No comando de uma expedição espanhola de três navios, destinada ao Oriente, Sebastião (Sebastiano) Caboto (filho de Giovanni Caboto (John Cabot)) tomou a decisão de desviar-se de sua rota obrigatória, em 1526, para explorar o rio da Prata e seus tributários, o Paraguai e o Uruguai, seduzido por notícias de riquezas fabulosas e Cidades Perdidas. De volta à Europa, foi preso e desterrado para a África, sendo, depois, reabilitado pelo rei de Espanha.
Várias expedições espanholas detiveram-se no litoral catarinense a caminho do Rio da Prata: Don Rodrigo de Acuña, em 1525, deixou dezessete tripulantes na ilha, onde se fixaram, voluntariamente. Sebastião Caboto, em 1526, abasteceu-se lá, de onde seguiu para o Prata e retornou. Após Caboto, nela aportaram Diego García e, em 1535, Gonzalo de Mendoza. Em 1541, Álvar Núñez Cabeza de Vaca partiu da ilha de Santa Catarina para transpor a Serra do Mar e atingir por terra o Paraguai.
Bem, o mais significativo para nós, nesta leitura de aventuras por ouro, foi, mesmo, Sebastião Caboto que, no comando de uma expedição espanhola destinada ao Oriente, "repentinamente" desviou-a para explorar o rio da Prata, o Paraguai e o Uruguai. Chegou ao litoral catarinense em 1526 e, ao publicar seus mapas referentes àquela expedição, denominou a Ilha de Santa Catarina de "Porto dos Patos". Mas o nome de Santa Catarina, dado à ilha, apareceu, pela primeira vez, em 1529, no mapa-mundi de Diego Ribeiro. Há divergências quanto a quem se atribuir a denominação de Santa Catarina.
Sebastião Caboto, navegador italiano a serviço da Coroa de Espanha, em 3 de abril de 1526, zarpou de Cádis com o objetivo de chegar às Molucas, ilhas onde se produziam as especiarias, navegando para o Ocidente. Ao aportar perto da atual Florianópolis para abastecer os navios, soube das histórias sobre as minas de prata do Império Inca, e resolveu mudar de planos. Fundeou na Baía de Tijucas e adentrou pelo rio com o propósito de mapear a região.
Se bem que santa Catarina de Alexandria seja a padroeira oficial do estado brasileiro de Santa Catarina, Sebastião Caboto, que passou quatro meses no litoral catarinense, preparando embarcações leves, antes de partir para o rio da Prata, em 15 de fevereiro de 1527, teria batizado a ilha, em frente à qual estivera ancorado, com o nome de "Santa Catalina". Era uma forma de homenagear a própria esposa, Catalina Medrano, sob o pretexto de reverenciar a santa italiana (Santa Catarina de Siena). Assim, dona Catalina acabou virando nome de ilha, num continente em que jamais pisara.
Vamos à mistura de lenda e realidade, no coração dos aventureiros, na busca por ouro...
Candiré...
Na verdade, ao pesquisar as cidades perdidas da América do Sul, cheguei a conclusão de que não é possível separar as histórias dessas cidades perdidas porque todas elas originam-se de uma única, a cidade dos Incas, Paikikin, em espanhol Paititi.
Paititi é uma cidade lendária, supostamente oculta a leste dos Andes, em alguma parte da selva tropical do sudeste do Peru (Madre de Diós), assim como tantos outros nomes, de tantas outras cidades lendárias, em um enorme raio, no interior do continente. A nordeste da Bolivia (Bení ou Pando) ou noroeste do Brasil (Acre, Rondônia ou Mato Grosso), a capital de um reino chamado Moxos (em castelhano, Mojos) governado por um soberano conhecido como Gran Moxo, descendente de um irmão mais novo de Huascar e Atahualpa (Imperadores Incas). Como se pode ver, o "El Dorado" é o mesmo, e seus significados, tanto material quanto espiritual, se confundem, no mesmo brilho que ofusca os corações, cheios de amor ou cobiça, em todas as épocas - a cidade perdida "de ouro e luz"...
Outros nomes dados à cidade oculta, em alguma parte do sul da Amazônia, ou norte do Prata, incluem Waipite, Mairubi, Enim, Ambaya, Telan, Yunculo, Conlara, Ruparupa, Picora, Linlín, Tierra dos Musus, Los Caracaraes, Tierra de los Chunchos, Chunguri, Zenú, Meta, Macatoa, Niawa, Dodoiba, Supayurca ou...
Candiré...
O mito é semelhante ao de Manoa ou Eldorado, uma cidade cheia de riquezas que teria servido de refúgio aos Incas escapando da invasão espanhola, embora pareça localizar-se muito mais ao norte, entre a Colômbia e as Guianas. Todos os mitos que tratam dessas cidades perdidas têm origem comum no sonho dos "conquistadores" de enriquecer repetindo a façanha de Francisco Pizarro, o destruidor do povo inca, e parecem ter-se influenciado, mutuamente.
O nome da suposta cidade perdida já foi escrito como Paititi, Paitite, Paykikin, Paiquiquin, Paitití (com acento no último i), Paí Titi (separado) ou Pay Titi. Não se sabe, ao certo, se deriva do Quéchua, apesar das interpretações, forçadas, ou não, que tentam explicar Paykikin como "igual a ele", "como ele" ou "como o outro Cuzco". Na verdade, nunca houve um acordo quanto à etimologia desse nome.
Em uma crônica do século XVII, do padre Diego Felipe de Alcaya, afirma-se que Paitíti deriva de dois vocábulos: "Titi", que significa "chumbo" e "Pay", que significa "aquele".
Na década de 1950, o explorador alemão Hans Ertl fez uma série de escavações na Bolívia, ao norte de La Paz, em um monte que dizia ser chamado pelos índios locais de Paititi. Depois disso publicou um livro, em 1954, segundo o qual "Pai-titi" significa "Duas Colinas" e servia "também para designar a uma legendária cidade incaica".
En 1979, Gottfried Kirchner, outro explorador alemão, publicou a crônica de suas aventuras na Colômbia e refere-se ao termo Paititi dizendo que significa algo similar a "A Pátria do Pai Tigre". Segue o padre Juan Carlos Polentini Wester, que explica, citando o padre Constantino Bayle, que "Paí-Titi" significa "Pai Tigre" o "Pai Jaguar-Otorongo".
O historiador argentino Enrique de Gandía sugeriu outro significado: "(...) "Pai" é "monarca" e "titi", contração de Titicaca, ou seja "Monarca do Titicaca". Na sua opinião, o Paitíti teria sido apenas uma lembrança do templo da ilha do Sol no lago Titicaca e das imponentes cidades Incas.
Origem da Lenda
Em 1515, uma das caravelas da expedição de Juan Díaz de Solis ao atual estuário do Rio da Prata, ao retornar para a Espanha, afastou-se da frota e naufragou perto da Ilha de Santa Catarina; onze de seus marinheiros conseguiram alcançar a costa a nado. Fascinados pelo que ouviram dos índios guaranis, internaram-se na floresta brasileira em busca de um "rei branco" que seria o senhor de um rico império no interior. Doze anos depois, dois dos sobreviventes, inclusive Aleixo García, foram recolhidos pela expedição de Sebastião Caboto, veneziano a serviço da Espanha, com peças de prata que haviam obtido em sua aventura, ao subir os rios da bacia platina. Aleixo Garcia falou com eloquência de uma fabulosa "sierra de la Plata", afirmando que, se eles subissem o rio, poderiam carregar seus navios com ouro e prata.
* Note-se que, em 1515, os Incas eram governados por Huayna Capac, em pleno auge de seu governo, iniciado em 1493, quando tinha cerca de vinte e dois anos. Huáscar (1502-1532), seu filho e sucessor, era, então, muito jovem. Huáscar governou de 1527-1532. Digo isso para traçar um paralelo a fim de determinar que Paititi era uma "realidade" para os Incas e não, apenas, uma lenda criada como esperança depois da morte do último Inca, com a destruição do Império, como crêem aqueles que sobre ela escrevem.
Quebrando seus acordos com a Coroa, que o obrigavam a navegar até as ilhas das Especiarias, na Ásia, Caboto decidiu mudar de direção, subindo o rio Paraná à procura dessas montanhas que dariam seu nome ao Rio da Prata e à própria Argentina. Explorou o rio até as cataratas de Yaciretá-Apipé, que não pôde subir. Fundou o primeiro fortim espanhol na atual Argentina e retornou à Espanha, onde foi julgado e condenado pelo abandono da expedição original. Depois de um ano, foi perdoado e voltou a servir como piloto.
Aleixo Garcia provavelmente chegou às fronteiras do Tawantinsuyu, o Império Inca, que pouco depois seria destruído por Francisco Pizarro, e a Sierra de la Plata, as jazidas de prata de Potosí. Mas, mesmo depois disso, muitos exploradores da região platina não se deram conta de que aquilo que buscavam já havia sido invadido e dominado a partir de outra direção, do norte, e continuaram a acreditar que os rios Paraná e Paraguai ainda levavam a um império rico em ouro e prata a ser conquistado, continuando a procurá-lo por gerações. Bem, pelo menos é o que pensam aqueles que escrevem sobre esse sonho por ouro e prata, ao narrarem sobre esses personagens históricos.
Em 1533, Pizarro havia capturado, de surpresa, o imperador Atahualpa, que lhe propôs um trato. Sobre a parede da sala, onde estava preso, em Cajamarca, traçou uma linha (supostamente até onde alcançava seu braço esticado) e prometeu encher, aquela sala, de ouro e, outra, de prata, até aquela marca, em troca da liberdade. Pizarro aceitou e caravanas de lhamas seguiram para Cajamarca com objetos de ouro e prata mas, quando os generais de Atahualpa ainda, cumpriam o prometido, os espanhóis o julgaram, e executaram, sob várias acusações, inclusive a de ocultar um tesouro. Surgiu, então, a história de que seus súditos, ao saber da notícia, haviam desviado caravanas com esses metais preciosos para um lugar desconhecido, onde esconderam tudo o que puderam. Outro boato dizia que dignitários incas, chamados orelhões, por causa dos brincos enormes que lhes deformavam as orelhas, haviam criado um império secreto no Antisuyu (a região da selva a leste). Daí as buscas ao Paitíti em duas direções: a partir de Cuzco para sudeste e do Paraguai para o norte, gerando a expectativa de uma cidade riquíssima naquela direção.
Primeiras expedições
A primeira expedição em busca de Paititi, a partir do Paraguai, foi organizada por Domingo de Irala, acompanhado por Álvar Núñez Cabeza de Vaca, que empreendeu, entre 1547 e 1549, uma das mais aventureiras buscas por Paitíti, subindo o Paraguai, acompanhado de 350 espanhóis e dois mil índios. A cada etapa se informava sobre o ouro e, os índios, talvez de forma maliciosa, o enviavam para várias direções diferentes. À custa de batalhas, alianças e massacres, acabou por chegar às terras, já conquistadas pelos espanhóis, no Alto Peru (atual Bolívia), sem perceber que se tratava da mesma "Sierra de la Plata" e "Noticia Rica" que procurava.
Irala repetiu a tentativa em 1553, na chamada "mala entrada". Em uma carta de 1550, Irala relata que essas expedições se faziam porque, "segundo a notícia de que adiante tínhamos, a via do norte era muito grande e muito pública. Conforme diziam entre os naturais da terra e índios guaranis da serra, "há grandes riquezas de ouro, um grande senhor e populações". "Esta notícia se divulgou em Quito e no Peru, em Santa Marta e Cartagena... ...o fim da qual não foi encontrada por não se ter dado com o caminho verdadeiro que tenho por certo ser este..."
Com essas entradas, Paitíti começou a ser localizada na região de Moxos (atual departamento de Bení, Bolívia), nos baixos ou cerrados do rio Beni, que inunda as planícies e que os indígenas desaguam, mediante um sofisticado sistema de camellones (montículos para o cultivo da mandioca) e canais.
Esse mito de Paitíti se confunde com o do país de Candire (ou Candiré), procurada a partir de Assunção, Paraguai, por Ñuflo de Chávez em 1557, que se dirigiu à chamada província de Jareyes, ou Xareyes, onde tomou nota de uma serra muito grande que "durava muito e que por uma parte limitava-se com um lago muito grande (lago dos Xaraiés), e da outra parte era uma população muito grande de gente que não tinha mais de um principal, que era senhor de todos e se chamava Candire".
Em 1567, Juan Álvarez de Maldonado fez uma nova tentativa, partindo de Cuzco. Em caso de sucesso, seria recompensado com uma província que englobaria todo o centro da América do Sul, da cordilheira dos Andes até o meridiano de Tordesilhas. Maldonado escolheu a rota fluvial do rio Madre de Diós, afluente do Madeira. Na região chamada pelos naturais do local de Toromonas, o cacique Tarono os recebeu amigavelmente mas, tratava-se de um estratagema. Durante uma ausência de Maldonado, os nativos lançaram um ataque devastador, ao qual sobreviveu apenas um ferreiro, que foi obrigado a trabalhar a serviço dos vencedores.
Outras expedições partiram de Larecaja, no século seguinte, como a de Pedro Leagui Urquiza, em 1614, a de Gonzalo de Solís Holguín, em 1617 e a de Diego Ramírez Carlos e frei Gregorio Bolivar, em 1620. Também nesse ano, um certo Juan Recio de León diz ter localizado Paitíti, com base nos relatos de "três ou quatro índios principais". Para esse reino "se retiraram a maioria dos índios que faltam no Peru". Os nativos teriam lhe dito que, por mar, ou por terra, eles chegavam em quatro dias a uma grande "cocha", o que significa um grande lago, criado por todos esses rios em terras planas, e que há neles numerosas ilhas povoadas com uma quantidade infinita de pessoas; e que eles chamavam o senhor de todas essas ilhas de Gran Paytiti.
Informava também que, seus inimigos ingleses, e holandeses, vendiam facas, machadinhas, cordas e outras ferramentas aos habitantes desse reino: "A maioria deles vai ao Paytite duas ou três vezes ao ano para tentar ali negociar, e é esta razão pela qual têm esses utensílios em seu poder". Vê-se que os espanhóis atribuíam a queda da população em seus domínios - causadas por epidemias, devido à desorganização da produção, à escravização e trabalhos forçados a que os nativos eram submetidos pelos próprios espanhóis - a uma fuga em massa para o Paitíti.
Essas entradas resultaram na fundação de várias povoações, das quais a mais importante veio a ser Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia. O padre espanhol Martín del Barco Centenera, que em 1572 chegou ao Paraguai, sendo nomeado arcediago, compartilhou por 24 anos os sonhos e aventuras dos "conquistadores" (bem como de sua fome de ouro e prata) e traduziu sua experiência em um poema chamado La Argentina y Conquista del Río de la Plata, Tucumán y Otros Sucesos del Perú. No quinto canto, ele se detém sobre o Gran Moxo, señor del Paytite.
Há um mapa do século XVII, no museu eclesiástico de Cuzco, que, supostamente, descreve o país de Paititi e parece identificá-lo com o Paraíso. Ao redor do mapa, puramente simbólico (não indica nomes reais de acidentes geográficos, mas, apenas, "monte" e "rio"), lê-se:
Corazón del corazón, tierra india del Paititi, a cuyas gentes se llama indios: todos los reinos limitan con él, pero él no limita con ninguno. Estos son los reinos del Paititi, donde se tiene el poder de hacer y desear, donde el burgués sólo encontrará comida y el poeta tal vez pueda abrir la puerta cerrada desde antiguo, del más purísimo amor. Aquí puede verse sin atajos el color del canto de los pájaros invisibles.
O marinheiro e escritor Pedro Sarmiento de Gamboa, depois de acompanhar o vice-rei do Peru em uma visita às províncias, escreveu um relato a partir de informações que colheu, sobre uma região a leste da cordilheira onde "corre um rio chamado Paitite".
Em 1635, o padre Diego Felipe de Alcaya escreveu que, após a submissão do Peru pelos espanhóis, o soberano dos incas fugitivos, "levando em conta a configuração do terreno, povoou a vertente sul da montanha chamada Paititi (...) E assim como aqui ele foi o chefe deste reino, El Cuzco, ele é agora o chefe desse grande reino de Paititi, chamado Mojos." Uma carta do vice-rei do Peru à corte de Filipe II informava que "na província de Paititi há minas de ouro prata e âmbar em grande quantidade".
Em 1782, quando Túpac Amaru II liderou uma rebelião contra os colonizadores, a fim de restabelecer o Império Inca, atribuiu-se o título de "Inca, rei do Peru, de Santa Fé, de Quito, do Chile, de Buenos Aires e do continente dos mares do Sul, duque e senhor das Amazonas e do Grande Paititi", mostrando que a lenda, a essa altura já desacreditada pelos espanhóis, começava então a tomar conotações nativistas e nacionalistas.
O mito sobrevive...
Em El Paititi, El Dorado y las Amazonas (1976), o historiador argentino Roberto Levillier defendeu que Paitíti, realmente, existiu e se situava na atual Serra dos Parecis, entre Rondônia e Mato Grosso, tendo seus descendentes depois se dispersado entre as tribos vizinhas, mais tranqüilas a seus olhos que os invasores espanhóis e portugueses.
Também em 1976, o jornalista alemão Karl Brugger publicou As Crônicas de Akakor, nas quais localizava, nas nascentes do Purus, entre o Brasil e o Peru, uma cidade meio subterrânea que teria sido "construída por extraterrestres" e habitada por um povo de pele branca. Relatou que ela teria sido visitada por espanhóis, dando a entender que se trataria da lendária Paititi.
Na zona de Chinchero e Urubamba, nos meios populares de Cuzco e da borda da selva, muitos acreditam, ainda hoje, que Paitíti tenha sido o refúgio dos últimos incas e que seus descendentes permanecem nela, escondidos e afastados do mundo. Sustentam também que alguns privilegiados teriam conseguido comunicar-se com eles, ainda que não saibam, ou não queiram revelar, o lugar exato onde estaria localizada essa cidade quéchua.
Uma parede rochosa coberta de petróglifos, descoberta em Pusharo, no atual Parque Nacional de Manú (Peru), pelo padre Vicente de Cenitagoya, em 1921, tem sido considerada como relacionada a Paitíti, ou mesmo como um mapa que indica sua localização. Há anos, os membros de uma sociedade chamada La Hermandad Blanca, ou Rahma, visitam Pusharo para realizar seus ritos de iniciação e fazer, segundo eles, contacto com extraterrestres.
Segundo os arqueólogos, trata-se de manifestação de uma cultura amazônica pré-incaica, embora a região tenha sido ocupada pelos incas, como mostra a presença de machados de pedra incaicos na região. Não muito longe dali, em uma parte da serra de Paucartambo, chamada pelos índios machiguengas de Mameria ("não há ninguém", em sua língua), foram encontradas ruínas incaicas, aparentemente um complexo de produção de coca, que também têm sido consideradas um "posto avançado" do Grande Paitíti.
A idade dos petróglifos não pôde ser determinada porque as enchentes do rio, que fica próximo, removeram quaisquer restos orgânicos que pudessem ser usados na datação (supõem-se que tenham de mil a dois mil anos).
Arqueólogos uruguaios afirmam ter encontrado o primeiro assentamento colonial na bacia do Prata, estando eles, ainda, em uma etapa de diagnóstico e prospecção, não em fase de escavação propriamente dita. No entanto, em uma primeira etapa, já transferiram para a cidade de Dolores, povoado mais próximo do sítio onde foram feitas as escavações, a mais de 250 quilômetros de Montevidéu, os blocos de terra e ossos, o que exigiu a elaboração de uma cápsula de gesso para o transporte seguro dos achados.
O lugar, no qual o explorador italiano Sebastião Caboto supostamente teria fixado o forte San Salvador, em 1527, encontra-se às margens do rio de mesmo nome, quase na altura da desembocadura, no rio Uruguai, perto da confluência com o Paraná.
Graças à uma mergulhadora, os arqueólogos descobriram, em janeiro passado (2011), sob as águas do San Salvador, os restos de uma embarcação do século XVI, com munição de canhão, cravos e várias cerâmicas.
Sabedores de que, na região, seria possível encontrar o forte San Salvador, exploraram a costa, onde, realmente, encontraram o assentamento no qual Caboto, a serviço da coroa espanhola, havia deixado, durante dois anos, duas embarcações e vários homens, com a finalidade de percorrer o rio Paraná na busca da prata de Potosí.
Desde 1529, quando o navegador e explorador italiano e seus homens retornaram à Espanha, até 1574, o forte permaneceu abandonado. Nesse ano, Juan Ortiz de Zárate fundou a Cidade Zaratina de San Salvador, que também teve uma vida curta.
Até agora, foram localizadas duas sepulturas: uma pré-hispânica e outra ainda indefinida. Existem outras duas e os arqueólogos, entre os quais Aparicio Arcaus, estão convencidos de que poderia chegar a "uma dezena".
Uma das sepulturas é primária, ou seja, mantém-se como foi feita originalmente, e poderia corresponder a grupos nativos que povoaram o lugar antes da chegada dos espanhóis, por conterem objetos típicos.
Segundo Cordero, da Comissão de Patrimônio Cultural da Nação, a zona "é um lugar de ocupação recorrente" desde, pelo menos, o ano mil de nossa era.
A outra, do tipo secundária - o crânio está no centro e os ossos em volta. Segundo explicações dos arqueólogos, o indivíduo, quando morreu, foi colocado de uma forma, depois seus restos foram removidos e enterrados, novamente, de outra forma.
Existem algumas versões de que um capitão de Francisco Pizarro, "conquistador" do Império Inca, teria acabado seus dias em San Salvador, após atravessar o continente. No entanto isso, ainda não foi comprovado.
Também não se pode assegurar que os restos sejam posteriores à chegada de Caboto, o que se pretende determinar a partir do teste de carbono 14.
No museu de Dolores será realizada uma "microescavação" dos blocos de terra e ossos para obter mais informações.
A localização do lugar fica em um terreno, ligeiramente, elevado que permite avistar a passagem de embarcações pelo Rio Uruguai, a cerca de 3 quilômetros de distância.
A posição vantajosa dava, à expedição de Caboto, o controle das vias de entrada ao continente, como afirmam os arqueólogos responsáveis pela pesquisa, o que justificaria a ausência, até o momento, de estruturas com as quais o assentamento foi construído.
Segundo consta, embora com o nome de "forte", as construções eram precárias, de adobe, com tetos de palha e cercados por uma muralha de elementos orgânicos.
*Interessante notar que o termo cabotagem, por exemplo, é derivado do nome de família do navegador veneziano, do século XVI, Giovanni Caboto, que explorou a costa da América do Norte, ao margeá-la, da Flórida à foz do rio São Lourenço, no atual Canadá. Na América do Sul, Sebastião Caboto, o filho, a serviço da Coroa de Espanha, adentrou o rio da Prata, pelo litoral, em 1526, em busca da mítica Serra da Prata, numa expedição que prolonga até 1529, sem lograr êxito. Por causa desses feitos na navegação costeira, e em sua homenagem, a estratégia de navegação, costeando o litoral, recebeu o nome de cabotagem, mais devido ao pai do que ao filho.
*Cabotagem é a navegação realizada em portos de um país pelo litoral ou por vias fluviais. A cabotagem se contrapõe à navegação de longo curso, ou seja, aquela realizada entre portos de diferentes nações.
Para quem quer se aprofundar no assunto, leia-se:
1.Ana María Lorandi, De Quimeras, Rebeliones y Utopias: la gesta del inca Pedro Bohorque. Lima: Fondo Editorial de la PUC del Perú, 1997.
2.Jorge Magasich-Airola e Jean-Marc de Beer, América Mágica: quando a Europa da Renascença pensou estar conquistando o Paraíso. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
3.Fernando Jorge Soto Roland, "El Paititi. Imaginario, realidad y utopía andina"
4.Rainer Hostnig e Raúl Carreño Collatupa, "Pusharo, un sitio rupestre extraordinario en la selva amazónica de Madre de Dios, Perú"