramente, Inca. Os Incas casavam-se uns com os outros, sem misturar-se, pois isso era necessário por serem Intipchurin, Filhos do Sol. 
Como em todas as postagens que eu escrevo este assunto é retomado e explicado, não vou me estender aqui. Portanto, todos os povos andinos, que falam Quechua e Aymara não são Incas, embora continuem, guardando, como podem, o que restou de memória, cultura e, principalmente, segredos. 

Valorosos guardiães do tesouro Inca que precisa ser preservado para a volta dos Filhos do Sol, como  acredita-se que ocorrerá proximamente. Essa volta só pode ser entendida quando nós compreendemos o que significa ser Inca e acreditamos que eles sejam mesmo os Filhos do Sol e analisamos o milagre de sua presença na Terra. Assim, como um dia, do nada, eles chegaram como duas crianças divinas para iniciar uma Nação, deverão voltar para retomar sua tarefa, depois dos últimos quinhentos anos de 'inversão dos mundo'. Mas, essa é uma outra história...